sábado, 30 de abril de 2011

Minha experiência com Rui Falcão


O novo presidente do PT é um antigo conhecido. Quando eu era do governo Erundina, a prefeita e a Secretária Aldaísa Sposati me solicitaram resolver um imbróglio envolvendo a administração regional de Pinheiros e o diretório zonal do PT daquela região. O diretório zonal era dirigido por Paulo de Tarso Venceslau e a administração regional por Cid Barbosa. As negociações foram duras e difíceis. Mas chegamos a um ponto comum. Paulo de Tarso solicitou, corretamente, que eu selasse o acordo com Rui Falcão, presidente do PT municipal. Fui até o Falcão. Apresentei todo processo e o acordo final. E ouvi algo que me irritou profundamente. Falcão disse: "não há problema. Sou paciente. Erundina ainda vai comer aqui (e mostrou a palma de sua mão)".
Este é o "delicado" Rui Falcão. Dilma tem motivos de sobra para se preocupar com um falcão na direção do PT.

Já prá casa, Delúbio!


A direção nacional do PT aceitou a refiliação de Delúbio. Ok. Mas fica a dúvida: o que ele acrescenta ao partido? Ou a pergunta seria: o que ele dificultaria estando de fora?
Porque ninguém em sã consciência imagina que sua recondução ao partido é uma premiação ao bom senso e seria festejada por quem não é petista. Mesmo boa parte dos petistas deve engolir seco. Pelo twitter li um post que dizia: "agora vem o PIG para criticar a volta do Delúbio". Ora, tal vaticínio é uma defesa, não? A grande imprensa simplesmente vai ignorar esta notícia? Ou vai elogiar? É uma espécie de tapa com luva de aço, não?
Daí a pergunta: o que Delúbio acrescenta de tão importante ao partido?
E logo quando Dutra deixa a direção do partido, magoado por não ter galgado um cargo de projeção no governo Dilma. E substituído pelo duríssimo Rui Falcão, com quem Dilma tem diferenças sérias.

A matéria do IG sobre o MST


MST não dá trégua a Dilma e faz 70 invasões no "Abril Vermelho"
No 1º ano de Lula, movimento fez 23 invasões. Mas, diferente de Lula, Dilma encontra um MST enfraquecido

Daniel Cassol, iG Rio Grande do Sul

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) terminou o “Abril Vermelho” de 2011, o primeiro sob o governo de Dilma Rousseff (PT), com um número de invasões de terra bem maior do que as realizadas no primeiro ano de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A retomada das invasões, contudo, não esconde uma das principais características deste "Abril Vermelho": a redução do número de famílias acampadas. Segundo o balanço divulgado pelo próprio movimento, o “Abril Vermelho” deste ano registrou 70 invasões de terra em 10 Estados. A comparação com o levantamento realizado anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), tradicional aliada do movimento, mostra que o MST não concedeu “trégua” à presidenta em seu primeiro ano de governo, como fez com Lula em 2003. Naquele ano, o movimento comandou 23 invasões.

Ano 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Abril 23 92 47 31 66 64 33 74 70
(Comissão Pastoral da Terra)

Com base nos relatórios anuais da CPT, o iG analisou as mobilizações do MST realizadas no mês de abril, quando o movimento lembra a morte de 19 sem terra no massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, em 1996. A comparação começou em 2003, primeiro ano do governo Lula, até 2011, no primeiro ano do governo Dilma.
Em 2004, após um período de “trégua” a Lula, o MST realizou 92 invasões de propriedades rurais em 18 Estados durante o “Abril Vermelho”, com a participação de quase 20 mil famílias. O número foi caindo a cada ano, chegando a 33 ações em abril de 2009, quando pouco mais de cinco mil famílias participaram das mobilizações.
Do ano passado para cá, porém, o ritmo de invasões de terra durante a jornada de abril mostrou uma recuperação. Foram 74 em 2010, com nove mil famílias, e alcançaram 70 neste ano, segundo informações do MST. Não existe uma informação precisa sobre o número de famílias envolvidas em 2011.
Para a integrante da coordenação nacional da CPT, Isolete Wichinieski, ainda não é possível falar em retomada das ações do MST, mas as 70 invasões anunciadas pelo movimento indicam que 2011 vai superar 2010, quando os movimentos rurais realizaram apenas 180 invasões em todo o período, o menor número da década. “Não sei se há uma retomada das mobilizações, mas há um investimento maior nas ocupações. Os dados do ano passado revelaram uma diminuição das ocupações. Mas todo início de governo tem uma pressão maior para que as pautas dos movimentos sociais sejam incluídas”, avalia Isolete.
Famílias
Apesar de uma aparente retomada das invasões de terra registradas neste “Abril Vermelho”, o MST, assim como outros movimentos de luta pela terra, enfrenta a redução do número de famílias dispostas a viver em acampamentos à espera de um assentamento. Estimativas apontam que o número de famílias acampadas, que esteve entre 150 mil e 200 mil no início do governo Lula, caiu para 75 mil atualmente.
As dificuldades de mobilização estão expressas no número de invasões. Nos últimos anos, o auge das invasões no Brasil foi registrado no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em todo o ano de 1998, o MST e os demais movimentos realizaram o recorde de 599 invasões. No ano seguinte, foram 593.
Durante o governo Lula, os movimentos sociais conseguiram fazer 496 invasões de terra em 2004 e 437 em 2005, mas depois o número caiu drasticamente, chegando a 180 no ano passado.
Isolete Wichinieski, da CPT, acredita que o MST venha conseguindo manter o mesmo número de famílias acampadas, após a queda brusca. O problema estaria na adesão de novas famílias, principalmente nas periferias urbanas, beneficiadas pelos programas do governo federal.
“Houve uma diminuição no número de novos assentamentos, mas o MST continuou mantendo o mesmo número de famílias acampadas que tinha antes. O que não tem são novas famílias. Hoje é mais difícil mobilizar as comunidades urbanas. Há o aumento de renda, a diminuição do desemprego, melhores oportunidades e programas como o Bolsa Família. Além disso, como está mais difícil assentar famílias, e muitas delas chegam a ficar de sete a oito anos acampadas, isso repercute no número de famílias envolvidas na luta pela terra”, explica.
Sociólogo vê tendência ao esvaziamento
As ações do “Abril Vermelho” representam uma demonstração de forças do MST antes da negociação dos recursos do Plano Safra, que ocorrem anualmente de maio a junho. Em relação a novas desapropriações de terra, no entanto, pouco conseguem influenciar. A avaliação é do sociólogo Rudá Ricci, pesquisador das questões relacionadas aos movimentos sociais. Ele reforça que a chegada do grosso da população à classe média interfere na tradicional base social do MST, movimento que tende ao esvaziamento e poderia se tornar “residual” nos próximos anos.
“O MST vive uma situação difícil e contraditória. Difícil, porque sua base social, que é a pobreza e a miséria rurais, vêm se extinguindo, via Bolsa Família, aposentadorias e pleno emprego nas periferias. Isso retira o apelo da luta pela terra. Contradição, porque o MST vive muito do repasse de verbas públicas, como as centrais sindicais. Pode até fazer pressão, mas é uma situação delicada”, diz o sociólogo.
Autor de um livro que analisa as relações do “lulismo” com os movimentos sociais, Rudá Ricci acredita que a política de conciliação de interesses desencadeada por Lula não dá espaço para a execução da reforma agrária. De um lado, as políticas sociais retiraram milhões de brasileiros da miséria e o MST perdeu sua base social. De outro, a aliança com o setor empresarial, que é proprietários de terra, inviabilizaria uma política de reforma agrária.
“Não há espaço para reforma agrária nesse modelo. E a Dilma não está desmontando esse modelo. Há um pacto no país. O lulismo é uma conciliação de interesses, e não uma plataforma de esquerda”, destaca o sociólogo. “No governo Dilma, não vai ter reforma agrária, pode ter certeza absoluta”, completa.
Para Ruda Ricci, a tendência é que o MST se torne um movimento “residual” nos próximos cinco anos, muito em função de uma estratégia de esvaziamento executada pelo governo federal. “O governo Lula não teve nenhuma proximidade com o MST, nem a Dilma. Não chega a ser um combate ao movimento, mas um esvaziamento”, analisa.
Em entrevista ao iG, a integrante da direção nacional do MST, Marina dos Santos, afasta a relação direta entre o aumento da renda e a diminuição do número de sem terra. “Não podemos ser economicistas e fazer uma relação direta entre esses fatores e o número de famílias acampadas. Claro que esses fatores têm influência, mas há outros elementos. O mais importante é a lentidão da reforma agrária, que deixa as famílias sem motivação para acampar”, rebate.
Questionada sobre sua avaliação dos oito anos de Lula, Marina respondeu: "No primeiro ano do governo Lula estava em construção o Plano Nacional de Reforma Agrária, que não foi cumprido. O plano já existe e cabe ao governo executar, mas a reforma agrária está emperrada. Nos oito anos do governo Lula, a reforma agrária não foi prioridade. Infelizmente, o governo colocou em primeiro plano o agronegócio".
Ela diz esperar que, sob Dilma, isso mude: "O governo Dilma tem condições melhores de avançar na reforma agrária. As forças sociais da classe trabalhadora tiveram um peso grande na eleição de Dilma e na base social que sustenta as medidas populares do governo. Se essas forças sociais mantiverem um grau de unidade e fizerem lutas sociais, vamos conseguir avançar em várias áreas importantes".

A sobrevivência do MST

Ontem fui entrevistado por Daniel Cassol, do IG, sobre a retomada das ocupações do MST. Publicarei a matéria num próximo post. Continuo insistindo que o MST vive seu ocaso e mesmo o aumento de ocupações neste abril vermelho (70 ocupações) estão abaixo dos anos de ouro. Foi um brutal esforço dos dirigentes para demonstrar força neste início de gestão Dilma.
Os dados populacionais e de renda falam mais alto. De acordo com o censo, a população rural perdeu 2 milhões de pessoas entre 2000 e 2010 e, agora, representa 15,6% da população total do país (29,8 milhões de um total de 190,8 milhões).
O ritmo de migração, em virtude dos programas sociais do governo federal, se reduziu aceleradamente. Enfim, a base social do MST diminui e os que ficam no campo, não se arriscarão a enfrentar um batalhão de choque se podem sobreviver por outras fontes.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

First past the Post


A televisão anuncia que o Príncipe William está a caminho da Abadia de Westminster. Na política, o modelo Westminster é exemplo de concentração do poder executivo em gabinetes unipartidários de maioria simples. Um gabinete dominante sobre o parlamento. Tudo em função do "first past the post", que em turfe significa que o primeiro cavalo a cruzar a linha de chegada leva todo o prêmio. Assim, o candidato de um distrito que vencer, mesmo sem maioria de votos, leva o posto. O que faz com que eleitos componham um sistema de desproporcionalidade. Em 1951, o Partido Conservador conseguiu maioria no parlamento mesmo tendo obtido menos votos que o Partido Trabalhista.
Para se sustentar politicamente, o Modelo Westminster se apóia numa clara concertação com grupos de interesse, em especial, sindicais. Somente no governo Thatcher esta concertação não foi respeitada.
Enfiim, não teremos um tão pomposo casamento na Abadia de Westminster. Mas talvez tenhamos um sistema partidária que caminha para ser algo similar ao modelo Westminster. Cada país tem o Westminster que pode.

Mais uma tabela sobre classe média brasileira

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Esgotado é pouco


Ontem falei no 22o Fórum da Undime de MG. Sensacional. Não conseguia descer do palco, o que me emocionou muito. Uma fila de pessoas que queriam falar comigo e tirar fotos ocupava os degraus.
Hoje, falei no encontro das mulheres parlamentares de Santa Catarina. Outro momento daqueles que a gente leva na memória. Deputadas, vereadoras e prefeitas engajadas de todos os partidos. Falei de um possível modo feminino de fazer política. Fui contestado por uma vereadora petista que corretamente me alertou para certo idealismo de minha parte. Ela tinha razão. Não há porque vaticinar o que a mulher na política deve fazer. Mas tenho esperanças delas alterarem nosso modo masculino de atacar tudo e todos, transformando a política num jogo infantil em que os mocinhos devem ganhar dos bandidos com tiros a esmo. Conversamos sobre os dilemas e possibilidades do governo Dilma, da necessidade de criar observatórios sobre a condição da mulher, de criarmos conselhos dos direitos da mulheres nas Câmaras Municipais e... da crise de autonomia orçamentária dos municípios brasileiros.
Estou esgotado, mas com aquela sensação de ter participado de discussões importantes.
Amanhã, converso com a equipe da educação fiscal do Estado de Santa Catarina e em seguida vou para o oeste de São Paulo, onde me reúno com alguns prefeitos, como o Milton, de Presidente Prudente.

Mas que raios acontece no governo Alckmin?


O Estadão de hoje publica entrevista com o maestro Júlio Medaglia que foi demitido pelo até então equlibrado João Sayad em uma conversa de 1 minuto e meio (segundo depoimento do maestro que trabalhava por mais de duas décadas na TV Cultura). Medaglia chuta o balde e diz que será substituído por enlatados dos EUA.
Pergunto: este seria o melhor momento para ele ser demitido? Já não basta a revoada geral de tucanos?

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A revoada do ninho tucano


Começo a ficar muito preocupado. Um país sem oposição forte corteja com o obscurantismo. Sem pluralidade, não se sabe o que ocorre efetivamente nos escaninhos do Estado e nas esferas políticas. Todos governos absolutos trouxeram para seu interior a oposição, sem que se soubesse o que ocorria. Tudo se negocia em salas fechadas.
O governismo que toma conta do país é, assim, preocupante.
Ontem, conversei com vários jornalistas a respeito. Fui entrevistado pelo Valor Econômico, Brasil Econômico e Rede Record. Em todas conversas, expus minha preocupação, mesmo quando o assunto foi o fim do pagamento de hora extra de deputados ou a crise do sistema de metas de desempenho na educação brasileira.
Eis que leio a notícia abaixo, veiculada na coluna de Mônica Bergamo:

Crise no ninho
Mais uma defecção bombástica pode explodir no PSDB: Ricardo Montoro, filho do ex-governador Franco Montoro, manifesta extremo desconforto na legenda. Como Walter Feldman, ele também apoiou a eleição de Gilberto Kassab contra Geraldo Alckmin à prefeitura em 2008. Agora, ocupa o cargo de vice-presidente da Cohab.
Caminho
"Evidentemente não estamos confortáveis no PSDB. Sentimos falta de conversa e de democracia. Está faltando diálogo. Não sou chamado para reuniões e conversas, para me opor ou para concordar."
Questionado se deixará a legenda, ele afirma: "Quero tomar uma atitude prudente. Estou refletindo. Mas que não estou confortável no partido, não estou".

Em tempo: falo, em 40 minutos, no 22o Fórum da UNDIME MG. Secretários de educação de todo Estado presentes. Vou analisar a proposta de lei de responsabilidade educacional. Em seguida, viajo para Florianópolis, onde falo para as vereadoras de todo Estado de Santa Catarina. O tema é o papel da mulher na política brasileira. Na segunda-feira, dia 2, tenho reunião com prefeitos da região oeste de São Paulo. Portanto, vou atualizar o blog somente no início e final do dia. Não me ataquem, pelamordedeus!!

Senador romano

Os personagens em alta

Dois personagens aparecem neste cenário recente de ofensiva lulista: o deputado Rogério Correia e o ator José de Abreu.

Ofensiva lulista acelera fusões partidárias


A declaração de ontem de FHC, sobre a fusão do PSDB com o DEM, desencadeia as discussões públicas sobre a reação dos partidos oposicionistas ao avanço do lulismo sobre o sistema partidário. Não será esta a única fusão. PSDB discute a fusão com PPS. Marina Silva, por seu turno, começa a discutir seu futuro que, mais provavelmente será a saída do PV.
A situação é mais complexa para Aécio Neves. Enfrenta o início de um ataque de artilharia pesada contra seu nome, algo que está absolutamente desacostumado. Cheguei a escrever um artigo a respeito logo no início do seu primeiro mandato como governador: o risco do cala-boca que implantou em Minas Gerais era se desarmar para enfrentar o embate com a oposição. Como dizem os jogadores: uma coisa é treino, outra é jogo real. Sem jogo jogado, o jogador vai se acostumando a situações previsíveis e controladas. Aécio orientou apoiadores a se candidatarem nas últimas eleições por várias siglas que o apoiavam no plano estadual. Mas várias dessas siglas apóiam o lulismo no plano federal. E a ofensiva lulista dos últimos dias coloca todos estes partidos na obrigação de decidir para que santo acendem as velas.
Os operadores da ofensiva estão articulados na internet, no parlamento e nas conversas promovidas no Palácio do Planalto. Assim, a opção fica irresistível.
A questão é: esta ofensiva tem a ver apenas como as eleições de 2012? Ou seria uma ação profilática para medidas mais duras de contenção da alta inflacionária? Em outras palavras: a sinceridade de Dilma a respeito da inflação tupiniquim sugere que se prepara para cortar o crédito que alimenta parte da base social do lulismo? Esta seria a senha para diminuir a canalização de um possível descontentamento que fatalmente surgirá mais à frente?

terça-feira, 26 de abril de 2011

O petróleo nas alturas

Judiciário barra hora extra para deputados

Procurador determina estudo para avaliar o pagamento de bônus a deputados mineiros, depois de o STF ter considerado inconstitucional remuneração de parlamentares no Pará

Isabella Souto, Ezequiel Fagundes e Juliana Cipriani (Estado de Minas)

A remuneração por hora extra na Assembleia Legislativa pode estar com os dias contados. Depois da manifestação do supremo tribunal federal (STF) – que considerou inconstitucional o pagamento a deputados estaduais do Pará por reuniões extraordinárias e convocação pelo Executivo no mês de férias –, o ministério público Estadual (MPE) vai avaliar a legalidade do jeton de R$ 1.002,12 pago aos parlamentares mineiros por cada participação no plenário pela manhã ou à noite.
O procurador-geral de Justiça Alceu José Torres Marques afirmou que vai encaminhar à Coordenadoria de Controle de Constitucionalidade do MP um pedido para análise da ação ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no STF questionando legislação paraense que prevê verba extra para os deputados. E também do pagamento de extras pela Assembleia mineira. “A partir desse estudo, tomarei as medidas cabíveis, se for o caso”, afirmou Marques ao Estado de Minas.
A ação que tramita no Supremo foi ajuizada em dezembro e questiona emenda à Constituição do Pará retornando com o pagamento de extras aos parlamentares – que havia sido extinto em 2006. Relatora da ação, a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha defendeu que deve ser aplicado aos deputados estaduais o mesmo artigo da Constituição Federal que proíbe o pagamento de parcelas indenizatórias aos membros do Congresso Nacional em razão de convocação extraordinária.
O voto da ministra, que concedeu uma medida cautelar suspendendo o benefício até o julgamento do mérito, foi seguido por todos os demais integrantes do STF. O artigo 27 da Constituição Federal determina que o subsídio dos deputados estaduais poderá atingir o máximo de 75% do que é pago aos deputados federais em Brasília. A regra faz ainda uma remissão ao artigo 57 da CF, que veda o pagamento de parcela remuneratória aos parlamentares do Congresso Nacional em caso de convocações extras.
No texto da ação, assinado pelo presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcanti Júnior, ele alegou que os deputados paraenses “retroagiram no processo moralizador que havia proibido o pagamento de parcela adicional” por participação em sessão extraordinária no Legislativo. Na ação, ele questiona tanto o extra por reuniões convocadas pelo Executivo quanto pelos próprios deputados. Segundo a direção da Assembleia Legislativa, em Minas Gerais os deputados estaduais não são remunerados caso o governador os convoque para votações durante o recesso parlamentar. De acordo com o secretário-geral da Mesa Diretora, José Geraldo Prado, o jeton mineiro pago para reuniões extraordinárias em plenário já foi questionado na Justiça estadual, que não encontrou qualquer irregularidade no seu pagamento.
Os mineiros recebem R$ 1.002,12 pela simples presença no plenário em reuniões marcadas pela manhã ou à noite, as chamadas reuniões extraordinárias. O pagamento é limitado a oito sessões mensais, o que lhes dá a possibilidade de somar R$ 8.016,96 ao salário de R$ 20.042,35. Além disso, recebem auxílio-moradia de R$ 2,25 mil mensais. Somente neste ano já foram realizadas nove reuniões extraordinárias, o que custou para os cofres públicos mineiros exatos R$ 604.278,36. Nessas reuniões, os deputados votaram dois requerimentos e cinco vetos do Executivo a leis aprovadas no Legislativo ano passado. Segundo levantamento realizado pela União Nacional dos Legislativos (Unale), os deputados do Acre, Paraíba e Pernambuco também recebem a mais para comparecer ao plenário em reuniões extraordinárias.

ObservaSinos


Vejam a excelente iniciativa da UNISINOS, que criou este Observatório para apoiar o desenvolvimento regional e municípios do Vale dos Sinos: AQUI

Jornais mineiros erram


Fica difícil dizer que a imprensa mineira é livre quando não noticia o fato político mais importante dos últimos dias envolvendo o senador Aécio Neves. A edição desta terça do Hoje em Dia é comete um erro editorial grave: dá uma página inteira para a "reação tucana" ao ataque da oposição. Ocorre que a reação nem começou. E a oposição faz denúncias sobre denúncias, que não recebem espaço no mesmo jornal.
Qualquer manual de redação sugere o inverso: o fato em destaque e o acusado sendo ouvido para se defender.
Tem urubu no céu, uai!

Investimento na educação (OCDE, site Estudando Educação)

Porte de Armas nas escolas brasileiras


Diretores respondendo questão (2007) sobre membros da comunidade escolar que foram pegos portando armas de fogo. Do site Estudando Educação.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A ofensiva lulista


Será preciso mais ilustração sobre a ofensiva lulista sobre o PSDB e DEM ou já basta?
Tento noticiar cada movimento que está desidratando aceleradamente os dois partidos. A leitura é que ao PSDB restam SP e MG e é justamente aí que a ofensiva está se articulando.
Na outra ponta, o PSD de Kassab recebe apoios.
E tem gente que ainda duvida que se trata de ação articulada.

Fundador do PSDB, Walter Feldman deixa partido


Secretário municipal de Esportes e Lazer de São Paulo, Walter Feldman, anunciou nesta segunda-feira a sua saída do PSDB, partido que ele ajudou a fundar. Ele é mais uma baixa dos tucanos na Capital - já perderam seis vereadores.
Na semana passada, José Police Neto, que preside a Câmara Municipal, Dalton Silvano, Juscelino Gadelha, Gilberto Natalini, Ricardo Teixeira e Souza Santos saíram do PSDB e a maioria deve migrar para o PSD, criado recentemente.
Feldman estava no PSDB desde 1988.
A crise das oposições é realmente das mais graves.

Aécio na revista Época

Um email de professora de Ipatinga a respeito de Ipatinga

Email recebido hoje, sobre Sindute de Ipatinga:
Caro Rudá:
Venho acompanhando sua luta e vontade de colocar em "pratos limpos" a situação vergonhosa em que se encontra a diretoria do SindUTe/Ipatinga. Sou filiada a este sindicato a mais de 20 anos. Vi diretores entrarem e sairem ao longo dos anos. tivemos diretores que realmente se comprometeram com a luta da categoria de professores pela categoria. Hoje , os diretores que temos, levantam bandeiras em prol da luta da categoria,mas com os objetivos bem diferentes. são politiqueiros da pior espécie. se degladeiam entre si, são inescrupulosos e quem se opuser a eles, é queimado, difamado e colocado como traidor para a categoria. Mas o que a nossa classe não sabe e muitas vezes, a verdade sobre seus líderes é tão sórdida, que muitos não acreditam quando ela aparece tão transparente a sua frente. Alguns questionamentos que todos deveriam fazer a essa diretoria que se encontra hoje no SindUTE/Ipatinga:Ainda possuímos imóveis no bairro Iguaçu (Eles ainda existem? ) Há quanto tempo não temos boletim de prestação de contas detalhadas (valor pago com aluguéis, carros, combustível, folha de pagamento, diárias ...) Qual o destino da contribuição sindical? O que é feito com esse dinheiro? Onde está o carro que era de propriedade do sindicato? Vendeu? Quem autorizou? Foi em "Assembléia"?
Falo assim por que virou praxe para esses diretores definirem coisas administrativas em assembléias que ninguém vai e sempre aparece lista de presença.
Aos professores que "dobram": Sabiam que a Cida Lima, trabalha em escola estadual no matutino, e é liberada por mais 8 horas pela prefeitura? O sindicato fecha as 18:00. Consegue fazer essa conta de jornada de trabalho? Isso é honesto para uma representante da categoria? A Leida estava na chapa que concorreu as eleições? Não estava. Mas agora deram um jeitinho e ela virou diretora e esta liberada por 8 horas também. Virou bagunça. Feliciana e Márcia leal são aposentadas. Elas recebem o salário de aposentadas e ainda o salário do sindicato? Como é isso?
É Rudá, são muitas perguntas sem respostas. Mas temos que ser otimistas. Esses que nos usam hoje, com certeza não vão conseguir atingir o principal objetivo: A cadeira da Câmara Municipal. Pode-se enganar poucos por pouco tempo, muitos por muito tempo, mas não todos por todo o tempo. Até mais.
Maria Aparecida.

domingo, 24 de abril de 2011

Crise na Bolívia

O modelo chavista vem fazendo água. Recuando, ainda que lentamente. Vejam a notícia abaixo, a respeito do governo Morales, o mais fiel aliado político do governo venezuelano.

Renata Giraldi, Agência Brasil, 14 de abril de 2011
Pelo nono dia consecutivo, o governo da Bolívia enfrenta mais um dia de protestos liderados por profissionais de várias categorias que reivindicam reajuste médio de salário de 15%. As manifestações tomaram conta das principais ruas de La Paz e em algumas delas objetos foram queimados em meio a gritos de guerra, bandeiras da Bolívia e cartazes com críticas ao presidente Evo Morales.
Em reação aos protestos, o governo convocou reuniões extraordinárias e chamou os manifestantes para o diálogo. Paralelamente, o ministro da Casa Civil da Presidência, Oscar Coca, assegurou que os manifestantes não correm risco de perder os empregos. Porém, Coca cobrou deles o fim das paralisações e o retorno ao trabalho. As informações são da agência estatal de notícias a ABI – Agência Boliviana de Informações. Há sete dias, professores, aposentados da zona rural, motoristas de transportes públicos e de caminhões, assim como funcionários do Conselho Nacional de Saúde, protestam na Bolívia. Para o ministro, alguns setores são essenciais e não podem aderir à greve. Segundo ele, o foco está nas reivindicações dos professores e dos funcionários da área de saúde. De acordo com Coca, os trabalhadores da indústria e da mineração retornaram ao trabalho. Ainda hoje, Coca se reúne com dirigentes da Central Obrera Boliviana (COB) – a central sindical de trabalhadores da Bolívia – para avaliar as reivindicações e buscar um acordo.”O governo enviou nota para os dirigentes do COB para retomar o diálogo”, disse o ministro.
Ao longo dos últimos dias, os protestos geraram embates entre manifestantes e policiais. O ministro da Casa Civil da Presidência, Oscar Coca, lamentou o que chamou de “vandalismo” e “ameaças” à ordem. Coca condenou a coordenação das manifestações que é da Central Obrera Boliviana (COB). Segundo ele, ontem (14), na reunião com o governo, os sindicalistas não se dispuseram a buscar o fim do impasse.
Desde a semana passada, professores, aposentados da zona rural, motoristas de transportes públicos e caminhões, assim como funcionários do Conselho Nacional de Saúde protestam na Bolívia. Para o ministro, alguns setores são essenciais e não podem aderir à greve. Os profissionais exigem reajuste médio de 15%, mas o governo Morales sinalizou com 10% para os salários das áreas de educação, saúde, das Forças Armadas e dos policiais. Na conversa com a central dos trabalhadores, Coca lembrou que um aumento mais elevado nos salários afetará o déficit fiscal deste ano, que deve ficar em 4,5%.
As informações são da Agência Boliviana de Informações (ABI). O ministro, que comanda as negociações com a central de trabalhadores, disse que o foco está nas reivindicações dos professores e dos funcionários do setor de saúde. De acordo com Coca, os trabalhadores das áreas da indústria e de mineração retornaram ao trabalho.

No twitter, a Páscoa foi uma guerra só


Os twitteiros petistas/lulistas e tucanos/aecistas são declaradamente ateus. Durante a Páscoa, trocaram acusações pesadas pelo twitter. Chegou um momento que os tucanos/aecistas começaram a se defender. E aí os petistas/lulistas ganharam fôlego e aumentaram a artilharia. A quantidade de acusações e dados envolvendo Aécio já revela que o senador virou o novo alvo.
Na verdade, a briga pelo twitter indica uma ação articulada. Os governistas procuram diminuir consideravelmente os espaços de qualquer oposição. Já a oposição, absolutamente desidratada e vivendo seu pior momento em muitos anos, não consegue emplacar uma agenda positiva. O máximo que consegue fazer é se defender. Mas as acusações atingiram tal volume que sua voz vai se perdendo em meio à gritaria. O que incluiu, hoje, o twitter.

Artigo sobre "conclave porteño"


Achei um artigo meio "teoria conspiratória", mas até pela singularidade achei que valia a pena ler. Nunca havia lido ou ouvido algo a respeito.



Vargas Llosa, América Latina y la participación política

Juan Manuel Karg
Juan Manuel Karg es Licenciado en Ciencia Política UBA / Militante de la Juventud Rebelde - Argentina
Site Rebelión

Se encuentra desde hace algunos días en nuestro país el escritor peruano Mario Vargas Llosa. Si nos guiáramos por los grandes medios de comunicación de la Argentina, deberíamos decir que el arribo de Vargas Llosa a nuestras pampas se debe a la presentación inaugural que realizó en la Feria Internacional del libro de Buenos Aires. Debemos afirmar, además, que la presencia de Vargas Llosa tiene también que ver con la realización de un “conclave porteño” de derechas con ilustres invitados como José María Aznar, Arnold Schwarzenegger, y Carlos Alberto Montaner. Esta reunión, que tomó el nombre “The Populist Challenge to Latin American Liberty”, fue convocada por la Mont Pelerin Society, una institución fundada por Friederich Hayek, uno de los más afamados Chicago Boys. Tal como afirma el politólogo argentino Atilio Borón en una reciente nota de opinión, reuniones como esta “demuestran la agresiva internacionalización de la derecha, bajo la dirección general de Washington, y la importancia que le conceden a la “reconquista” de este continente” [1].
Me interesa, sin embargo, problematizar algunas de las nociones generales que Vargas Llosa planteó en su discurso de la Feria del Libro. En primer lugar su consideración de que “es el liberalismo quien defiende a la libertad: en la política, en la economía, en todos los campos de la vida”, ya que “siempre está el peligro de que el Estado atropelle esos derechos individuales”. Este tipo de argumentaciones han sido repetidas hasta el cansancio en nuestro continente en los años 90` para llevar a cabo una política predatoria y privatizadora de áreas estratégicas de las economías de nuestros países: “el área es deficitaria”, “hay una corrupción generalizada”. Con esa argumentación, la célebre frase de Margaret Thatcher condecoró un programa general en 4 siglas: “TINA, there is no alternative”. No hay alternativa al neoliberalismo. El fin de la historia, al decir de Fukuyama. Sin embargo, los pueblos de Nuestra América, desde 1999 a esta parte, y en mayor o menor medida, han venido planteado un panorama que no se condice con esta idea ahistórica de supremacía neoliberal. El enfrentamiento franco y radical del eje ALBA a la hegemonía estadounidense, con Cuba, Venezuela, Bolivia y Ecuador a la cabeza, muestra que, mal que le pese a Thatcher y sus agoreros –los Vargas Llosa, Aznar y Montaner- si hay alternativa independiente y autónoma respecto a EEUU y el imperialismo.
Es interesante, en este punto, describir el concepto de democracia que permea tras la argumentación del escritor peruano. En su presentación afirmó, sin sonrojarse, que “Hoy día tenemos una izquierda democrática y una derecha democrática en muchos países. Uruguay, México, Brasil, Perú, Salvador, Chile son ejemplo de ello”. El carácter de democracia que Vargas Llosa encuentra en estos países tiene que ver con la idea de mera representación. Un esquema donde la política se hace sólo cada cuatro años (o en el mejor de los casos, cada dos). Mi “libertad individual” pasa por ir al cuarto oscuro, y elegir entre las múltiples opciones alguien que me represente.
Aparece la idea de lo político como algo externo, alejado del conjunto de la sociedad. La política la deben hacer otros, según esta visión. No nosotros. La paradoja se torna más irreverente cuando desde este nicho discursivo se critica, por ejemplo, a procesos que se plantean pasar a una democracia protagónica y participativa. El caso venezolano es el más interesante para trabajar, ya que allí se dan instancias cotidianas del quehacer político, como por ejemplo los Consejos Comunales, con dos leyes -2006 y 2009- que regulan su funcionamiento. ¿Este tipo de consideraciones aparece en algún momento en el discurso de Vargas Llosa? De ninguna manera. Si la crítica permanente al “caudillo” y “antidemocrático” Chávez, quién, paradójicamente, es el presidente contemporáneo que más elecciones disputó y ganó. ¿Puede un “caudillo” crear instancias alternativas al poder estatal, que, en cierta forma, debilitan su propio poder?
Podemos incluso ir un paso más allá y verificar si en algún país de los mencionados como ejemplos democráticos por el escritor peruano ha habido, en el último tiempo, algún proceso constituyente referido a la inclusión de minorías postergadas en los derechos ciudadanos. Este elemento, que si podemos verificar en Bolivia y Venezuela, no es menor ya que da cuenta de una efectiva apertura democrática para actores que no estaban incluidos en el quehacer político heredado del neoliberalismo.
Compartimos, para finalizar, la idea de Vargas Llosa de que en América Latina hemos sufrido “mucha intolerancia, mucho dogma, y la idea de que existe un Dios y una verdad única”. Desde esta parte de Nuestra América sólo podemos afirmar que dicha intolerancia y dogma han venido desde Washington, como bien afirma Atilio Borón. El Dios único del mercado y la sumisión al neoliberalismo –tanto en lo económico como en lo político- sólo produjeron saqueo a nuestras tierras. Afirmamos, sin temor a equivocarnos, que la misión de todas las organizaciones del campo popular de Nuestra América es impedir la “reconquista”, luchando palmo a palmo por la radicalización de los proyectos alternativos y autónomos a la hegemonía yanqui.

Nota:
[1] Borón, Atilio. “La derecha y su fábrica de mentir”. Vease online en: http://www.atilioboron.com/2011/04/la-derecha-y-su-fabrica-de-menti.html

A resposta de Sérgio Abranches sobre o artigo de Martins

Pelo twitter, recebo a seguinte mensagem de Sérgio Abranches sobre o artigo do José de Souza Martins (que publiquei em nota abaixo):
Ele é sempre bom. Respondo à indagação final dele: não.

José de Souza Martins sobre o texto de FHC

Opção pelo emergente
José de Souza Martins*

Publicado em O Estado de S. Paulo
[Caderno Aliás, A Semana Revista],
Domingo, 24 de abril de 2011, p. J3.

Aécio Neves pisou na bola do PSDB, desperdiçando numa contravenção de trânsito o suposto capital político acumulado em cima do muro na recente campanha presidencial. Penalizou o partido inteiro no ato de difícil explicação, porque tocou diretamente nos sentimentos da maioria, que se ressente quando em face de atos dos que se acham mais iguais e acima das obrigações da lei e dos bons costumes. O mais inocente dos políticos dificilmente se recupera, na escala necessária, de deslizes como esse. Não foi melhor para o PSDB a debandada dos vereadores paulistanos que o deixaram nestes dias. Em princípio, não parece nada, dada a pouca relevância que o mandato municipal, seja do PSDB seja do PT, tem tido numa conjuntura política dominada por concepções do grande poder. Os vereadores escaparam para o terreno mais seguro, que lhes é próprio, o do pequeno poder local na lógica de província.
Mas o PT também tem o que temer e penar. A linha ideológica do PT de governo, oposta à do que foi o PT de oposição, vem se revelando gradativamente. Nesta semana, ganhou uma confirmação na posição de Lula, em reunião fechada de seu partido, de que o PT deve buscar alianças à direita, entre os órfãos do malufismo e do quercismo, e deve tentar atrair a “nova classe média”. Uma confirmação de que Fernando Henrique Cardoso, em seu artigo sobre “O papel da oposição”, da semana anterior, acertara na mosca, ao apontar um campo de possibilidades para o PSDB e, portanto, o calcanhar de Aquiles do PT. Lula repõe, assim, na agenda do país, o denso texto de FHC e as ponderações ali contidas, no sentido de que o PSDB deixe de lado a meta de disputar com o PT influência sobre os movimentos sociais, ou o povão. E se dedique à compreensão da nova classe média, a do Brasil que está mudando, e ao diálogo com ela, suas idéias e suas demandas. Na verdade, o artigo do ex-presidente vai muito além da crítica à ação política de conquista do chamado “povão”. Até porque, fica ali claro, “povão” é uma concepção depreciativa da categoria política “povo”. Que Lula não tenha compreendido a distinção subjacente às duas palavras de sentido oposto já é munição para o PSDB enfrentá-lo e enfrentar o PT. “Povo” é categoria relativa ao cidadão, ao sujeito democrático de direito, enquanto “povão”, no subjacente populismo manipulador, é categoria antagônica ao cidadão, porque massa de manobra da demagogia de palanque. É justamente no território dessa diferença que incide, mais do que a opinião de FHC no texto mencionado, a doutrina política que ele encerra e a teoria política que contém. O documento sublinha a centralidade que a vida cotidiana vem crescentemente tendo na política contemporânea e a reformulação do fazer política que ela implica. O terreno da prosperidade ideológica do PT tem sido justamente o do cotidiano e suas carências, cuja rentabilidade eleitoral foi multiplicada pelo acesso ao poder e aos recursos extensamente utilizados para atrelar a sociedade ao Estado e ao partido. Para isso, o PT no governo teve que abdicar progressivamente dos valores de referência que lhe haviam aberto e aplainado o caminho do poder. A diferença na proposição de FHC é que destaca a importância de incorporar o cotidiano, suas necessidades sociais e sua consciência social peculiar, a valores, fazer a articulação que remeta à dimensão histórica do projeto político, isto é, a dimensão transformadora. Portanto, uma trajetória oposta à do PT. Enquanto o PT abre mão dos valores contidos no marco propriamente histórico de sua ascensão política, o PSDB deveria situar sua ação política no marco do que é histórico e dos valores, do que é historicamente possível e necessário, do próprio ponto de vista da consciência popular. O partido como ponte entre a crua realidade das carências do dia a dia e os valores supracotidianos que dão sentido aos anseios sociais de mudança. Enquanto o PT se deixa puxar para baixo nas concessões sem alcance histórico da consciência popular, FHC propõe que o PSDB puxe o povo para cima, para o elenco dos valores que afirmam a realidade e a possibilidade da mudança social e política. Nessa perspectiva, o cotidiano de referência do PT é o cotidiano da mera reprodução social, o da mera repetição, o das carências mínimas da sociedade. Enquanto o que FHC propõe ao PSDB é administrar a tensão histórica entre a repetição e a transformação, entre a permanência e a mudança, superando as carências mínimas em favor das possibilidades máximas do momento histórico. Pode-se dizer que enquanto a orientação do PT no poder se configurou como esquerdista, isto é, ritual e ideológica, a que desafia o PSDB é a propriamente social-democrática, isto é de esquerda, histórica e transformadora na circunstância atual.
No artigo de Cardoso, há um retorno à dialética, ou melhor, à sua explicitação, numa proposta de ruptura, e superação, com as tendências do repetitivo na política brasileira. A questão é saber se o PSDB tem condições de superar suas divisões para superar-se.

Um país politicamente nanico


As oposições estão sumindo rapidamente em nosso país. As pesquisas eleitorais sugerem que brasileiro não gosta de extremismos políticos. O DEM, além de definhar, começa a ser tomado pelo discurso extremista. Venho reportando neste blog como Ronaldo Caiado, e agora o presidente do DEM do Paraná, caminham para a direita abertamente. A análise que fazem parece óbvia: não resta mais condições para uma aliança mais ao centro.
Já a fusão entre PPS e PSDB é noticiada abertamente na grande imprensa.
Do outro lado, PV divide-se ao meio com grande possibilidade de saída da sua estrela maior: Marina Silva.
Resta o PSDB. Mas cada vez mais parece um partido que não se acerta. A saída de Bresser Pereira do PSDB, atirando com muita agressividade, revela o incômodo crescente de expoentes tucanos. FHC tentou redefinir os rumos partidários com seu polêmico artigo, o que destoa de se estilo racional, mas foi atacado por seus correligionários.
O recente escândalo envolvendo Aécio Neves, o quase-Príncipe das Oposições, já abala até mesmo seus apoiadores. O fato reforça subliminarmente acusações sobre a vida privada do senador. Verdade ou versão, o fato é que o escândalo cria uma espécie de peça que compõe um cenário. Tanto é verdade que a internet, nos últimos dias, virou uma guerra campal entre aecistos e seus oposicionistas. O mais estranho é que a imprensa mineira se cala frente a notícia das mais quentes.
O Brasil governista se apequena politicamente. Os espaços diminuem aceleradamente.

Ainda sobre o caso do bafômetro


Parece que Land Rover virou o carro das confusões políticas no Brasil!!

bloco PT-PMDB-PCdoB-PR (MG):

O bloco MINAS SEM CENSURA apresenta graves denúncias acerca do episódio que se inicia com a ocorrência de trânsito no Leblon, RJ, e que desdobra em fortes suspeitas sobre aportes de dinheiro público em empresa de comunicação pertencente a Aécio Neves, Andrea Neves e Inês Maria Neves.

Seguem-se os ESTRANHOS FATOS:

1) A rádio Arco-Íris, franqueada da Jovem Pan, com capital social declarado de 200 mil reais, possui 12 veículos, sendo seis de alto luxo.

2) Trata-se de uma rádio de programação musical, voltada para o público jovem e adolescente, sem estrutura para atividade jornalística, o que torna ESTRANHO essa quantidade de veículos. Empresas jornalísticas bem maiores que essa rádio não tem frota similar.

3) Os veículos, a maioria atípica para a atividade da citada rádio, são:

a) Toyota Fields (statio wagon)
b) Land Rover TDV8 Vogue
c) Toyota Hilux SWR SRV 4X4
d) Land Rover Discovery TD5
e) MMC L200 Sport 4X4 GLS
f) Audi A6
g) Fiat Strada Adventure Flex
h) Micro ônibus Fiat Ducato
i) Micro ônibus M Benz 312 B Sprinter M
j) Uno Mille fire
k) Gol Mil
l) Moto Honda CG 150 Titã (que não é moto por ele assumida como sua)

4) Ao contrário do que afirma a Sra. Andrea Neves, a Land Rover envolvida na ocorrência no Leblon já tem duas multas por excesso de velocidade e a Toyota Fields tem três. Isso só no estado do Rio de Janeiro, este ano. A citada empresa já foi autuada pelo Detran por não identificar condutores infratores. Ressalte-se que a mesma tem autorização para funcionar em Betim e sede em Belo Horizonte.

5) O ex-governador e senador mineiro declarou à justiça eleitoral 617 mil reais de patrimônio. E nessa declaração não há veículo automotor. Ou seja, sendo usuário de veículos da rádio, ou de outras empresas, isso gera suspeita sobre ocultação de propriedades. Até porque, os veículos não são destinados à típica atividade jornalística.

6) Ainda tem uma moto por ele assumida como meio de transporte pessoal, que não consta de sua declaração ao TRE e nem na da rádio. O que gera a suspeita sobre se a mesma estaria registrada como propriedade de outra empresa ou de terceiros.

7) Fato ESTRANHO é que somente depois de terminada a eleição, ele teve transferida ao seu nome parte significativa do capital da rádio. Alerte-se que tal transferência se deu por meio de triangulação: as cotas foram transferidas dia 30 de novembro de Andrea Neves para sua mãe e desta, no dia 28 de dezembro para Aécio Neves.

8) Ainda sobre sua recusa em fazer o teste do bafômetro, a desculpa de que não o fez porque já tinha contratado motorista em condições de conduzir o Land Rover, em segurança e legalidade; contrasta com sua postura de não questionar a multa de 1000 reais.

DEM do Paraná quer se firmar como direita


Da Gazeta do Povo:

Abelardo Lupion, presidente do DEM no Paraná

Como o DEM vai superar o racha provocado pela criação do PSD?
É uma coisa natural em política. Tinha um grupo insatisfeito com a direção do partido. Nós estávamos satisfeitos. Batemos chapa pela liderança do DEM e ganhamos. O grupo perdedor resolveu sair. Em democracia, é isso que acontece. Vamos perder nove deputados federais e uma senadora. Vamos continuar com 37 deputados federais e vamos continuar trabalhando. No Paraná, por exemplo, não perdemos nenhum deputado estadual.

Quais serão os reflexos no Paraná? Há mais gente para sair?
O pessoal que está no partido hoje está muito satisfeito com a nossa condução. Não vejo, a curto prazo, nenhum problema. Já conversei com os deputados estaduais, não acredito em defecções nesse momento. Agora, é óbvio que o PSD é a primeira janela que se abre depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) formular as bases da fidelidade partidária. Então é natural que as pessoas que estão insatisfeitas, não só no DEM, mas em todos os partidos, tenham uma válvula para poder migrar. Eles estão migrando de muitos partidos. Nós temos agora que nos preocupar com o resto, deixando bem claro: como ainda não há regras definidas, estamos partindo de uma interpretação da lei de que só os mandatários que foram fundadores do PSD não vão perder seus mandatos. Após isso, é uma temeridade mudar de partido.

Para o senhor, o que é o PSD?
É um partido que está se utilizando do oportunismo. O [prefeito de São Paulo, Gilberto] Kassab está usando o partido para si só. Ele está jogando para ir para a situação. Eles vão ser base do governo federal. Mas nós, do DEM, não fomos eleitos para sermos situação. Por isso eu acho uma temeridade aqueles que saem do DEM para ir para a situação porque o seu eleitor não vai entender. Oposição é tão importante quanto situação. Nós precisamos fiscalizar, debater, coibir impostos. O nosso papel é relevante. Aqueles que estão saindo estão deixando para trás um compromisso com as urnas.

O que está sendo feito para evitar um encolhimento ainda maior do DEM?
Nós já fizemos várias coisas. A presidência já foi mudada. Te­­­remos convenções municipais agora em julho, em agosto ocorrem as estaduais e em setembro teremos uma grande convenção nacional na qual será eleito um novo presidente. A grande mu­­dança que estamos fazendo é de pessoas. Estão saindo aqueles que não estão satisfeitos com o partido e nós vamos começar um novo momento. Vão dizer que nós somos pequenos. Mas nós somos o quinto maior partido do Brasil hoje. Vamos continuar lutando pelos nossos espaços, sendo críticos, fiscalizadores. Esse é um reflexo de oito anos de oposição e mais quatro ainda pela frente. Muita gente que não sabe viver sem mamar nas tetas do governo sucumbe.

Muita gente reclama do tom da oposição, como a senadora Kátia Abreu, que migrou do DEM para o PSD. O senhor concorda?

Acho engraçado isso porque a senadora era uma das principais dirigentes do DEM. Ela teve todas as oportunidades dentro do partido. Foi a relatora das principais teses do DEM. Foi extremamente mordaz, crítica. Agora, o que ela está fazendo: a senadora é presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Pro­­­va­­­velmente o governo iria apoiar outro candidato para a CNA. Para não perder a presidência, ela resolveu parar com as críticas e ir para o governo. Acho uma falta de bom gosto criticar o lugar que nos acolheu e nos deu a eleição. A vida inteira ela foi prestigiada. E agora sai atirando contra uma legenda que não fez nada de mal para ela? Isso é um problema de caráter. Precisamos comedir as nossas declarações, sob pena de nos arrepender em breve.

Falando sobre ideologia, como o senhor define o DEM hoje? O partido é a direita brasileira?

Acho que a direita em qualquer lugar do mundo é extremamente importante. Eu sou de direita, nunca escondi isso. A grande maioria das pessoas que estão ficando no partido é de direita. É muito cômodo você hoje, dentro de um Estado Democrático, ficar no centro. O centro é sinal de não ter definição, não ter ideologia, não ter posição. Eu defendo a propriedade privada, um Estado menor, menos impostos, gosto do liberalismo. Nós precisamos assumir as nossas teses. Aqueles que não acreditam nisso não podem ficar no DEM. O DEM é um partido de direita e espero que assuma sua posição. A minha já foi assumida. Eu sou de direita e isso não é pecado. É uma tendência ideológica, política e uma obrigação com aqueles que me elegem.

Há uma espécie de consenso social-democrata na política brasileira com a polarização entre PT e PSDB. Há espaço para a direita?

Nós temos entre profissionais liberais, empresários e produtores rurais mais de 20% da população que se encaixam no perfil da direita. Todo proprietário se encaixa, todo homem empreendedor. A direita é o Estado mínimo. Nós precisamos de um Estado mínimo que se preocupe com saúde, educação e segurança e deixe que a iniciativa privada corra o risco no resto. Assim, quando correr risco e quebrar, não somos nós que vamos pagar. Veja a Petrobras, maior empresa brasileira. O Estado teve de aportar R$ 70 bilhões nela neste ano. Quem pagou? Fomos nós. Todo tipo de concepção política precisa ser respeitada. Todo país tem esquerda, centro e direita.

Há como dissociar a imagem da direita da ditadura militar e de figuras que estão ficando folclóricas como o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ)?

Todo regime de exceção não é de direita. Ele não tem ideologia, só tem força. O grande problema dos políticos brasileiros é que ninguém conhece uma tese política, não sabem o que significa ideologia. É muito mais oportunismo do que qualquer outra coisa. Você hoje chega em certas cidades e não entende nada. Você veja o prefeito Luciano Ducci em Curitiba. Ele fez uma aliança com todos os partidos. Não tem ideologia. O Beto Richa quando saiu candidato fez aliança com todos os partidos... No Brasil, nós não temos comprometimento com princípios. Infeliz­­­mente, o político brasileiro é despreparado e poucos são os que têm coragem de se definir ideo­­logicamente. É bom deixar essas coisas muito bem separadas: sou de direita e sou contra qualquer regime de força. Eu sou um democrata. Como não aceito não defender os princípios da igualdade e da fraternidade. Essa é uma posição de quem conhece política. Se você for perguntar para uma pessoa que não conhece, ele sempre vai te responder: “Eu sou de centro”. A pessoa de centro no Brasil não tem posição. E 90% dos caras que se dizem de esquerda só querem estar na moda. É importante que os políticos estudem um pouco para saber o que é ser de esquerda e direita.

O senhor acredita que as pessoas vão prestar mais atenção nisso?

É uma questão de tempo, uma mudança de geração. A geração que está entrando agora é muito mais preparada. Você encontra hoje escolas de política. Meu filho, que se elegeu agora [o deputado estadual Pedro Lupion], fez mestrado em ciências políticas nas duas melhores universidades da Europa e na melhor universidade dos Estados Unidos nessa área, a Georgetown. Apesar dos seus 27 anos, ele conhece mais do que qualquer um dos 54 deputados da Assembleia Legislativa. Porque estudou, sabe defender teses, está preparado para isso. Precisamos preparar nossa nova geração para que possa assumir esse espaço. Botar despreparados representando a população não vai dar coisa boa. Como já não está dando.

Peru: candidato "lulista" com 6% de vantagem no segundo turno

Marina Machado, Cobra Coral e Ed Motta


Ontem fomos (a família toda) assistir Marina Machado, Chico Amaral, Cobra Coral (na foto) e Ed Motta, no show organizado pelo Conexão Vivo 2011.
O som do Cobra Coral preenche os espaços e emociona. Marina Machado é uma mistura de Leila Diniz com Janes Joplin e é de uma ousadia muito interessante para quebrar estigmas que outros Estados brasileiros têm sobre mineiros.
Ed Motta é a virtuose de sempre.
O lado cômico (ou desastrado) foi o final do show, quando Ed Motta começou a improvisar. Tudo ia bem até Chico Amaral roubar a cena. Não parava. Platéia, Cobra Coral e Ed Motta pararam para ver até onde Chico Amaral se tocava que o convidado era Ed Motta. Vários minutos constragedores. Uma Jam Session que ficou mais para bananada. O cara simplesmente não parava. Acabou com o início do que prometia ser uma improvisação do Ed Motta.
Apesar da vaidade, o show foi muito bonito.

sábado, 23 de abril de 2011

O famoso (e polêmico) artigo de FHC


O Papel da Oposição
Por: FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Há muitos anos, na década de 1970, escrevi um artigo com o título acima no jornal Opinião, que pertencia à chamada imprensa "nanica", mas era influente. Referia-me ao papel do MDB e das oposições não institucionais. Na época, me parecia ser necessário reforçar a frente única antiautoritária e eu conclamava as esquerdas não armadas, sobretudo as universitárias, a se unirem com um objetivo claro: apoiar a luta do MDB no Congresso e mobilizar a sociedade pela democracia. Só dez anos depois a sociedade passou a atuar mais diretamente em favor dos objetivos pregados pela oposição, aos quais se somaram também palavras de ordem econômicas, como o fim do "arrocho" aalarial. No entretempo, vivia-se no embalo do crescimento econômico e da aceitação popular dos generais presidentes, sendo que o mais criticado pelas oposições, em função do aumento de práticas repressivas, o general Médici, foi o mais popular: 75% de aprovação. Não obstante, não desanimávamos. Graças à persistência de algumas vozes, como a de Ulisses Guimarães, às inquietações sociais manifestadas pelas greves do final da década e ao aproveitamento pelos opositores de toda brecha que os
atropelos do exercício do governo, ou as dificuldades da economia proporcionaram (como as crises do petróleo, o aumento da dívida externa e a inflação), as oposições não calavam. Em 1974, o MDB até alcançou expressiva vitória eleitoral em pleno regime autoritário. Por que escrevo isso novamente, 35 anos depois?
Para recordar que cabe às oposições, como é óbvio e quase ridículo de escrever, se oporem ao governo. Mas para tal precisam afirmar posições, pois, se não falam em nome de alguma causa, alguma política e alguns valores, as vozes se perdem no burburinho das maledicências diárias sem chegar aos ouvidos do povo. Todas as vozes se confundem e não faltará quem diga - pois dizem mesmo sem ser certo - que todos, governo e oposição, são farinhas do mesmo saco, no fundo "políticos". E o que se pode esperar dos políticos, pensa o povo, senão a busca de vantagens pessoais, quando não clientelismo e corrupção? Diante do autoritarismo era mais fácil fincar estacas em um terreno político e alvejar o outro lado. Na situação presente, as dificuldades são maiores. Isso graças à convergência entre dois processos não totalmente independentes: o "triunfo do capitalismo" entre nós (sob sua forma global, diga-se) e a adesão progressiva - no começo envergonhada e por fim mais deslavada - do petismo lulista à nova ordem e a suas ideologias. Se a estes processos somarmos o efeito dissolvente que o carisma de Lula produziu nas instituições, as oposições têm de se situar politicamente em um quadro complexo. Complexidade crescente a partir dos primeiros passos do governo Dilma que, com estilo até agora contrastante com o do antecessor, pode envolver parte das classes médias. Estas, a despeito dos êxitos econômicos e da publicidade desbragada do governo anterior, mantiveram certa reserva diante de Lula. Esta reserva pode diminuir com relação ao governo atual se ele, seja por que razão for, comportar-se de maneira distinta do governo anterior. É cedo para avaliar a consistência de mudanças no estilo de governar da presidente Dilma. Estamos no início do mandato e os sinais de novos rumos dados até agora são insuficientes para avaliar o percurso futuro.
É preciso refazer caminhos
Antes de especificar estes argumentos, esclareço que a maior complexidade para as oposições se firmarem no quadro atual - comparando com o que ocorreu no regime autoritário, e mesmo com o petismo durante meu governo, pois o PT mantinha uma retórica semianticapitalista - não diminui a importância de fincar a oposição no terreno político e dos valores, para que não se perca no oportunismo nem perca eficácia e sentido, aumentando o desânimo que leva à inação. É preciso, portanto, refazer caminhos, a começar pelo reconhecimento da derrota: uma oposição que perde três disputas presidenciais não pode se acomodar com a falta de autocrítica e insistir em escusas que jogam a responsabilidade pelos fracassos no terreno "do outro". Não estou, portanto, utilizando o que disse acima para justificar certa perplexidade das oposições, mas para situar melhor o campo no qual se devem mover. Se as forças governistas foram capazes de mudar camaleonicamente a ponto de reivindicarem o terem construído a estabilidade financeira e a abertura da economia, formando os "cam¬peões nacionais" - as empresas que se globalizam - isso se deu porque as oposições minimizaram a capacidade de contorcionismo do PT, que começou com a Carta aos Brasileiros de junho de 1994 e se desnudou quando Lula foi simultaneamente ao Fórum Social de Porto Alegre e a Davos. Era o sinal de "adeus às armas": socialismo só para enganar trouxas, nacional-desenvolvimentismo só como "etapa". Uma tendência, contudo, não mudou, a do hegemonismo, ainda assim, aceitando aliados de cabresto. Segmentos numerosos das oposições de hoje, mesmo no PSDB, aceitaram a modernização representada pelo governo FHC com dor de consciência, pois
sentiam bater no coração as mensagens atrasadas do esquerdismo petista ou de sua leniência com o empreguismo estatal. Não reivindicaram com força, por isso mesmo, os feitos da modernização econômica e do fortalecimento das instituições, fato muito bem exemplificado pela displicência em defender os êxitos da privatização ou as políticas saneadoras, ou de recusar com vigor a mentira repetida de que houve compra de votos pelo governo para a aprovação da emenda da reeleição, ou de denunciar atrasos institucionais, como a perda de autonomia e importância das agências reguladoras. Da mesma maneira, só para dar mais alguns exemplos, o Proer e o Proes, graças aos quais o sistema financeiro se tornou mais sólido, foram solenemente ignorados, quando não estigmatizados. Os efeitos positivos da quebra dos monopólios, o do petróleo mais que qualquer outro, levando a Petrobras a competir e a atuar como empresa global e não como repartição pública, não foram reivindicados como êxitos do
PSDB. O estupendo sucesso da Vale, da Embraer ou das teles e da Rede Ferroviária sucumbiu no murmúrio maledicente de "privatarias" que não existiram. A política de valorização do salário mínimo, que se iniciou no governo Itamar Franco e se firmou no do PSDB, virou glória do petismo. As políticas compensatórias iniciadas no governo do PSDB - as bolsas - que o próprio Lula acusava de serem esmolas e quase naufragaram no natimorto Fome Zero - voltaram a brilhar na boca de Lula, pai dos pobres, diante do silêncio da oposição e deslumbramento do país e do mundo! Não escrevo isso como lamúria, nem com a vã pretensão de imaginar que é hora de reivindicar feitos do governo peessedebista. Inês é morta, o passado. passou. Nem seria justo dizer que não houve nas oposições quem mencionasse com coragem muito do que fizemos e criticasse o lulismo. As vozes dos setores mais vigorosos da oposição se estiolaram, entretanto, nos muros do Congresso e este perdeu força política e capacidade de ressonância. Os partidos se transformaram em clubes congressuais, abandonando as ruas; muitos parlamentares trocaram o exercício do poder no Congresso por um prato de lentilhas: a cada nova negociação para assegurar a governabilidade", mais vantagens recebem os congressistas e menos força político-transformadora tem o
Congresso. Na medida em que a maioria dos partidos e dos parlamentares foi
entrando no jogo de fazer emendas ao orçamento (para beneficiar suas regiões,
interesses - legítimos ou não - de entidades e, por fim, sua reeleição), o Congresso foi perdendo relevância e poder. Consequentemente, as vozes parlamentares, em especial as de oposição, que são as que mais precisam da instituição parlamentar para que seu brado seja escutado, perderam ressonância na sociedade. Com a aceitação sem protesto do "modo lulista de governar" por meio de medidas provisórias, para que serve o Congresso senão para chancelar decisões do Executivo e receber benesses? Principalmente, quando muitos congressistas estão dispostos a fazer o papel de maioria obediente a troco da liberação pelo Executivo das verbas de suas emendas, sem esquecer que alguns oposicionistas embarcam na mesma canoa. Ironicamente, uma importante modificação institucional, a descentralização da ação executiva federal, estabelecida na Constituição de 1988 e consubstanciada desde os governos Itamar Franco e FHC, diluiu sua efetividade técnico-administrativa em uma pletora de recursos orçamentários "carimbados", isto é, de orientação político-clientelista definida, acarretando sujeição ao Poder Central, ou, melhor, a quem o simboliza pessoalmente e ao partido hegemônico. Neste sentido, diminuiu o papel político dos governadores, bastião do oposicionismo em estados importantes, pois a relação entre prefeituras e governo federal saltou os governos estaduais e passou a se dar mais
diretamente com a presidência da República, por meio de uma secretaria especial colada ao gabinete presidencial. Como, por outra parte, existe - ou existiu até há pouco - certa folga fiscal e a sociedade passa por período de intensa mobilidade social movida pelo dinamismo da economia internacional e pelas políticas de expansão do mercado interno que geram emprego, o desfazimento institucional produzido pelo lulismo e a difusão de práticas clientelísticas e corruptoras foram sendo absorvidos, diante da indiferença da sociedade. Na época do mensalão, houve um início de desvendamento do novo Sistema (com S maiúsculo, como se escrevia para descrever o modelo político criado pelos governos militares). Então, ainda havia indignação diante das denúncias que a mídia fazia e os partidos ecoavam no parlamento. Pouco a pouco, embora a mídia continue a fazer denúncias, a própria opinião pública, isto é, os setores da opinião nacional que recebem informações, como que se anestesiou. Os cidadãos cansaram de ouvir tanto horror perante os céus sem que nada mude. Diante deste quadro, o que podem fazer as oposições?
Definir o público a ser alcançado
Em primeiro lugar, não manter ilusões: é pouco o que os partidos podem fazer para que a voz de seus parlamentares alcance a sociedade. É preciso que as oposições se deem conta de que existe um público distinto do que se prende ao jogo político tradicional e ao que é mais atingido pelos mecanismos governamentais de difusão televisiva e midiática em geral. As oposições se baseiam em partidos não propriamente mobilizadores de massas. A definição de qual é o outro público a ser alcançado pelas oposições e como fazer para chegar até ele e ampliar a audiência crítica é fundamental. Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os "movimentos sociais" ou o "povão", isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo "aparelhou", cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência
que exerce na mídia com as verbas publicitárias. Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à TI (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de "classe C" ou de nova classe média. Digo imprecisamente porque a definição de classe social não se limita às categorias de renda (a elas se somam educação, redes sociais de conexão, prestígio social, etc.), mas não para negar a extensão e a importância do fenômeno. Pois bem, a imensa maioria destes grupos - sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista - está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc. É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período
entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos. Se houver ousadia, os partidos de oposição podem organizar-se pelos
meios eletrônicos, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas. Mas não é só isso: as oposições precisam voltar às salas universitárias, às inúmeras redes de palestras e que se propagam pelo país afora e não devem, obviamente, desacreditar do papel da mídia tradicional: com toda a modernização tecnológica, sem a sanção derivada da confiabilidade, que só a tradição da grande mídia assegura, tampouco as mensagens, mesmo que difundidas, se transformam em marcas reconhecidas. Além da persistência e
ampliação destas práticas, é preciso buscar novas formas de atuação para que a
oposição esteja presente, ou pelo menos para que entenda e repercuta o que
ocorre na sociedade. Há inúmeras organizações de bairro, um sem-número de grupos musicais e culturais nas periferias das grandes cidades, etc., organizações voluntárias de solidariedade e de protesto, redes de consumidores, ativistas do meio ambiente, e por aí vai, que atuam por conta própria. Dado o anacronismo das instituições político-partidárias, seria talvez pedir muito aos partidos que mergulhem na vida cotidiana e tenham ligações orgânicas com grupos que expressam as dificuldades e anseios do homem comum. Mas que pelo menos ouçam suas vozes e atuem em consonância com elas. Não deve existir uma separação radical entre o mundo da política e a vida cotidiana, nem muito menos entre valores e interesses práticos. No mundo interconectado de hoje, vê-se, por exemplo, o que ocorre com as revoluções no meio islâmico, movimentos protestatários irrompem sem uma ligação formal com a política tradicional. Talvez as discussões sobre os meandros do poder não interessem ao povo no dia-a-dia tanto quanto os efeitos devastadores das enchentes ou o sufoco de um trânsito que não anda nas grandes cidades. Mas, de repente, se dá um "curto-circuito" e o que parecia não ser "política" se politiza. Não foi o que ocorreu nas eleições de 1974 ou na campanha das "diretas já"? Nestes momentos, o pragmatismo de quem luta para sobreviver no dia-a-dia lidando com questões "concretas" se empolga com crenças e valores. O discurso, noutros termos, não pode ser apenas o institucional, tem de ser o do cotidiano, mas não desligado de valores. Obviamente em nosso caso, o de uma democracia, não estou pensando em movimentos contra a ordem política global, mas em aspirações que a própria sociedade gera e que os partidos precisam estar preparados para que, se não os tiverem suscitado por sua desconexão,
possam senti-los e encaminhá-los na direção política desejada. Seria erro fatal imaginar, por exemplo, que o discurso "moralista" é coisa de elite à moda da antiga UDN. A corrupção continua a ter o repúdio não só das classes médias como de boa parte da população. Na última campanha eleitoral, o momento de maior crescimento da candidatura Serra e de aproximação aos resultados obtidos pela candidata governista foi quando veio à tona o "episódio Erenice". Mas é preciso ter coragem de dar o nome aos bois e vincular a "falha moral" a seus resultados práticos, negativos para a
população. Mais ainda: é preciso persistir, repetir a crítica, ao estilo do
"beba Coca Cola" dos publicitários. Não se trata de dar-nos por satisfeitos, à
moda de demonstrar um teorema e escrever "cqd", como queríamos demonstrar. Seres humanos não atuam por motivos meramente racionais. Sem a teatralização que leve à emoção, a crítica - moralista ou outra qualquer - cai no vazio. Sem Roberto Jefferson não teria havido mensalão como fato político.
Qual é a mensagem?
Por certo, os oposicionistas para serem ouvidos precisam ter o que dizer. Não basta criar um público, uma audiência e um estilo, o conteúdo da mensagem é fundamental. Qual é a mensagem? O maior equívoco das oposições, especialmente do PSDB, foi o de haver posto à margem as mensagens de modernização, de aggiornamento do País, e de clara defesa de uma sociedade democrática comprometida com causas universais, como os direitos humanos e a luta contra a opressão, mesmo quando esta vem mascarada de progressismo, apoiada em políticas de distribuição de rendas e de identificação das massas com o Chefe. Nas modernas sociedades democráticas, por outro lado, o Estado tanto mantém funções na regulação da economia como em sua indução, podendo chegar a exercer papel como investidor direto. Mas o que caracteriza o Estado em uma sociedade
de massas madura é sua ação democratizadora. Os governos devem tornar claros, transparentes, e o quanto possível imunes à corrupção, os mecanismos econômicos que cria para apoiar o desenvolvimento da economia. Um Estado moderno será julgado por sua eficiência para ampliar o acesso à educação, à saúde e à previdência social, bem como pela qualidade da segurança que oferece às pessoas. Cabe às oposições serem a vanguarda nas lutas por estes objetivos. Defender o papel crescente do Estado nas sociedades democráticas, inclusive em áreas produtivas, não é contraditório com a defesa da economia de mercado. Pelo contrário, é preciso que a oposição diga alto e bom som que os mecanismos de mercado, a competição, as regras jurídicas e a transparência das decisões são fundamentais para o Brasil se modernizar, crescer economicamente e se desenvolver como sociedade democrática. Uma sociedade democrática amadurecida estará sempre comprometida com a defesa dos direitos humanos, com a ecologia e com o combate à miséria e às doenças, no país e em toda a parte. E compreende que a ação isolada do Estado, sem a participação da sociedade, inclusive dos setores produtivos privados, é insuficiente para gerar o bem-estar da população e oferecer bases sólidas para um desenvolvimento econômico sustentado. Ao invés de se aferrarem a esses valores e políticas que lhes eram próprios como ideologia e como prática, as oposições abriram espaço para que o lulopetismo ocupasse a cena da modernização econômica e social. Só que eles têm os pés de barro: a cada instante proclamam que as privatizações "do PSDB" foram contra a economia do País, embora comecem a fazer descaradamente concessões de serviços públicos nas estradas e nos aeroportos, como se não estivessem fazendo na prática o mea-culpa. Cabe às oposições não apenas desmascarar o cinismo, mas, sobretudo, cobrar o atraso do País: onde está a infraestrutura que ficou bloqueada em seus avanços pelo temor de apelar à participação da iniciativa privada nos portos, nos aeroportos, na geração de energia e assim por diante? Quão caro já estamos pagando pela ineficiência de agências reguladoras entregues a sindicalistas "antiprivatizantes" ou a partidos clientelistas, como se tornou o PCdoB, que além de vender benesses no ministério dos Esportes, embota a capacidade controladora da ANP, que deveria evitar que o monopólio voltasse por vias transversas e prejudicasse o futuro do País.
Oposição precisa vender o peixe
Dirão novamente os céticos que nada disso interessa diretamente ao povo. Ora, depende de como a oposição venda o peixe. Se tomarmos como alvo, por exemplo, o atraso nas obras necessárias para a realização da Copa e especializarmos três ou quatro parlamentares ou técnicos para martelar no dia-a-dia, nos discursos e na internet, o quanto não se avança nestas áreas por causa do burocratismo, do clientelismo, da corrupção ou simplesmente da viseira ideológica que impede a competição construtiva entre os setores privados e destes com os monopólios, e se mostrarmos à população como ela está sendo diretamente prejudicada pelo estilo petista de política, criticamos este estilo de governar, suscitamos o interesse popular e ao mesmo tempo oferecemos alternativas. Na vida política tudo depende da capacidade de politizar o apelo e de dirigi-lo a quem possa ouvi-lo. Se gritarmos por todos os meios disponíveis que a dívida interna de R$ 1,69 trilhão (mostrando com exemplos ao que isto corresponde) é assustadora, que estamos pagando R$ 50 bilhões por ano para manter reservas elevadas em dólares, que pagamos a dívida (pequena) ao FMI sobre a qual incidiam juros moderados, trocando-a por dívidas em reais com juros enormes, se mostrarmos o quanto custa a cada contribuinte cada vez que o Tesouro transfere ao BNDES dinheiro que o governo não tem e por isso toma emprestado ao mercado pagando juros de 12% ao ano, para serem emprestados pelo
BNDES a juros de 6% aos grandes empresários nacionais e estrangeiros, temos discurso para certas camadas da população. Este discurso deve desvendar, ao mesmo tempo, o porquê do governo assim proceder: está criando um bloco de poder capitalista-burocrático que sufoca as empresas médias e pequenas e concentra renda. Este tipo de política mostra descaso pelos interesses dos assalariados, dos pequenos produtores e profissionais liberais de tipo antigo e novo, setores que, em conjunto, custeiam as benesses concedidas ao grande capital com impostos que lhe são extraídos pelo governo. O lulopetismo não está fortalecendo o capitalismo em uma sociedade democrática, mas sim o capitalismo monopolista e burocrático que fortalece privilégios e corporativismos. Com argumentos muito mais fracos o petismo acusou o governo do PSDB quando, em fase de indispensável ajuste econômico, aumentou a dívida interna (ou, melhor, reconheceu os "esqueletos" compostos por dívidas passadas) e usou recursos da privatização - todos contabilizados - para reduzir seu crescimento. A dívida pública consolidada do governo lulista foi muito maior do que a herdada por
este do governo passado e, no entanto, a opinião pública não tomou conhecimento do fato. As oposições não foram capazes de politizar a questão. E o que está acontecendo agora quando o governo discute substituir o fator previdenciário, recurso de que o governo do PSDB lançou mão para mitigar os efeitos da derrota sofrida para estabelecer uma idade mínima de aposentadoria? Propondo a troca do fator previdenciário pela definição de. uma idade mínima de aposentadoria.
Petistas camaleões
Se os governistas são camaleões (ou, melhor, os petistas, pois boa parte dos governistas nem isso são: votavam com o governo no passado e continuam a votar hoje, como votarão amanhã), em vez de saudá-los porque se aproximam da racionalidade ou de votarmos contra esta mesma racionalidade, negando nossas crenças de ontem, devemos manter a coerência e denunciar as falsidades ideológicas e o estilo de política de mistificação dos fatos, tantas vezes sustentado pelo petismo. São inumeráveis os exemplos sobre como manter princípios e atuar como uma oposição coerente. Mesmo na questão dos impostos, quando o PSDB e o DEM junto com o PPS ajudaram a derrubar a CPMF, mostraram que, coerentes, dispensaram aquele imposto porque ele já não era mais necessário, como ficou demonstrado pelo contínuo aumento da receita depois de sua supressão. É preciso continuar a fazer oposição à continuidade do aumento de impostos para custear a máquina público-partidária e o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. É possível mostrar o quanto pesa no bolso do povo cada despesa feita para custear a máquina público-partidária e manter o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. E para ser coerente, a oposição deve lutar desde já pela
redução drástica do número de cargos em comissão, nomeados discricionariamente, bem como pelo estabelecimento de um número máximo de ministérios e secretarias especiais, para conter a fúria de apadrinhamento e de conchavos partidários à custa do povo. Em suma: não há oposição sem "lado". Mais do que ser de um partido, é preciso "tomar partido". É isso que a sociedade civil faz nas mais distintas matérias. O que o PSDB pensa sobre liberdade e pluralidade religiosa? Como manter a independência do Estado laico e, ao mesmo tempo, prestigiar e respeitar as religiões que formam redes de coesão social, essenciais para a vida em sociedade? O que pensa o partido sobre o combate às drogas? É preciso ser claro e sincero: todas as drogas causam danos, embora de alcance diferente. Adianta botar na cadeia os drogados?
Sinceridade comove a população
Há casos nos quais a regulação vale mais que a proibição: veja-se o tabaco e o álcool, ambos extremadamente daninhos. São não apenas regulados em sua venda e uso (por exemplo, é proibido fumar em locais fechados ou beber depois de uma festa e guiar automóveis) como estigmatizados por campanhas publicitárias, pela ação de governos e das famílias. Não seria o caso de fazer a mesma coisa com a maconha, embora não com as demais drogas muito mais danosas, e concentrar o fogo policial no combate aos traficantes das drogas pesadas e de armas? Se disso ainda não estivermos convencidos, pelo menos não fujamos à discussão, que já corre solta na sociedade. Sejamos sinceros: é a sinceridade que comove a população e não a hipocrisia que pretende não ver o óbvio. Se a regra é ser sincero, por que temer ir fundo e avaliar o que nós próprios fizemos no passado, acreditando estar certos, e que continua sendo feito, mas que requer uma revisão? Tome-se o exemplo da reforma agrária e dos programas de incentivo à economia familiar. Fomos nós do PSDB que recriamos o Ministério da Reforma Agrária e, pela primeira vez, criamos um mecanismo de financiamento da agricultura familiar, o Pronaf. Nenhum governo fez mais em matéria de acesso à terra do que o do PSDB quando a pasta da Reforma era dirigida por um membro do PPS. Não terá chegado a hora de avaliar os resultados? O Pronaf não estará se transformando em mecanismo de perpétua renovação de dívidas, como os grandes agricultores faziam no passado com suas dívidas no Banco do Brasil? Qual é o balanço dos resultados da reforma agrária? E as acusações de "aparelhamento" da burocracia pelo PT e pelo MST são de fato verdadeiras? Sem que a oposição afirme precipitadamente que tudo isso vai mal - o que pode não ser correto - não pode temer buscar a verdade dos fatos, avaliar, julgar e criticar para corrigir. Existe matéria em abundância para manter os princípios e para ir fundo nas críticas sem temer a acusação injusta de que se está defendendo "a elite". Mas política não é tese universitária. É preciso estabelecer uma agenda. Geralmente esta é dada pelo governo. Ainda assim, usemo-la para concentrar esforços e dar foco, repetição e persistência à ação oposicionista. Tomemos um exemplo, o da reforma política, tema que o governo afirma estar disposto a discutir. Pois bem, o PSDB tem posição firmada na matéria: é favorável ao voto distrital (misto ou puro, ainda é questão indefinida). Se é assim, por que não recusar de plano a proposta da "lista fechada", que reforça a burocracia partidária, não diminui o personalismo (ou alguém duvida que se pedirão votos para a lista "do Lula"?) e separa mais ainda o eleitor dos representantes?
Compromisso com o voto digital
Não é preciso afincar uma posição de intransigência: mantenhamos o compromisso com o voto distrital, façamos a pregação. Se não dispusermos de forças para que nossa tese ganhe, aceitemos apenas os melhoramentos óbvios no sistema atual: cláusula de desempenho (ou de barreira), proibição de coligações nas eleições proporcionais e regras de fidelidade partidária, ainda que para algumas destas medidas seja necessário mudança constitucional. Deixemos para outra oportunidade a discussão sobre financiamento público das campanhas, pois sem a distritalização o custo para o contribuinte será enorme e não se impedirá o financiamento em "caixa preta" nem o abuso do poder econômico. Mas denunciemos o quanto de antidemocrático existe no voto em listas fechadas. Em suma: não será esta uma boa agenda para a oposição firmar identidade, contrapor-se à tendência petista de tudo burocratizar e, ao mesmo tempo, não se encerrar em um puro negativismo aceitando modificações sensatas? Por fim, retomando o que disse acima sobre o "triunfo do capitalismo". O governo do PT e o próprio partido embarcaram, sem dizer, na adoração do bezerro de ouro. Mas, marcados pelos cacoetes do passado, não perceberam que o novo na fase contemporânea do capitalismo não é apenas a acumulação e o crescimento da economia. Os grandes temas que se estão desenhando são outros e têm a ver com o interesse coletivo: como expandir a economia sem destroçar o meio ambiente, como assegurar direitos aos destituídos deles, não só pela pobreza, mas pelas injustiças (desigualdades de gênero, de raça, de acesso à cultura)? Persistem preocupações antigas: como preservar a Paz em um mundo no qual há quem disponha da bomba nuclear? A luta pela desnuclearização tem a ver com o sentido de um capitalismo cuja forma "selvagem" a sociedade democrática não aceita mais. Esta nova postura é óbvia no caso da ecologia, pois o natural egoísmo dos Estados, na formulação clássica, se choca com a tese primeira, a da perpetuação da vida humana. O terror atômico e o aquecimento global põem por terra visões fincadas no terreno do nacional-estatismo arcaico. Há um nacionalismo de novo tipo, democrático, aberto aos desafios do mundo e integrado nele, mas alerta aos interesses nacionais e populares. Convém redefinir, portanto, a noção do interesse nacional, mantendo-o persistente e alerta no que é próprio aos interesses do País, mas compatibilizando-o com os interesses da humanidade. Estas formulações podem parecer abstra¬tas, embora se traduzam no dia-a-dia: no Brasil, ninguém discute sobre qual o melhor modo de nossa presença no mundo: será pelo velho caminho armamentista, nuclearizando--nos, ou nossas imensas vantagens comparativas em outras áreas, entre elas as do chamado soft power, podem primar? Por exemplo, nossa "plasticidade cultural mestiça", a aceitação das diferenças raciais - sem que se neguem e combatam as desigualdades e preconceitos ainda existentes - não são um ganho em um mundo multipolar e multicultural? E a disponibilidade de uma matriz energética limpa, sem exageros de muitas usinas atômicas (sempre perigosas), bem como os avanços na tecnologia do etanol, não nos dão vantagens? Por que não discutir, a partir daí, o ritmo em que exploraremos o pré-sal e as obscuras razões para a "estatização do risco e divisão do lucro" entre a Petrobras e as multinacionais por meio do sistema de partilha? São questões que não exploramos devidamente, ou cujas decisões estão longe de ser claramente compatíveis com o interesse nacional de longo prazo.
Falta de estratégia
Na verdade, falta-nos estratégia. Estratégia não é plano de ação: é o peso relativo que se dá às questões desafiadoras do futuro somado à definição de como as abordaremos. Que faremos neste novo mundo para competir com a China, com os Estados Unidos ou com quem mais seja? Como jogar com nossos recursos naturais (petróleo à frente) como fator de sucesso e poder sem sermos amanhã surpreendidos pelo predomínio de outras fontes de energia? E, acima de tudo, como transformar em políticas o anseio por uma "revolução educacional" que dê lugar à criatividade, à invenção e aos avanços das tecnologias do futuro? A China, ao que parece, aprendeu as lições da última crise e está apostando na inovação, preparando-se para substituir as fontes tradicionais de energia, sobretudo o petróleo, de que não dispõe em quantidade suficiente para seu consumo crescente. E os próprios Estados Unidos, embora atônitos com os erros acumulados desde a gestão Bush, parecem capazes de continuar inovando, se conseguirem sair depressa da crise financeira que os engolfou. De tudo isso o PT e seus governos falam, mas em ziguezague. As amarras a uma visão oposta, vinda de seu passado recente, os inibem para avançar mais. Não é hora das oposições serem mais afirmativas? E se por acaso, como insinuei no início deste artigo, houver divisões no próprio campo do petismo por causa da visão canhestra de muitos setores que apoiam o governo e de suas necessidades práticas o levarem a direções menos dogmáticas? Neste caso, embora seja cedo para especular, terá a oposição inteireza e capacidade política para aproveitar as circunstâncias e acelerar a desagregação do antigo e apostar no novo, no fortalecimento de uma sociedade mais madura e democrática? Engana-se quem pensar que basta manter a economia crescendo e oferecer ao povo a imagem de uma sociedade com mobilidade social. Esta, ao ocorrer, aumenta as demandas tanto em termos práticos, de salários e condições de vida, como culturais. Em um mundo interconectado pelos modernos meios de comunicação o cidadão comum deseja saber mais, participar mais e avaliar por si se de fato as diferenças econômicas e sociais estão diminuindo. Sem, entretanto, uma oposição que se oponha ao triunfalismo lulista, que coroa a alienação capitalista, desmistificando tudo o que seja mera justificativa publicitária do poder e chamando a atenção para os valores fundamentais da vida em uma sociedade democrática, só ocorrerão mudanças nas piores condições: quando a fagulha de alguma insatisfação produzir um curto-circuito. Mesmo este adiantará pouco se não houver à disposição uma alternativa viável de poder, um caminho preparado por lideranças nas quais a população confie. No mundo contemporâneo este caminho não se constrói apenas por partidos políticos, nem se limita ao jogo institucional. Ele brota também da sociedade, de seus blogs, twitters, redes sociais, da mídia, das organizações da sociedade civil, enfim, é um processo coletivo. Não existe apenas uma oposição, a da arena institucional; existem vários focos de oposição, nas várias dimensões da sociedade. Reitero: se as oposições institucionais não forem capazes de se ligar mais diretamente aos movimentos da vida, que pelo menos os ouçam e não tenham a pretensão de imaginar que pelo jogo congressual isolado alcançarão resultados significativos. Os vários focos de insatisfação social, por sua vez, também podem se perder em demandas específicas a serem atendidas fragmentariamente pelo governo se não encontrarem canais institucionais que expressem sua vontade maior de transformação. As oposições políticas, por fim, se nada ou pouco tiverem a ver com as múltiplas demandas do cotidiano, como acumularão forças para ganhar a sociedade?