quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

No país de Obama

Acabo de ler este interessante livro de Rodrigo Alvarez, jornalista da Globo.Durante 17 dias, Alvareza cruzou os EUA às vésperas das eleições de 2008, que elegeria pela primeira vez o presidente negro de sobrenome mulçumano. Sua intenção foi entrevistar personagens do cotidiano multifacetado dos EUA.
E conseguiu. O livro-reportagem é leve, lido numa sentada. Mas conseguimos entender um país realmente ferido em seu orgulho, formado a partir da religião, ou conflito entre dogmatismos religiosos e racionalidades. A "América Profunda" aparece em cada capítulo. A dicotomia, contudo, vai se desfazendo a cada página, porque se cruzam.
Primeiro, vemos um país dividido entre "libertários" e "liberais". Liberal já é de conhecimento que é o pensamento progressista nos EUA. Mas libertário não tem nada a ver com isto. Significa uma corrente de pensamento que odeia governos e Estado e prega a liberdade (todos citam a necessária responsabilidade, assumida individualmente) individual que garantiria o uso de armas, a pena de morte, o ataque ao aborto. Algo distinto, ainda que para nós, latinos, nem tanto, do pensamento socialconservador.
À página 114 e 115, o autor tenta fazer algumas distinções:
E mesmo ao dizer que os republicanos de Provo [município do Estado de Utah] são muito parecidos com os libertários, a favor de um governo reduzido e o máximo de liberdades individuais, ele [o prefeito de Provo] acabou ressaltando o9 lado mais religioso do partido dele - algo que não tinha nada a ver com a ideologia dos libertários. "As pessoas que dedicam seu tempo a adorar Deus... de acordo com as Escrituras, todos os domingos... são pessoas melhores do que aquelas que raramente vão à igreja", eram palavreas do prefeito de Provo, mas que poderiam ter saído da boca de qualquer socialconservador do Partido Republicano.
Já um democrata solitário tenta definir o que são os liberais, à página 116:
Alguém que não é cristão, que pensa por si próprio e questiona o que está acontecendo com o país. São pessoas que estão conscientes dos problemas com o meio ambiente e que não estão satisfeitas com essa guerra em que estamos metidos.
 Meio simplista? Sim e não. Sim, porque esta divisão também se relaciona com o grau de urbanismo dos EUA: se mais rural e menor, o pensamento fundamentalista fala mais alto; se maior e urbana, a racionalidade e a tolerância com o diferente é hegemônico.
Mas o fato é que o sobrenome Hussein, de Obama, divide até hoje a confiança dos norte-americanos. Hussein, explica Alvarez, era filho de Ali (e neto de Maomé) e foi decapitado na Batalha de Karbala (Iraque), em 680 d.C. Lutou com 72 homens contra 30 mil. Perdeu. Mas ali ficou o exemplo para os muçulmanos xiitas que entregam suas vidas (como Hussein) pela honra de Alá. Uma imagem que pode ser facilmente explorada em virtude do que ocorreu em 11 de setembro.
A ideologia libertária (ou ultra individualista) se cruza com um forte moralismo na cultura política dos EUA. Está enraizada. Fé e liberdade parecem naturais, assim como o trabalho voluntário e serviços comunitários desde jovens. Tudo como uma obrigação natural.
Como ressalta o autor nas páginas finais do livro: um trompete ora choroso, ora exaltado parecia realçar o ritmo inconstante dos corações americanos.
Alvarez nos ajuda a entender melhor este país que influencia em muito o nosso.




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