quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O calvário do presidente da Câmara Municipal de BH

Leo Burguês, o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, está se tornando um exemplo, pelo avesso. Estimulou uma intensa oposição jovem por ter cometido excessos quando presidente na legislatura passada. Acabou se tornando personagem de marchinha de carnaval, em virtude dos gastos com lanches, comprados num estabelecimento comercial cuja proprietária é sua madrasta. Se reelegeu, mas os holofotes continuaram sobre ele. Seus colegas de Câmara, neste ano, decidiram que sua imagem aumentaria o desgaste do parlamento local e explicitaram aos quatro ventos que não o queriam presidindo seus trabalhos. O prefeito Marcio Lacerda aproveitou a onda e procurou compor uma outra chapa para a mesa diretora, ampliando seu campo de aliados até mesmo para petistas, com quem disputou a reeleição. Aécio Neves demonstrou insegurança e oscilou entre Burguês e outras indicações tucanas.
Os rachas entre os diversos grupos de vereadores abriram, contudo, uma brecha para o jovem e complexo vereador refazer sua chapa e se eleger, novamente, Presidente. Leo Burguês estava feliz.
Até que, ontem, o juiz do Foro de Belo Horizonte cassou seu mandato por abuso de poder econômico, tornando-o inelegível por oito anos. Burguês vai recorrer, mas a imagem de burguês rebelde vai se cristalizando. A denúncia do Ministério Público relaciona-se ao gasto autorizado pelo vereador, entre 1o de janeiro e 15 de março de 2012 (ano eleitoral) de 2,7 milhões de reais com propaganda oficial (796 mil reais mensais), sendo que nos anos anteriores esta rubrica não consumiu mais que 1,8 milhões de reais.
Aqui temos duas lições.
A primeira: é hora de entrar na onda do julgamento do mensalão e trazer luz a tais gastos publicitários. Acompanho as manchetes de muitos jornais e é perceptível a mudança de humor. Fala-se muito dos executivos e suas verbas publicitárias, mas esquecemos que os parlamentos, inclusive os locais, dos grandes municípios e capitais, têm muito fôlego. Que tal se esta história envolvendo Burguês não fosse o estopim de uma investigação mais rigorosa e geral?
A segunda: Burguês é jovem. Segundo artigo publicado na Veja BH, em 20 de junho do ano passado ("Aqui me tens de regresso": AQUI ), Leonardo Silveira de Castro Pires (este é o nome do Presidente), já era conhecido desde os anos 1990 como promotor de festas "quentes". Portanto, temos esta combinação entre juventude e energia para empolgação de baladas. O que faz com que Burguês cometa os erros típicos da juventude, alimentados por muita adrenalina e a certeza que tudo pode e que os mais velhos erraram por falta de foco e energia. Resumindo: sua ânsia para retornar ao centro do poder parlamentar de Belo Horizonte pode ter custado, de uma vez por todas, sua imagem. O recurso que apresentará ganhará as páginas dos jornais, como já ocorreu hoje em terras mineiras. A resposta e argumentos do Ministério Público retornarão. Se perder em segunda instância, toda a mesa diretora da Câmara Municipal estará em palcos de aranha. Teria sido um bom negócio ter ido com tanta sede ao pote? Não teria sido mais prudente se afastar dos holofotes neste primeiro biênio (deve ter pensado que teria mais projeção em ano de Copa do Mundo) para retornar mais adiante? Afinal, conseguiu se reeleger, mesmo com atraído tanta oposição jovem.
Já sabemos o que vai ocorrer se passar por mais esta prova de fogo: a imagem terá colado e dificilmente haverá como sair desta rota. Não sabendo jogar o xadrez político, joga segurando todas suas peças, até os peões, e acaba encurralado. Não percebe que oferecer um bispo pode significar a sorte no jogo. Caindo ou se safando, estará tão enredado nesta história que a única saída será afundar mais e mais nesta tragédia. Será mais um caso de envelhecimento precoce na política.

Nenhum comentário: