Vou destacar algumas passagens e comentar ao final:
QUEM É DIREITA E O PAPEL DA IMPRENSA
A coalizão de direita no
Brasil hoje é a coalizão do PSDB, DEM, PPS, que se expressa numa coalizão
parlamentar e em um conjunto de governos. (...) Quem procura
dar coesão, palavras de ordem, são setores da mídia. A questão do Ministério
Público e outros setores do Judiciário é que eles estão construindo uma
teoria, e estão construindo instrumentos e decisões judiciais que expressam a
visão dos interesses dessa direita. Isso é legítimo se é feito no Parlamento.
(...) Mas não
é isso. Eles estão de certa maneira usurpando, procurando transferir esse poder
para parcelas do Judiciário.
SOBRE PUBLICIDADE OFICIAL
A publicidade do governo
está regulada por leis. A minha interpretação é que nós poderíamos nos apoiar
em dois artigos da Constituição – o artigo do pluralismo e o artigo do apoio
à pequena empresa – para fazer uma distribuição diferenciada e não apoiada
apenas na vendagem, na audiência. Nessa perspectiva nós poderíamos ter avançado
mais.
SOBRE O JULGAMENTO NO STF
É estarrecedor que um ex-ministro do Supremo faça um prefácio de um
livro sobre o tema, sendo que a ação não terminou ainda. Isso demonstra o
caráter político dela, de disputa política, de julgamento político do governo
do Lula, do PT, e de certa maneira da esquerda. Eles quiseram transformar nisso
essa ação e não apenas no julgamento de determinados crimes ou atos ilícitos
praticados por dirigentes do PT. E não tem nada a ver com compra de voto nem
com uso de dinheiro público. Está mais do que provado que eram empréstimos
bancários que foram entregues ao PT, sem contabilizar, de uma forma que
infringe a legislação eleitoral, e tem questões bancárias, fiscais para
analisar. Mas eles transformaram no famoso ‘mensalão’ e na questão de que
havia dinheiro público que foi desviado, como se nós tivéssemos tirado dinheiro
do Banco do Brasil. E nem é do Banco do Brasil, é da Visanet, que não é
dinheiro público, vem de 0,1% de cada movimentação de cartão de crédito, é um
dinheiro para propaganda
A REAÇÃO
Estão respondendo, porque agora se trata também de um processo político,
não se pode resolver essa questão a curto prazo, é uma questão de médio e longo
prazo. Temos que ir acumulando força, e crescendo o movimento de opinião
pública, na base da sociedade, apresentar nossas provas.
A AGENDA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
A prioridade para o Brasil nesse momento é o enfrentamento dessa
ofensiva da direita. A prioridade política. Sua outra faceta é uma reforma
política, democrática, que pode passar por um referendo ou uma constituinte,
já que o Congresso se recusa a fazer. O Senado já fez, mas fez a do voto proporcional.
Aliás, aprovou o financiamento público, cláusula de barreira, voto em lista.
Uma reforma que apoiamos. Tem também a necessidade de aprofundar as reformas
sociais e econômicas que o país precisa, para crescer de uma maneira
sustentável, com distribuição de renda, que garanta a soberania nacional e a
integração sul-americana. A agenda política é essa. Lógico que a regulação da
mídia é importante, a denúncia da Ação Penal 470 é importante, mas é preciso
fazer uma hierarquia de prioridades.
Minhas observações:
Nada de novo. Zé Dirceu tenta politizar ao máximo a condenação e gerar confronto com o judiciário. Vincula a imprensa com a ação do STF, mas ao final, prioriza a reforma política e avanço nas reformas sociais. Esta é a via clássica do PT: o enfrentamento pela política. Interessante que a grande imprensa e as articulações conservadoras não fazem este caminho. Preferem o discurso do avanço econômico (a modernização e as condições para o Brasil surfar nas possibilidades de crescimento) e o embate no campo judicial. Para aumentar a pressão política, Zé Dirceu precisa liderar este enfrentamento para não cair no esquecimento. Daí sugerir que o embate do STF foi com o PT. Ainda que fosse, o PT parece não ter se abalado de maneira alguma. Um ou outro líder petista ainda tentou argumentar, após as eleições municipais, que o julgamento do mensalão afetou o processo eleitoral. Não afetou ou foi absolutamente marginal. Este vínculo - entre julgamento e poder eleitoral do PT - tem endereço certo: agregar todo corpo dirigente e militância petista, assim como envolver e indignar simpatizantes e democratas que se sentirem agredidos por uma possível manipulação de direita. O recado seria este: "vencemos no processo eleitoral e a maioria da população está conosco, mas a direita se articula, envolvendo parte do judiciário, numa ofensiva orquestrada pela grande imprensa". Só restaria reagir. Numa reação política, quem ganharia espaço é justamente quem se viu afetado pela condenação da AP 470. Enfim, o julgamento seria legal, mas ilegítimo. Uma volta para o futuro, já que este foi justamente o discurso de todos nós, de esquerda, sobre as arbitrariedades do regime militar.
Um comentário:
Profº Rudá,
aguardamos, se for possível, as suas observações sobre o livro do jornalista Paulo Moreita Leite, com prefácio do Jânio de Freitas - teriam sido cooptados? - "A Outra História do Mensalão".
Muito obrigado.
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