quarta-feira, 6 de abril de 2011

Aécio: um personagem em busca de um autor


Durante vinte minutos ele tentou. Tentou entabular uma agenda, um discurso oposicionista. Tateou um estilo civilizado, ponderado, equilibrado. Ficou com um roteiro tortuoso. Não de todo ruim. Mas pouco para um líder nacional. O que ainda nem amarrota o tapete vermelho por onde passeia Dilma Rousseff. Esta que tem a sorte de Lula e o estilo racional de FHC. Porque poucas vezes vimos alguém adotar medidas impopulares (salário mínimo, taxa Selic, corte de emendas populares, corte de obras para municípios) e aumentar sua popularidade, como ocorreu com ela.
É verdade que a grande imprensa a adotou. Mas o fato é que a oposição sumiu, consumida em seu próprio fogo. Vide Kátia Abreu, que de oposicionista viceral do DEM, virou meio-situacionista no PSD.
Mas, Aécio até que tentou. Seu maior golpe foi acusar o Palácio do Planalto de interferir em empresas privadas, como a mineradora Vale. Um tema, digamos, que não reverbera muito nos botequins e bodegas do país afora. Não sei nem se vale como canto de sereia para o alto empresariado. Desconfio que o canto de sereia continua sendo o PAC.
Tentou uma ou duas frases de efeito, como “o Brasil precisa de um choque de realidade que nos permita compreender a situação do país hoje”, seja lá o que isto signifique. Outra frase de efeito foi que entre os interesses do país e os próprios, “o PT escolheu o PT”. Será que aumentou a carga de adrenalina dos seus pares?
Apresentou duas propostas concretas: transferir rodovias federais para os Estados, com a contrapartida de ampliar a participação estadual nos recursos da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, cobrada sobre os combustíveis); e destinar mensalmente 70% dos recursos do Fundo Nacional de Segurança e do fundo penitenciário aos Estados. Não chega a ser um projeto de desenvolvimento, chega?
Enfim, ele tentou. Melhor que os outros, que ficam quietos.

6 comentários:

Unknown disse...

A montanha (neste caso as montanhas) pariu um rato. Que fique claro, dos pequenos.

Marisa Cruz disse...

Todos tem seus prós e contras. Não tenho admiração pelo Aécio Neves.
Mas vamos lá: qdo lulla discursava seus parceiros entravam em êxtase. Nada diferente dos que se empolgaram com discurso de Aécio.
Não sei se analisa como sociólogo ou como partidário de este ou daquele. Eu vejoa todos como uma cidadã brasileira que ama seu país e não aceita indecência, mentira e imoralidade no Poder Público.

Marisa Cruz

Valéria Borborema disse...

Rudá, acha que faltou um pouco de clareza quando você diz que a imprensa "adotou" a presidente Dilma. Não vejo por esse lado. Se mudanças de atitude ocorreram desde as eleições - quando a grande mídia, salvo raras exceções, apoiou veladamente o candidato tucano José Serra - foram as atitudes da eleita que, diga-se de passagem, surpreenderam os que a adjetivavam de "poste". O fato é que ela, menos verborrágica que o ex-presidente Lula, seu mentor, até agora centrou atenção em medidas que julgou necessárias e trabalhou bem ao estilo mineiro: quieta e na prudência. O resultado são os números amplamente favoráveis em termos de aprovação popular. Na verdade, a presidente transmite algo que costumamos chamar de credibilidade. O que, aliás, creio, falta à oposição, esquálida e desvalida. Acho que você esqueceu-se de mencionar o esforço descomunal dos grandes jornais, e respectivos similares virtuais, para revestir de importância o pronunciamento de AN, tido por eles como eventual candidato à Presidência em 2014. Concordo com sua análise sobre o conteúdo esboçado pelo ex-governador de Minas. A fragilidade dos argumentos, a meu ver, demonstra que, hoje, o Brasil não possui líderes que realmente empolguem. Daí o fascínio por Lula, ex-retirante nordestino e ex-operário, e sua pupila, a primeira mulher presidente da Terra de Santa Cruz.

Rudá Ricci disse...

Respondo ao to-deolho e à Valéria:
1) Não sei se nos interessa analisar a claque de Lula ou Aécio. No meu caso, como sociólogo, não interessa em nada. O que avalio é que Aécio não conseguiu, ainda, capturar o capital político que ele tinha durante a pré-campanha eleitoral. Surpreendentemente, perdeu impacto e visibilidade. Ele não demorou tanto tempo para fazer este pequeno discurso por aguardar o melhor momento. Ele demorou porque tem dificuldades imensas de se enraizar no país;
2) Já Valéria vai para o caminho oposto ao do to-deolho. Minha avaliação é que Dilma foi adotada pela grande imprensa em função de uma postura de classe. Dilma é classe média tradicional: linguagem, discrição, rigor etc. Lula era expressão da classe operária de origem rural, místico, cordial e emotivo, agressivo e irônico, ambivalente nos valores, autoritário e solidário. Lula fala para as grandes massas em ascensão e Dilma não. A grande imprensa escreve justamente com a linguagem e para o público do qual Dilma utiliza e faz parte. Dilma é o bode retirado da sala: Lula e ela são do mesmo partido e ambos são de esquerda. Mas Dilma valoriza os valores dos editores. Lula, ao contrário, colocava esses valores no seu devido lugar.

Unknown disse...

Prezado Rudá, acho que seu comentario resposta foi extremamente objetivo, a questão dos valores é fundamental para se pensar as atitudes da imprensa, que até hoje não aceita o poder de comunicação do Lula com o povo, seu carisma,linguagem simples... mas principalmente o ideal do brasileiro comum que também pode inverter a lógica e romper o formalismo do cargo. E, finalmente até nos "defeitos" o Lula faz o povo se identificar.

Unknown disse...

Partidos do bloco de oposição ao governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), na Assembleia Legislativa do Estado, e integrantes da bancada do Estado no Congresso de apoio ao governo da presidente Dilma Rousseff organizaram um protesto e pedem explicações ao Executivo mineiro sobre uma prova aplicada a alunos da rede estadual de ensino. Em uma das questões da prova de código 326580 do Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar (PAAE), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece entregando dinheiro a políticos.





Os estudantes deveriam interpretar a charge e escolher uma das quatro possíveis respostas da questão. A correta, pelo gabarito do exame, seria a letra "D", segundo a qual o desenho "sugere, ironicamente, uma relação entre os movimentos sindicais do início da década de 1980 e o 'mensalão', refletindo sobre o processo histórico que levou os mesmos personagens de uma luta pela valorização do trabalhador à corrupção política".


O líder da minoria na Assembleia mineira, deputado Antônio Júlio (PMDB), classificou o exame como uma "forma de agressão, sem precedentes na história, de um presidente do nosso País". "É, no mínimo, uma falta de respeito enorme", declarou. Ele ressaltou que outras questões também tinham "direcionamento político para beneficiar o PSDB".




O parlamentar deu como exemplo outra questão que falava sobre as privatizações promovidas durante o governo do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. "Deram nossas empresas de graça, mas a resposta correta na prova era que as privatizações reduziram o déficit público para permitir ao governo direcionar recursos para áreas sociais", observou. "É um claro direcionamento para a proposta neoliberal, favorecendo o governo Fernando Henrique", acrescentou.





Uma cópia da prova foi apresentada pelo deputado estadual Rogério Correia (PT), líder do bloco de oposição na Assembleia mineira (formado por PT, PMDB, PCdoB e PRB) aos representantes do Estado na Câmara e no Senado. Por meio de nota, o bloco protestou contra o exame e afirma que o caso tem "gravidade tripla" por usar recursos públicos para fazer "luta partidária" e que se trata de "conduta caluniosa" por "impor uma versão unilateral" em um caso em que não há "sequer acusação formal a Lula".





A Secretaria de Estado da Educação (SEE) classificou a prova como equivocada e assumiu a responsabilidade pelo caso. Segundo a SEE, as provas do PAAE são geradas automaticamente, com base em um banco de dados composto por aproximadamente 57 mil itens. Ainda de acordo com a Secretaria, cerca de 35 mil questões ainda não foram revisadas e foram retiradas do banco de dados por ordem da secretária Ana Lúcia Gazzola. A SEE ainda está apurando a responsabilidade pela aplicação do exame e quais alunos da rede pública fizeram a prova.