Começa o jogo entre Argentina e Uruguai na Copa América. Dois países que se rivalizam em quase tudo porque são um reflexo quase pleno de seu caráter e ambição. Dizem que os argentinos são dramáticos ou trágicos. É exatamente esta característica que me faz respeitar tanto os argentinos. Porque eles retomam a definição aristotélica do drama e da tragédia. A tragédia como enfrentamento do homem contra os deuses e o destino. Ora, este parece o enfrentamento permanente dos argentinos (e em menor escala, dos uruguaios). Uma reedição permanente do conflito entre criollos (filhos de espanhóis nascidos na América e que formavam uma quase casta superior) e os índios, negros e mestiços (que conformavam a classe trabalhadora). Os criollos, contudo, se debateram eternamente com os chapetones, as autoridades européias, donos de tudo e de todos, superioridade nunca aceita, o que conformou uma cascata de ressentimentos que, vez por outra, dificultaram a formação do espírito nacional. Ora, este é o dilema de toda tragédia como gênero teatral, cuja situação limite sugere o aparecimento do homem superior que enfrentará os tormentos a que foi condenado. Este exagero é a marca da alma argentina.
Tudo isto para confirmar que aquilo que nós, brasileiros, procuramos caracterizar como algo mais próximo da comédia e do exagero, é nada mais que a expressão que o desafio de superação argentina.
(A ilustração se refere à Batalha de Ayacucho, realizada em 1824, o fim das guerras de independência na América do Sul).
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