terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A política mineira em tempos de crise


Tentarei dar um giro na política mineira:

1) Começando pela disputa, em segundo turno, das eleições internas do PT que definem a direção do partido que comandará o processo eleitoral de 2010. Reginaldo Lopes, atual presidente e pró-Fernando Pimentel, na última parcial de ontem computava 21.148 votos. Seu adversário, Gleber Naime, pró-Patrus Ananias, computava 19.351 votos. Tinham sido apuradas as urnas de 465 municípios, 74,4% dos municípios que participaram deste processo eleitoral;

2) A diferença, portanto, é muito pequena. A massa de votos de Reginaldo tem origem na região metropolitana de Belo Horizonte. O PT sai desta eleição absolutamente dividido. Para quem acompanhou o processo todo, sabe que as feridas estão mais que abertas. É guerra de morte. Quem perder, perde tudo: Patrus ou Pimentel;

3) Se Reginaldo vencer, a disputa pela legenda ao governo estadual será das mais violentas. A possibilidade de Pimentel aumenta, sem dúvida. E isto significa o retorno da tese da "grande coalizão" entre PT e PSDB. Com a candidatura de Pimentel, a possibilidade de um chapão PMDB, PSDB e PT será enorme. Cristianizando ou não;

4) Se Gleber-Patrus vencem, a ruptura com o lulismo, em MG, será bem razoável. E Pimentel tentará uma vaga ao Senado. Mas retornará a possibilidade de se transferir para o PSB;

5) A situação de Aécio está mais confortável que nunca e joga pesado contra Serra. Faz sentido para ele porque se não for o candidato à Presidência da República, jogará toda responsabilidade por um fracasso da oposição em 2010 no colo do governador paulista. Continua acreditando que as chances de sua candidatura ao Palácio do Planalto são quase nulas. Mas o PSDB vai caminhando para seu maior impasse, em toda sua história de impasses. Estamos em dezembro e Aécio oscilou no seu dead line: dezembro ou janeiro. Teríamos, então, entre 20 e 50 dias para a cúpula tucana sair do ninho. Se Serra não criar alternativas para Aécio, joga-o contra a opinião pública e não haverá dúvidas que o governador mineiro salvará a pele, mesmo colocando o PSDB na maior crise política que já mergulhou;

6) O cenário para o PSDB é ainda pior com a crise DEM (que pode, efetivamente, levá-lo à condição de nanico em 2010). Os tucanos perderam seu maior aliado. Esta é a aposta de Aécio (talvez, para o futuro), como "conciliador", que agrega, ao contrário de Serra. Vai semeando para o futuro. Porque se Dilma vence as eleições, abre caminho para o retorno de Lula, numa possível composição com Aécio. Mas se Serra se elege Presidente da República, Aécio ainda teria a chance de compor com o lulismo. As alternativas para o mineiro, portanto, aumentam;

7) Assim, Minas Gerais parece contar mais para o futuro que São Paulo. São Paulo parece, neste momento, envelhecido politicamente. Não conseguiu forjar uma nova geração de políticos. Embora mais novo, Serra é da geração política de FHC. Minas Gerais, ao contrário, vive disputas abertas no interior dos dois principais partidos nacionais justamente porque tem novas lideranças que disputam projetos distintos. O ponto comum é que aqui, como lá e acolá, todo sistema partidário flutua ao redor do PT e PSDB. Meio monótono, reforçando o personalismo na política brasileira, mas é o ponto onde a democracia tupiniquim chegou: dois partidos dominantes que estreitam as opções dos eleitores. Daí a necessidade da reforma política, que garanta candidaturas avulsas, que implante o voto distrital misto, que institucionalize o reccall, que acabe com as eleições a cada dois anos, que aumente o controle social sobre a gestão pública. Só assim nos afastamos do enredo norte-americano.

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