terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Ainda sobre o raquitismo da direita brasileira
Vou tentar aprofundar os motivos da queda brutal da representação política da direita em nosso país.
Acredito que ela começou a minguar com o neoliberalismo. Explico: a direita brasileira sempre se alimentou de ódio. Reagiu ao perigo do fim de suas benesses. Não tivemos uma direita intelectualizada. Tivemos um ou outro formulador de direita, que não conseguiu orientar um pensamento conservador em nosso país. Algo estranho, porque a cultura política nacional é, também, conservadora. Ambivalente, é verdade. Mas a ambivalência carrega o conservadorismo.
O problema é que o sentimento de ódio e a reação são mais fortes na direita brasileira que a formulação. Diria que a direita brasileira é pouco inteligente, enfim.
Pois bem: o neoliberalismo foi uma formulação conservadora. Não foi somente liberal. Bobbio analisou claramente o cunho fascista da proposta neoliberal, porque ela não garantia direitos da maioria. O raciocínio de Bobbio era simples: o voto universal carrega consigo as demandas sociais, dos marginalizados. Assim, haveria uma relação direta entre democracia e ações de promoção social do Estado. Ao exigirem o fim dessas ações governamentais, o neoliberalismo cortava a relação direta entre voto e Estado. E criava um Estado que pairava sobre a sociedade (ou subordinava-o ao mercado).
Mas o problema é que o neoliberalismo era uma formulação. E nossa direita não saber formular. Sabe reagir. E justamente no momento em que poderia ser sua glória, teve início seu calvário. Porque os neoliberais brasileiros eram intelectuais da universidade. Concentraram-se principalmente no Rio de Janeiro. Vários tornaram-se consultores, diretores de banco. Foi o início da diáspora da universidade (que hoje gera sua profunda crise, como a da IUPERJ).
E o pensamento de direita (de uma direita que pensa com dificuldades) sofreu uma espécie de bonapartismo em nosso país. Ela passou a falar pela voz de outros. E perdeu sua identidade.
A direita brasileira perdeu representação política. Está sub-representada, porque existe. E nem está à espreita, porque não tem onde se esconder.
Não considero que esta situação seja uma vantagem para nossa democracia. Preferia que existisse ao menos um partido de direita com formulação. Até mesmo como um avesso da esquerda, um alerta, que exigisse mais atenção de todos, até mesmo para termos um limite nítido para sabermos, pela negação, o que a esquerda não é.
Sem a direita minimamente existente na política tupiniquim, acabamos trazendo para dentro da esquerda a diferença. Como ocorreu, inclusive, nos regimes de partido único.
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