sábado, 24 de abril de 2010
A entrevista sobre cursos para diretores
A entrevista que postei na nota abaixo teve a infelicidade de ser resumida em virtude do espaço disponível para a matéria. É um problema de difícil solução e, sinceramente, não há um culpado (já fui "foca" no Jornal da Tarde e sei da dificuldade). Aproveito, então, para explicar melhor minha opinião a respeito.
A jornalista da Folha perguntava sobre o que eu acho da oferta crescente de cursos para diretores de escolas e citou o exemplo de um curso baseado no modelo de gestão da General Motors. O exemplo me pareceu emblemático, em virtude das crises administrativas desta montadora, desde 2005, quando perdeu mercado para Toyota, Nissan e Hyundai. Mas o que procurei destacar é que os diretores não possuem tempo para pensar o pedagógico e que os diversos cursos ofertados pecam por desconhecer a realidade da escola. Pesquisas que estamos realizando para o Sinesp (sindicato de diretores e especialistas das escolas municipais de São Paulo) vêm revelando o quanto a gestão burocrática e excesso de demandas das instâncias superiores da educação pública sufocam o papel dirigente do diretor escolar. Por outro lado, os cursos para diretores não conseguem pensar a educação como interdisciplinar e, mais, se esquecem de pensar a peculiaridade da educação como eminentemente marcada por relações interpessoais. Estudo canadense (ver livro Desenvolvimento Humano organizado por David Olson, Editora ArtMed) revela que a relação de um aluno com uma disciplina não se relaciona tanto com sua vocação acadêmica, mas com a percepção que o aluno tem da avaliação que o professor faz de seu potencial. Trata-se, portanto, de uma relação absolutamente subjetiva e afetiva. Ora, os cursos para diretores, em sua quase totalidade, estão carregando tintas em processos administrativos de tipo corporativo, sem qualquer adaptação ou flexibilidade para o papel de líder educacional. Novamente, estamos adotando modelos ingleses e norte-americanos para uma realidade e cultura absolutamente distintos. Na Inglaterra e EUA, investiu-se tanto na formação em gestão de diretores de escolas e hospitais, que muitos acabaram revelando total desconhecimento das peculiaridades de um hospital e escola, pois fizeram carreira como administradores. Em NY, há déficit de 18% de diretores em escolas porque as grandes corporações caçam e contratam diretores escolares pagando-lhes altos salários. Sabemos que o desempenho dos alunos se relaciona com a característica de suas famílias e ambiente de moradia. Também sabemos que quanto mais tempo um diretor permanece neste cargo em uma única escola, o desempenho dos alunos melhora. Por qual motivo? Justamente porque ele se torna um líder comunitário, fazendo a ponte entre as famílias e os professores. E isto já foi constatado nas escolas mais bem avaliadas no mundo: as escolas públicas da Finlândia (ver PISA). A situação é ainda mais preocupante e urgente quando sabemos do ingresso de alunos emergentes, da nova classe média, cujos pais não têm hábito de leitura (vejam pesquisa citada em nota abaixo, neste blog, do Todos pela Educação).
Enfim, cursos sem conhecimento da realidade escolar e sem que as condições de trabalho dos diretores se altere revelam apenas a ampliação do mercado de cursos rápidos. Nada mais.
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