Anos atrás, fiz um breve estudo para a Fundação João Pinheiro a respeito das mudanças na agricultura mineira a partir da leitura dos censos agropecuários. Um dos sustos que levamos foi o deslocamento acelerado da produção e produtores rurais para o oeste mineiro (Triângulo, Alto Parnaíba e noroeste do Estado), em detrimento de regiões tradicionalmente produtoras (como Zona da Mata, no caso da agricultura familiar, e região sul, famosa pela produção de café e leite). Vivemos, neste momento, outra mudança na paisagem produtiva do Estado. Os investimentos chineses no norte e sul do Estado já se fazem sentir. O jornal Estado de Minas (de 26 de junho) revela que o Norte de Minas Gerais está ultrapassando regiões mais ricas como o Sul de Minas e Triângulo Mineiro em volume de investimentos privados. A região é a segunda do ranking estadual de recursos anunciados por empresas nos últimos 12 meses para implantação ou expansão de negócios.O levantamento foi feito com base nos protocolos de investimentos firmados pelas empresas. Um dos municípios que está se beneficiando dos investimentos destinados ao Norte mineiro é Capitão Enéas com cerca de 15 mil habitantes. A cidade vive um novo momento com a chegada da indústria de calçados de segurança Marluvas, inaugurada em maio, com a perspectiva de gerar inicialmente 400 empregos e de chegar a 1,2 mil postos de trabalho até o fim do ano. O investimento é da ordem de R$ 12 milhões.
Esta nova realidade pode significar a constituição de novos pólos de investimentos, mais descentralizados, como já ocorre em outros Estados, como São Paulo. Contudo, o que me preocupa é a total falta de planejamento para mitigar os impactos sociais e de demanda de infraestrutura social que tal mudança vai impondo. Temo que os investimentos produtivos, somados à sana de construção de casas populares e outras obras que alteram a ocupação territorial em muitas cidades brasileiras, criem nova desorganização urbana como ocorreu nos anos 1970 e 1980.
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