Ontem, debati em Brasília com Plínio de Arruda Sampaio e dois grandes militantes da reforma sanitária no Brasil, na sede da Fiocruz. O debate tinha como tema central "Saúde, Democracia e Desenvolvimento", organizado pelo CEBES. A mesa tinha três questões para dissecar:
1) Desenvolvimento para quê?
2) Qual é a questão democrática que se articula com o desenvolvimento do país?
3) O que podemos fazer para defender o interesse público (ação política)?
Plínio defendeu a exclusividade da saúde pública, exigindo que todos profissionais de saúde fizessem carreira pública. Mas foi uma graça no início do debate que acabou gerando um certo humor ao debate. Plínio fez troça dos termos cristãos que vários médicos sanitaristas historicamente comunistas utilizaram no início da discussão. A partir daí, todos (eu, inclusive) citamos as experiências católicas em algum momento de sua vida e articulamos estas experiências com a construção de uma cultura hegemônica no Brasil.
Sônia Fleury deu o tom para esta discussão e afirmou que o SUS seria uma batalha cultural perdida. Citou, como ilustração, uma recente pesquisa que realizou com usuários dos serviços de saúde. Um dos pesquisados afirmou: "serviço público é assim mesmo". Sonia, ainda, como exemplo de naturalização da relação do serviço público com serviço precário outra constatação: a de que para se ter acesso rápido é preciso ter QI (quem indique). As relações privadas acabam abrindo brechas nas agendas médicas e no atendimento.
Afirmou, ainda, que pobre quer, hoje, plano de saúde para fugir do SUS e escapar de uma das marcas nítidas da pobreza.
Sugeriu, a partir daí, a retomada da aliança do movimento sanitarista com o conjunto de movimentos sociais do país. E, destacou: "precisamos nos associar, novamente, ao sofrimento da população brasileira. Estamos convivendo com a negação de um direito".
Já José Rubens Bonfim (da Sobravime) fez um alerta à medicalização da saúde no Brasil. Destacou que não há avaliação de novos medicamentos em comparação com os resultados obtidos com os já existentes, o que gera uma noção equivocada de inovação de produtos que, muitas vezes, são apenas superiores a um blacebo. E citou recente pesquisa do CREMESP (2009-2010) em que 93% dos médicos entrevistados informaram que ganharam brindes da indústra farmacêutica (85% receberam visitas de vendedores da indústria). O estarrecedor é que 2/3 avaliaram positivamente a relação com a indústria farmacêutica não indicando qualquer análise crítica sobre os produtos recebidos e até os brindes (canetas, chaveiros e outros) que lhe foram ofertados.
Minha fala foi na direção do que venho discutindo neste blog: a) a nova ordem brasileira a partir da adoção do fordismo lulista; b) a criação de paramercados (modelo do Estado Gerencial) como estruturas de gerenciamento da saúde pública; c) a falta de politização e inovação dos 30 mil conselhos de gestão pública existentes no país (incluindo os de saúde) e d) a crise do financiamento da saúde pública.
O debate, que começou às 16h só encerrou às 20h. Um debate como há muito tempo não participava. Desde os anos 1980. Fantástico.
Nos próximos dias, estarei na região de Muriaé, num encontro com lideranças sociais e pastorais da região da Zona da Mata Mineira. Vamos discutir, justamente, o controle social. Fico por lá até domingo. Na segunda, tenho reunião com a Federação dos Comerciários de São Paulo. E na terça estarei no sul de Minas Gerais, desenvolvendo consultorias.
O que lamento é que não pude participar, mais uma vez, do Entre Aspas, da Globonews. Renato e Mônica Waldvogel, sempre muito gentis, queriam que eu discutisse, ontem, as quedas ministeriais e o comando político de Dilma Rousseff. Eu adoraria, mas intuía que o debate na Fiocruz terminaria muito tarde. Dito e feito. Mas continuo na fila.
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