quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Minha entrevista no Tribuna do Brasil e Estadão
Cenário favorável para Aécio
Para cientistas políticos, governador de MG acertou em estratégia
A decisão do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), de desistir da pré-candidatura à Presidência, vai continuar rendendo visitas ao Palácio da Liberdade durante muitas semanas. Na agenda de hoje estão confirmados os deputados federais tucanos Eduardo Gomes, do Tocantins, e Rodrigo de Castro, de Minas. Segundo fontes ligadas a Aécio, foi exatamente isso que o governador planejou. Quanto mais os tucanos o pressionarem a mudar de posição, melhor para ele.
Embora já tivesse desistido da candidatura há vários meses, ele esperou o "timing" certo para fazer o anúncio e assegurar seus reais objetivos. "Há tempos o cenário não era tão positivo para Aécio", comenta o sociólogo Rudá Ricci, um dos fundadores do PT de São Paulo que mudou-se para Minas há 15 anos "Ele estava jogando para a plateia, tornou-se de fato um Neves, com toda a habilidade para a arte da política, não é mais o neto do Tancredo."
Ricci não é o único dos intelectuais dedicados a compreender a complexa lógica da política mineira a apontar o acerto da estratégia de Aécio Neves. "No caso de José Serra perder a eleição de 2010, o que não é um cenário improvável, o PSDB cairá no colo de Aécio em 2014", aposta o cientista político Fábio Wanderley Reis. "Eles será o príncipe da oposição", define Rudá Ricci.
Nem Ricci nem Wanderley Reis acham que o governador de Minas está blefando ao dizer que nem cogita fazer parte de uma "chapa puro sangue", encabeçada por José Serra, como declarou anteontem (19), no norte de Minas. "O Aécio joga para o time dele, não joga para o PSDB", provoca Rudá Ricci.
Para eles, nem mesmo que José Serra desista da candidatura, em março de 2010, Aécio voltará atrás em sua decisão. A análise é simples. Serra só desistirá da candidatura se chegar a março em desvantagem, num ritmo de declínio nas pesquisas e vendo seus principais opositores - a ministra Dilma Rousseff (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PSB) - em ritmo de ascensão. Por que Aécio assumiria uma candidatura fadada ao fracasso sem tem uma eleição garantida para o Senado?
POSSIBILIDADES
Com um bom político mineiro, Aécio sabe que o importante é ter nas mãos muitas possibilidades. E é exatamente isso que ele terá indo para o Senado. Aliados do governador mineiro garantem que, para cada cenário possível, Aécio tem definidos quais serão seus passos.
Na hipótese de o vice-presidente José Alencar se candidatar mesmo ao Senado, como vem anunciando, é pouco provável que a dupla de senadores eleitos por Minas Gerais em 2010 não seja a de Aécio e José Alencar. E os dois - costumam lembrar os analistas - jogam no mesmo time: o "partido de Minas"
Seja quem for o presidente da República, Dilma ou Ciro (embora ele prefira Ciro), o governador de Minas estará em situação favorável, com prestígio e repercussão nacional. Do Senado, estará em condições de defender o seu projeto de conciliação, com PSDB e PT próximos o suficiente para defender as mesmas propostas para o País. "No Brasil, não há mais disputa de partidos, a disputa é de projetos", argumenta Ricci. "E o Aécio tem o projeto dele."
Neste sentido, se o PT ligado ao ex-prefeito Fernando Pimentel conseguir ganhar o Palácio da Liberdade, não será problema para Aécio. Pelo contrário. A ligação do governador e do ex-prefeito é notória. Na eleição para prefeitura, no ano passado, os dois arriscaram o capital político de ambos para testar o tal projeto de conciliação e eleger um aliado do PSB, Márcio Lacerda, como prefeito de Belo Horizonte.
De acordo com analistas, as viagens pelo interior ao lado do vice-governador Antônio Anastasia (PSDB) têm mais relação com a reconstrução da base de apoio do próprio Aécio do que com a campanha para de Anastasia. Os resultados das eleições municipais de 2008 mostraram que Aécio perdeu poder no interior, muito em consequência da disputa interna do PSDB mineiro, entre o secretário Danilo de Castro e o deputado Nárcio Rodrigues.
"São essas fissuras pelo interior que o Aécio quer recosturar", diz Rudá Ricci. Ele lembra que Antônio Anastasia é um aliado útil, um intelectual sem qualquer ambição política, que só se filiou ao PSDB a pedido do próprio governador. "Aécio só vai se empenhar para que Anastasia ganhe a eleição se o adversário for Patrus Ananias (ministro do Desenvolvimento Social, do PT)", prevê o sociólogo. "Podem apostar."
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