quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Carta de Alípio Freire em apoio a Paulo Vannuchi
Conheci Alípio nas reuniões do diretório zonal do PT de Perdizes. Ele e sua companheira, que formavam um lindo casal de baianos alegres, francos e generosos. Um casal que continua em minha memória, como legítimos militantes de esquerda (ao menos, como imagino que devam ser). Recebo, agora, acarta de Alípio em apoio ao ministro Paulo Vannuchi. O mínimo que me cabe é reproduzir neste blog, na íntegra:
"Carta aberta a Paulo Vannuchi, Ministro, Cidadão Brasileiro, Companheiro e Amigo
Alipio Freire
Caro Paulo,
Acabo de tomar conhecimento da notícia (abaixo) sobre a ameaça de pedido de demissão do ministro da Defesa Nelson Jobim, e dos seus patronos, os comandantes das Três Armas, e da negociação encaminhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A indignidade e o golpismo desses setores representados pelo ministro Jobim e os três comandantes não nos surpreende. Não nos surpreende sequer a escolha dos momentos de maior desmobilização (como as festas de final de ano) para que façam suas chantagens e gerem crises: entre outras medidas, o Ato Institucional Número 5 também foi anunciado na noite de uma sexta-feira, às vésperas das festas de final de ano de 1968 (13 de dezembro).
Gostaria sinceramente de me orgulhar das nossas Forças Armadas, que nos deram homens da envergadura de João Cândido, Luiz Carlos Prestes, Apolônio de Carvalho, Henrique Dufles Teixeira Lott, Alfeu D'Alcântara Monteiro, Carlos Lamarca - para ficarmos apenas no universo dos nomes mais conhecidos publicamente, sem citar os milhares de Marco Antônio da Silva Lima, José Raimundo da Costa, Otacílio Pereira da Silva, José Mariane Alves Ferreira, Onofre Pinto e tantos outros, alguns dos quais constam da lista daqueles que foram assassinados e outros que, além de assassinados, tiveram seus cadáveres ocultados - os "desaparecidos", por ordem de seus antigos companheiros de farda. A verdade, porém, é que a cúpula atual das nossas Armas, em sua grande maioria, pouco difere daqueles energúmenos que rasgaram a nossa Constituição com o golpe de 1964, e instalaram o Terror de Estado, para garantir os privilégios da elite econômica, o esbulho da classe trabalhadora e do nosso povo, e instituir consignas aviltantes, do tipo "O que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil". Assim, por maior que sejam a minha boa vontade e meu esforço nesse sentido, não há como nos orgulharmos de instituições comandadas por políticas desse tipo. Mas, um dia as mudaremos, também.
Sim, senhor Ministro; sim, Cidadão Paulo Vannuchi; sim meu amigo e companheiro de todas as lutas e jornadas pela democratização e aprofundamento da democracia em nosso país: esses senhores de hoje são os mesmos de sempre. São aqueles mesmos que, com base na truculenta Doutrina de Segurança Nacional forjada no War College de Washington no imediato pós Guerra, forjaram a Lei de Segurança Nacional - LSN, que vigorou durante a ditadura, até ser derrubada pelas nossas jornadas democráticas da segunda metade dos anos 1970 e início dos 1980. A mesma torpe e sinistra LSN que o senhor ministro da Defesa Nelson Jobim tenta hoje restaurar, a mando dos seus superiores (os comandantes das Três Armas), a serviço dos interesses que em 1964empolgaram grande parte da cúpula militar de então. Uma Doutrina e uma Lei de Segurança Nacional que transforma a nossa classe trabalhadora, nosso povo e todos os democratas e homens e mulheres de bem deste País, em "inimigos internos", e achincalha nosso Exército, Marinha e Aeronáutica, conferindo-lhes o papel de polícias, de forças repressivas contra os nossos melhores cidadãos e cidadãs. Uma Doutrina e Lei de Segurança Nacional que transformam, enfim, nossas Forças Armadas, em Forças de Ocupação Interna, para a defesa dos interesses dos grandes centros econômicos internacionais, retirando-lhes e invertendo, assim, o papel mais digno, honrado e decente que deveriam cumprir: o de defensores da nossa soberania, e fiadores da nossa Constituição.
A impostura que eles e seus representados têm utilizado, é a questão do "revanchismo", cada vez que falamos responsabilização judicial e punição nos termos das leis da Nossa República, que devem ser aperfeiçoadas nesse sentido. E isto, ainda que, a rigor, sequer necessitemos mudanças na atual Lei da Anistia, para levarmos aos nossos tribunais de hoje, os celerados de antanho. A leitura e argumentos do professor e jurista Fábio Konder Comparato sobre o texto da Lei de Anistia em vigor, especialmente no que diz respeito aos "crimes conexos", são suficientes para levarmos em frente os processos - e esses generais, brigadeiros e almirantes que ora se insubordinam, sabem disto.
E sabem também que "revanchismo" seria pretender que os acusados (diretos ou indiretos) de crimes de tortura fossem seqüestrados, levados para cárceres clandestinos onde permaneceriam desaparecidos durante o tempo que melhor aprouvesse aos seus seqüestradores; onde seriam interrogados sob as mais aviltantes torturas; e, depois, aqueles que sobrevivessem aos meses de incomunicabilidade e sevícias, que sobrevivessem ao chamado "terror dos porões", fossem submetidos à farsa burlesca do julgamento nos tribunais de guerra. Esses senhores sabem muito bem que não nos propomos a isto a que fomos submetidos; que não nos propomos a qualquer terror que lembre, sequer aparentemente, os métodos por eles utilizados, e que agora tentam acobertar. Sabem muito bem que somos homens e mulheres formados em outros princípios, e que jamais nos utilizaríamos de qualquer dos seus métodos, ou com eles seríamos coniventes. O que pretendemos pura e simplesmente é apenas responsabilização judicial e punição nos termos das leis da nossa República, dos responsáveis diretos pelas torturas e de seus mandantes, garantindo-lhes todo o direito de assistência jurídica e de defesa.
Exercer e/ou aperfeiçoar os mecanismos legais que constituem a República, é praticar a democracia - pois, para nós, a democracia é o exercício permanente de direitos isonômicos, e não um palavreado ambíguo e balofo, um florilégio para ornamentar discursos autoritários de lobos travestidos de cordeiros, como as recentes chantagens de pedido de demissão e criação de uma crise militar, num momento em que os chamados movimentos e organizações da sociedade civil estão desmobilizados, o Congresso Nacional e demais esferas legislativas em recesso e, no que diz respeito ao Judiciário, o País está à mercê do arbítrio pessoal de um trânsfuga que ocupará a Presidência do Supremo Tribunal Federal até o próximo dia 31 de dezembro, o doutor Gilmar Mendes.
Obviamente, num quadro como o descrito acima, o armistício foi a saída imediata possível - até por que, uma guerra não se perde e não se ganha numa única batalha. Além disto, nenhuma vitória (bem como nenhuma derrota) é definitiva. O certo é que nessa medição de forças experimentada - cujo desfecho esperado pelo ministro Jobim e seus patrões, seria a queda do ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos - Paulo Vannuchi, tal não aconteceu e, se depender dos setores democráticos e mais bem informados do nosso povo, ao contrário do que pretendem os três comandantes militares (os homens fortes do Ministério da Defesa), quem poderá cair será o próprio senhor Nelson Jobim - o que entendemos, seria um grande avanço para a nossa ainda frágil democracia.
E não se trata de triunfalismo, ou efeito retórico: apesar da desmobilização de final de ano, lançado há apenas duas semanas, o Manifesto Contra Anistia a Torturadores, da Associação Juízes para a Democracia e dirigido aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Procurador Geral da República e que circula na internet (acesse http://www.ajd.org.br/contraanistia_port.php), já reuniu cerca de 10mil assinaturas. Iremos reforça-lo.
Sem dúvida, o respaldo do senhor Jobim - além dos tanques e baionetas, que encarnam apenas o braço armado de um conjunto de interesses econômicos e eleitorais - são aquelas mesmas forças que tramaram e organizaram há cerca de dois anos a crise dos aeroportos, cuja culminância foi um dos maiores desastres aéreos dos últimos tempos, com mais de duas centenas de mortos, no aeroporto de Congonhas. Mas, que importância têm vidas humanas para ambições políticas, econômicas e pessoais de homens como o doutor Jobim e seus pares? O importante para eles é que toda a armação tramada resultou na queda do então ministro da Defesa, senhor Valdir Pires, e na ascensão do senhor Nelson Jobim.
Apenas para refrescar as nossas memórias, lembramos que, a primeira visita feita em São Paulo pelo ministro Jobim, depois de se deixar fotografar fantasiado de bombeiro entre os escombros do avião acidentado, foi ao seu amigo de longa data, o governador José Serra.
Entre outros, os interesses eleitoreiros da crise inaugurada neste 22 de dezembro de2009 são tão óbvios, que nem merecem que os analisemos - sobretudo depois das sucessivas investidas neste sentido, ao longo deste ano (2009). Sobre o que eles prometem para o próximo ano, basta acessarmos "Reparação", no link http://www.youtube.com/watch?v=8d61_1u1s2o - três minutos do trailer oficial do documentário longa-metragem que a direita lançará em 2010. Verdadeiro primor: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, lado a lado com outros coristas da dimensão do jornalista Demétrio Magnoli e do acadêmico Marco Antônio Villa - sim, amigo Vannuchi, uma verdadeira quadrilha naturalista (talvez não tão naturalista...).
Mas, continuaremos as nossas batalhas - que não começaram ontem, nem acabarão amanhã. E temos ainda toda energia necessária para as enfrentar e vencer. A mesma energia que nos garantiu poder chegar aos dias de hoje, de cabeça erguida, podendo olhar nos olhos de qualquer cidadão, pois jamais fomos reféns de quem quer que fosse, menos ainda, de canalhas.
A esse respeito, é muito interessante lermos e relermos cuidadosamente o depoimento(ver no pé desta mensagem) do coronel e torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o DOI-COD e que está sendo processado por familiares de algumas das suas vítimas: uma obra prima de ameaças e chantagens contra seus superiores hierárquicos nos tempos da ditadura. Lá estão todos os nomes. É como se o senhor Ustra dissesse: "Não senhores, não cairei sozinho. Tratem de livrar a minha barra, pois, do contrário, arrasto todos comigo". Imagine, caro ministro Vannuchi, o pânico desses quatro senhores que ameaçaram criar uma crise militar... como se dizia em gíria de cadeia, "o maior sapo-seco", "uma p... sugesta!".
Pois é, meu Companheiro Vannucchi, seguimos mais uma vez juntos, e até o fim, nesta nova trincheira onde, mais uma vez ainda, o que está em jogo é a classe trabalhadora, o povo e todos os/as democratas e homens e mulheres de bem deste País.
Com o mais forte e fraternal abraço,
ao Ministro, ao Cidadão Brasileiro, ao Companheiro e ao Amigo,
de Alipio Freire"
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Projeções de Marcelo Neri sobre queda da pobreza no Brasil
Excerto de seu artigo recém divulgado:
"Agora quão razoável seria esse cenário de repetir a mudanças ocorridas nos cinco anos de 2003 a 2008 nos próximos cinco de 2010 a 2014. A análise por fonte de renda mostra um crescimento da renda do trabalho no período 2003-08 tão forte quanto as demais, o que sugere alguma sustentabilidade do processo de crescimento com redistribuição pregresso, interrompido mas não revertido com a crise. A tendência das séries de anos de estudo, fundamental tanto para a literatura de crescimento como da de desigualdade dão suporte tanto em nível como dispersão a continuidade da trajetória de crescimento. Nesse aspecto há que se lembrar dos problemas de qualidade de educação - que aqui representam oportunidades de melhorar que é o que importa quando se fala em crescimento, uma vez que hoje há aferição de proficiência por escola pública e metas de desempenho traçadas. Vou centrar inicialmente num cenário de prazo mais longo encerrado em 2014. Projetaremos para frente o crescimento e a redução de desigualdade do período 2003-08. Esse cenário é possível de ser quantificado usando a desigualdade observada no Espírito do Santo em 2008. Nesse caso é possível obter uma redução de pobreza à metade, 50,32% dos níveis de hoje, isto é caindo de 16,02% da população em 2008 para 7,96% em 2015. Ora, 2014 é a véspera da data final das metas do milênio. Nós já cumprimos a primeira meta do milênio de fazer a pobreza cair à metade em metade do tempo. Isso significa cumpri-la de novo em cinco anos ao invés de 25 anos. A consequência desse movimento em
termos das demais classes é o seguinte: queda da classe D de 18,28% (de 24,35% para 19,9%), aumento da classe C de 14,75% (de 49,2% para 56,48%) e aumento proporcional da classe AB de 50,3% (de 10,48% para 15,66% da população). Ou seja, o cenário auspicioso mostra que se a pobreza cai à metade, a classe AB dobra.
Vamos ilustrar o impacto da desigualdade em cenários assumindo um crescimento balanceado - uma situação onde a desigualdade nem aumenta nem cai. A proporção de pobres cairia 33,32% em cinco anos nesse cenário de crescimento neutro contra 50,32% ajudado pela redução da desigualdade. Ou seja, a pobreza cai pouco mais de 50% a mais se a redistribuição dos últimos anos retornar.
Mas e a curtíssimo prazo? Se ancorarmos 2010 no cenário para 2014, no cenário de redução do Gini dos últimos anos a pobreza cairia cerca de 10% em 2010. Se olharmos todos os possíveis limitadores da nossa expansão de curto prazo, inflação, déficits público e externo não há restrições a vista. O desaquecimento da economia mundial tem sido compensado pelo crescimento do mercado interno impulsionado pela redução do hiato mais brasileiro de todos, a desigualdade. Se não há fatores restritivos para além da restrição dos mercados externos, no curtíssimo prazo há fatores expansionistas no radar. O efeito estatístico denominado "carry-over" que jogou contra em 2009, ano de desaceleração, irá jogar a favor no ano seguinte. A redução generalizada de estoques ocorrida em 2009 sugere que os empresários previram uma recessão pior que a ocorrida e essa queda de estoques atuará como fator expansionista no futuro. O mesmo efeito ocorreu com o emprego formal que já revela a partir de outubro de 2009 sua face expansionista. Finalmente, se 2010 seguir a tradição de todos os anos eleitorais da nova democracia brasileira (na verdade desde
1981), há que se esperar ganho em todas as fontes de renda, nas transferências
públicas em particular."
Marcelo Côrtes Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais do IBRE/FGV e professor da EPGE/FGV
"Agora quão razoável seria esse cenário de repetir a mudanças ocorridas nos cinco anos de 2003 a 2008 nos próximos cinco de 2010 a 2014. A análise por fonte de renda mostra um crescimento da renda do trabalho no período 2003-08 tão forte quanto as demais, o que sugere alguma sustentabilidade do processo de crescimento com redistribuição pregresso, interrompido mas não revertido com a crise. A tendência das séries de anos de estudo, fundamental tanto para a literatura de crescimento como da de desigualdade dão suporte tanto em nível como dispersão a continuidade da trajetória de crescimento. Nesse aspecto há que se lembrar dos problemas de qualidade de educação - que aqui representam oportunidades de melhorar que é o que importa quando se fala em crescimento, uma vez que hoje há aferição de proficiência por escola pública e metas de desempenho traçadas. Vou centrar inicialmente num cenário de prazo mais longo encerrado em 2014. Projetaremos para frente o crescimento e a redução de desigualdade do período 2003-08. Esse cenário é possível de ser quantificado usando a desigualdade observada no Espírito do Santo em 2008. Nesse caso é possível obter uma redução de pobreza à metade, 50,32% dos níveis de hoje, isto é caindo de 16,02% da população em 2008 para 7,96% em 2015. Ora, 2014 é a véspera da data final das metas do milênio. Nós já cumprimos a primeira meta do milênio de fazer a pobreza cair à metade em metade do tempo. Isso significa cumpri-la de novo em cinco anos ao invés de 25 anos. A consequência desse movimento em
termos das demais classes é o seguinte: queda da classe D de 18,28% (de 24,35% para 19,9%), aumento da classe C de 14,75% (de 49,2% para 56,48%) e aumento proporcional da classe AB de 50,3% (de 10,48% para 15,66% da população). Ou seja, o cenário auspicioso mostra que se a pobreza cai à metade, a classe AB dobra.
Vamos ilustrar o impacto da desigualdade em cenários assumindo um crescimento balanceado - uma situação onde a desigualdade nem aumenta nem cai. A proporção de pobres cairia 33,32% em cinco anos nesse cenário de crescimento neutro contra 50,32% ajudado pela redução da desigualdade. Ou seja, a pobreza cai pouco mais de 50% a mais se a redistribuição dos últimos anos retornar.
Mas e a curtíssimo prazo? Se ancorarmos 2010 no cenário para 2014, no cenário de redução do Gini dos últimos anos a pobreza cairia cerca de 10% em 2010. Se olharmos todos os possíveis limitadores da nossa expansão de curto prazo, inflação, déficits público e externo não há restrições a vista. O desaquecimento da economia mundial tem sido compensado pelo crescimento do mercado interno impulsionado pela redução do hiato mais brasileiro de todos, a desigualdade. Se não há fatores restritivos para além da restrição dos mercados externos, no curtíssimo prazo há fatores expansionistas no radar. O efeito estatístico denominado "carry-over" que jogou contra em 2009, ano de desaceleração, irá jogar a favor no ano seguinte. A redução generalizada de estoques ocorrida em 2009 sugere que os empresários previram uma recessão pior que a ocorrida e essa queda de estoques atuará como fator expansionista no futuro. O mesmo efeito ocorreu com o emprego formal que já revela a partir de outubro de 2009 sua face expansionista. Finalmente, se 2010 seguir a tradição de todos os anos eleitorais da nova democracia brasileira (na verdade desde
1981), há que se esperar ganho em todas as fontes de renda, nas transferências
públicas em particular."
Marcelo Côrtes Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais do IBRE/FGV e professor da EPGE/FGV
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terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Agronegócio atrai 30% dos investimentos estrangeiros no Brasil
O jornal Valor Econômico revela que levatamento do Banco Central indica que o agronegócio atraiu US$ 46,9 bilhões, quase um terço dos investimentos estrangeiros diretos (IED) feitos no país entre 2002 e 2008. A maior parte dos investimentos foi para a ampliação das operações da agroindústria fornecedora de insumos. A compra de terras avançou. Nos 11 Estados responsáveis por 90% dos registros, há 1.396municípios com comunicado oficial de terras compradas por estrangeiros. Em 124 desses municípios, metade das áreas de médias e grandes propriedades está em nome deles, que, no total, têm a posse de 3,6 milhões de hectares nas regiões Sul e Centro-Oeste, além de São Paulo, Minas, Bahia, Pará, Tocantins e Amazonas. Os alvos são o grande potencial das terras para produzir commodities e matérias-primas para biocombustíveis, além da própria valorização das propriedades, como mostram as recentes incorporações das usinas da Santelisa Vale pela francesa Louis Dreyfus e do grupo Moema pela americana Bunge. Na moagem da cana, a fatia estrangeira dará em 2010 um salto de 8 pontos percentuais, para atingir 20% do total.
Fundos de investimentos e de hedge são os mais ativos na compra de terras brasileiras, avalia o professor Dung Nguyen, da Universidade de Pittsburgh (EUA), um especialista no assunto.
O mais interessante do estudo do BC é que quanto maior o IED na agroindústria, menor o valor da produção agropecuária - quando a concentração agroindustrial aumenta e o poder das empresas cresce, os ganhos dos produtores diminuem. Especulação pura!
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
Zé Dirceu continua no meu pé
sábado, 26 de dezembro de 2009
Novo Jornal ataca Danilo de Castro,
O Novo Jornal (ver aqui) publica várias matérias denunciando ações do operador político e Secretário de Governo da gestão Aécio Neves. Reproduzo parte de uma das matérias:
Afinal quem é Danilo de Castro?
"Afinal quem é este senhor que por mais de 25 anos pratica impunemente todo tipo de crime? Sua atuação vai desde a fraude fiscal e licitatória até a venda de proteção para prática de crimes bancários ecológicos e comerciais. (...) Apenas em Brasília, Distrito Federal, responde a seis Ações Populares e três Civis Públicas, depois de ter seus bens existentes no país bloqueados. As ações de ressarcimento de bens ajuizadas pelo Ministério Público Federal contra Danilo de Castro, se atualizadas, passam da casa do bilhão de real. Em Minas Gerais seu principal esquema funciona na Zona da Mata mineira, aonde vem impunemente operando com desenvoltura. Sobre os prefeitos, vereadores, delegados e comandantes da Polícia Militar (PM) da região, além dos deputados estaduais, Danilo de Castro tem controle absoluto. Sem qualquer escrúpulo introduziu na região, seja no setor público ou no setor privado, as piores práticas criminosas. Não existe na região um prefeito ou ex-prefeito que o apóie que não esteja sendo processado. Contudo, como o mesmo gosta de dizer: “Nos últimos oito anos fui eu quem concedeu todos os aumentos de salários e benefícios aos juízes, desembargadores e promotores em Minas Gerais”. Evidente que, como condutor das negociações entre os poderes e o Palácio da Liberdade sendo a autoridade máxima no relacionamento com os deputados estaduais, realmente tudo isto passou por suas mãos, porém é necessário que seja dito que nestas instituições existem pessoas sérias que não negociam suas opiniões, votos e decisões. Impedido de ser candidato a deputado federal lançou seu filho Rodrigo de Castro que elegeu-se deputado federal por Minas Gerais como um dos mais bem votados do país. (...) De um contabilista sem título superior, que há 35 anos andava pelas ruas de Viçosa oferecendo seus serviços, transformou-se no “poderoso articulador político” com plenos poderes."
Como diz Lula: "rei morto, rei posto". Agora começam a chutar de todos os lados.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Tucanos e Lulistas: conter ou desenvolver?
Os tucanos estão se notabilizando pela contenção de gastos e procuram marcar a imagem de gestores. Os lulistas assumem a dianteira em relação ao fomento do desenvolvimento nacional. Assim, uns parecem firmar seu perfil em períodos de contenção e outros em períodos de bonança.
Não seria mais um risco não percebido pelos tucanos?
Espírito de Nostradamus
O que pode acontecer em 2010?
1) Crescimento da economia entre 5% e 6%;
2) Inflação em alta (moderada);
3) Aumento do déficit da balança de pagamentos;
4) Aumeto da taxa SELIC, para frear inflação e aquecimento geral da economia;
5) Inundação de produtos importados, exigindo maior investimento em produtividade interna;
6) Aumento de produtividade gerando aceleração do processo de urbanização e da atração das cidade médias do país;
7) Aumento do peso relativo da Classe C (em virtude do aumento real do salário mínimo e das pensões e aposentadorias);
8) Crescimento constante (nem sempre tão elevada) da arrecadação pública a partir de março;
9) Perda de impacto público de ações de movimentos e organizações rurais (como o MST).
TALVEZ:
1) Empate técnico entre Dilma e Serra em março ou abril;
2) Serra criando fato político em abril;
3) Aumento de agressividade do petismo oficial, com a volta dos "aloprados" à direção nacional do partido;
4) País firma-se como Potência Mundial, juntamente com China e Índia, deixando Rússia para trás (Brasil chegando à 7a Potência no ranking do Banco Mundial);
5) Crise se agrava na Irlanda, Inglaterra, Espanha, Ucrânia, Bulgária, Grécia, Hungria;
6) Volta da gripe suína, em abril (aqui no hemisfério sul).
Natal e caneta Parker, por Raul Bastos
" 1) nunca mais o mundo haverá uma goiabada cascão como a que era vendida no Emporio Godinho, lá perto da Camara. 2) nunca ninguem namorou com tanto desejo e perseverança como eu amei uma caneta Parker 51 azul que me olhava com alguma simpatia da vitrine na Casa das Canetas que ficava lá naquela ruazinha em frente às escadarias que iam dar na Camara Municipal.
A Casa das Canetas, depois, quando a Camara se foi, foi parar no Martinelli e hoje, deslocada, assustada e perplexa, foi literalmente dar com os costados e vive às moscas num desses bairros da moda onde a moda é comprar computador e não canetas e onde escrever à mão é uma heresia, ou melhor, onde escrever é uma heresia. Um cartão de Natal então nem pensa pela simples e boal razão de que a máquina pode resolver essa chateação. Com o tempo a maioria fará o mesmo, se é que já não está pensando porque o pressuposto não é valorizar o que escrever mas sim por onde se escreve.
Desculpe...... é o jurassico dentro de mim que vez ou outra e muito mais do que o recomendavel sai e fica latindo contra o progresso,um imbecil esse TiranusRexBastos.
No mais, você,evidentemente, nunca vai precisar pedir licença para nada pela simples e boa razão de que comigo você tem franquia, a fraquia, franquia absoluta.
La se vão (meu Deus eu escrevi isso), 51 anos de convivencia de dois meninos ligeiramente perplexos e muito assustados naquela maravilhosa redação que começava a dar sentido e razão às nossas vidas. E deu.
Hoje Ligeiramente assustado e bastante perplexo mas torcendo para que ninguem (dos que valem a pena, é claro) desista, como você está nos ensinando não desistir, aceite um um beijo dobrado, um suspiro roubado e uma amizade sem fim, igualzinho às das Irmãs Galvão, que hoje estou me sentindo meio velhinho e muito sentimental.
FELIZES SERÃO OS ANOS NOVOS"
Os sentimentos despertados por Lula
Hoje, no Estadão, Gilles Lapouge comenta a deferência do Le Monde à Lula. Termina seu artigo assim:
"E nos dizemos que a Providência e o destino dos povos, tão cega, tão mal inspirada ou tão frívola no geral, desta vez acertou em cheio. Uma figura simpática como essa, realmente vale a pena."
Fiquei pensando se algum articulista da grande imprensa tupiniquim escreveria algo assim de Lula. É óbvio que não. Recentemente, troquei emails com Merval Pereira, d´O Globo, motivado por um texto que publicou em sua coluna diária em que dizia que Lula fingiu ser quem não é no COP15. Resumindo, dizia que Lula errou porque acertou. Parece demais.
Os artigos, em geral, dos articulistas da grande imprensa, parecem excessivamente contaminados por um ódio pouco disfarçado. Minha opinião é que não se trata de um ódio ideológico ou de classe, mas corporativo. Explico: com Lula, a imprensa sentiu seu prestígio de formador de opinião despencar. Este conceito - formação de opinião- tão elitista e auto-promocional, ruiu com a emergência da nova classe média. Já citei este fenômeno várias vezes neste blog.
Mas o efeito sobre os articulistas de alta cepa merece uma análise - quase uma psicoanálise - mais apurada. Fico imaginando até que ponto a empresa resistirá à mudança do perfil do consumidor. Explico: os grandes jornais - em queda livre de vendas - permanecerão com estes articulistas ou o mercado falará mais alto? É estranho porque justamente estes "formadores de opinião" que defendem com tanta garra o mercado são os que menos ouvem as vozes da rua. Preferem, num ato de arrogância, questionar (ao invés de compreender) o que não se alinha ao que pensam e ditam, como se tudo fosse um caso pensado de populismo ou caudilhismo. Argumentos de época passada, obviamente. O Brasil não é mais constituído de uma massa amorfa, formada ao largo do poder real e da cultura não folclorizada. Porque folclore é visto como perene, tradição, porque é coisa de massa amorfa. Já cultura elitizada se recria, porque é pensada, fruto de mentes brilhantes e estudadas.
Nossos articulistas vivem desta diferença entre folclore e cultura elitizada. O populismo como folclor ressurgido das cinzas para o desprazer de quem escreve para recriar a cultura superior de nosso país.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Le Monde: "Lula é o cara"
O jornal francês Le Monde escolheu o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva como o "homem do ano" em 2009. Em sua edição de hoje, o Le Monde elogia o presidente brasileiro por conceder uma nova imagem à América Latina. O diário afirmou também que Lula criou uma nação dinâmica e democrática, que luta contra a pobreza e promove o crescimento econômico. O Brasil e a França têm estreitado seus laços, assim como seus presidentes.
No último dia 11, o jornal espanhol "El País" colocou Lula na lista dos "100 do Ano". Na ocasião, o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, escreveu um texto bastante elogioso sobre o presidente brasileiro. No perfil elaborado por ele, Zapatero demonstra sua "profunda admiração" por Lula. Intitulado "O homem que assombra o mundo", o texto lembra a origem humilde do presidente e sua passagem pelo sindicalismo.
No último dia 11, o jornal espanhol "El País" colocou Lula na lista dos "100 do Ano". Na ocasião, o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, escreveu um texto bastante elogioso sobre o presidente brasileiro. No perfil elaborado por ele, Zapatero demonstra sua "profunda admiração" por Lula. Intitulado "O homem que assombra o mundo", o texto lembra a origem humilde do presidente e sua passagem pelo sindicalismo.
Minha entrevista no Tribuna do Brasil e Estadão
Cenário favorável para Aécio
Para cientistas políticos, governador de MG acertou em estratégia
A decisão do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), de desistir da pré-candidatura à Presidência, vai continuar rendendo visitas ao Palácio da Liberdade durante muitas semanas. Na agenda de hoje estão confirmados os deputados federais tucanos Eduardo Gomes, do Tocantins, e Rodrigo de Castro, de Minas. Segundo fontes ligadas a Aécio, foi exatamente isso que o governador planejou. Quanto mais os tucanos o pressionarem a mudar de posição, melhor para ele.
Embora já tivesse desistido da candidatura há vários meses, ele esperou o "timing" certo para fazer o anúncio e assegurar seus reais objetivos. "Há tempos o cenário não era tão positivo para Aécio", comenta o sociólogo Rudá Ricci, um dos fundadores do PT de São Paulo que mudou-se para Minas há 15 anos "Ele estava jogando para a plateia, tornou-se de fato um Neves, com toda a habilidade para a arte da política, não é mais o neto do Tancredo."
Ricci não é o único dos intelectuais dedicados a compreender a complexa lógica da política mineira a apontar o acerto da estratégia de Aécio Neves. "No caso de José Serra perder a eleição de 2010, o que não é um cenário improvável, o PSDB cairá no colo de Aécio em 2014", aposta o cientista político Fábio Wanderley Reis. "Eles será o príncipe da oposição", define Rudá Ricci.
Nem Ricci nem Wanderley Reis acham que o governador de Minas está blefando ao dizer que nem cogita fazer parte de uma "chapa puro sangue", encabeçada por José Serra, como declarou anteontem (19), no norte de Minas. "O Aécio joga para o time dele, não joga para o PSDB", provoca Rudá Ricci.
Para eles, nem mesmo que José Serra desista da candidatura, em março de 2010, Aécio voltará atrás em sua decisão. A análise é simples. Serra só desistirá da candidatura se chegar a março em desvantagem, num ritmo de declínio nas pesquisas e vendo seus principais opositores - a ministra Dilma Rousseff (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PSB) - em ritmo de ascensão. Por que Aécio assumiria uma candidatura fadada ao fracasso sem tem uma eleição garantida para o Senado?
POSSIBILIDADES
Com um bom político mineiro, Aécio sabe que o importante é ter nas mãos muitas possibilidades. E é exatamente isso que ele terá indo para o Senado. Aliados do governador mineiro garantem que, para cada cenário possível, Aécio tem definidos quais serão seus passos.
Na hipótese de o vice-presidente José Alencar se candidatar mesmo ao Senado, como vem anunciando, é pouco provável que a dupla de senadores eleitos por Minas Gerais em 2010 não seja a de Aécio e José Alencar. E os dois - costumam lembrar os analistas - jogam no mesmo time: o "partido de Minas"
Seja quem for o presidente da República, Dilma ou Ciro (embora ele prefira Ciro), o governador de Minas estará em situação favorável, com prestígio e repercussão nacional. Do Senado, estará em condições de defender o seu projeto de conciliação, com PSDB e PT próximos o suficiente para defender as mesmas propostas para o País. "No Brasil, não há mais disputa de partidos, a disputa é de projetos", argumenta Ricci. "E o Aécio tem o projeto dele."
Neste sentido, se o PT ligado ao ex-prefeito Fernando Pimentel conseguir ganhar o Palácio da Liberdade, não será problema para Aécio. Pelo contrário. A ligação do governador e do ex-prefeito é notória. Na eleição para prefeitura, no ano passado, os dois arriscaram o capital político de ambos para testar o tal projeto de conciliação e eleger um aliado do PSB, Márcio Lacerda, como prefeito de Belo Horizonte.
De acordo com analistas, as viagens pelo interior ao lado do vice-governador Antônio Anastasia (PSDB) têm mais relação com a reconstrução da base de apoio do próprio Aécio do que com a campanha para de Anastasia. Os resultados das eleições municipais de 2008 mostraram que Aécio perdeu poder no interior, muito em consequência da disputa interna do PSDB mineiro, entre o secretário Danilo de Castro e o deputado Nárcio Rodrigues.
"São essas fissuras pelo interior que o Aécio quer recosturar", diz Rudá Ricci. Ele lembra que Antônio Anastasia é um aliado útil, um intelectual sem qualquer ambição política, que só se filiou ao PSDB a pedido do próprio governador. "Aécio só vai se empenhar para que Anastasia ganhe a eleição se o adversário for Patrus Ananias (ministro do Desenvolvimento Social, do PT)", prevê o sociólogo. "Podem apostar."
Mauro Santayana pisa na bola
Mauro Santayana, em seu blog no JB, revela certa dificuldade em ler entrevistas. Talvez por ter estudado apenas até o segundo ano do antigo primário. O fato é que faz uma interpretação absolutamente equivocada de minha entrevista no Valor Econômico. Já é hora de aprender a ler.
Cabeza de Vaca e Avatar
Li Cabeza de Vaca (de Paulo Markun) e tive a mesma impressão com o filme Avatar. Os temas são interessantes, mas ficam no meio do caminho, querendo agradar a todos. Avatar tem uma primeira metade deslumbrante e a produção da Pixar é fantástica, chegando a emocionar. Mas, depois, cai no estilo aventura de féria e no roteiro fácil, politicamente correto. O livro de Markun fica no mesmo dilema: entre relatar uma história e criar um clima de aventura. Não faz nem um, nem outro.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
O dilema de Ciro
Ciro Gomes é outro que parece não ter o dom do timing político. Suas tantas candidaturas começam a fazer água. De candidato à Presidente a candidato à governador paulista, vai pulando tanto de galho em galho que já perde o fôlego. Lula até já soltou um de seus avisos aparentemente ingênuos: vai ser ministro de Dilma.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Minha entrevista publicada hoje no Valor Econômico (A10)
"Governador depende da derrota de Serra para viabilizar seu projeto nacional"
Valor Econômico - 21/12/2009
A seguir, a entrevista com o diretor do Instituto Cultiva, Rudá Ricci:
Valor: A candidatura de José Serra à Presidência sofrerá um abalo com a desistência de Aécio Neves em concorrer?
Rudá Ricci :Sem dúvida, em razão da forma como Aécio preparou sua saída. Ele a fez causando um profundo desgaste na imagem de Serra, ao menos em Minas Gerais. Procurou-se transmitir a sensação de que Serra é um homem que empurrou Aécio para fora da disputa de forma maquiavélica, sem tomar uma decisão. O Aécio poderia esperar até janeiro, conforme as lideranças tucanas pediram, mas preferiu fazer na semana passada, na sequência das definições locais e do fortalecimento da candidatura de Ciro Gomes no PSB.
Valor: Como isso se traduzirá em termos eleitorais em Minas? Até que ponto o sentimento de frustração regional pesa para o eleitor?
Ricci :Em Minas Gerais pesa muito. Ao contrário de São Paulo e Rio, aqui não é um Estado fundamentalmente de migrantes. Serra poderá ser visto como mais um paulista que veio tirar o espaço dos mineiros.
Valor: Mas uma recente pesquisa mostrou Serra com 40% dos votos em Minas. Como isso se dissiparia de uma outra para outra?
Ricci : Por mais que Aécio tenha negado, sempre se partia da perspectiva de que poderia haver uma chapa Serra/Aécio para a Presidência da República. Na medida em que ficar claro que isso não vai ocorrer, Serra tende a cair aqui e Dilma (Rousseff, ministra da Casa Civil) a subir. Ou Ciro (Gomes, deputado federal do PSB), se tiver o apoio de Aécio nos bastidores.
Valor: Por que Aécio não vai sair de vice de Serra?
Ricci : Aécio já anunciou a possibilidade de se colocar como uma espécie de conciliador nacional. Ele tentará ser senador para forjar uma nova aliança, diferente do alinhamento partidário atual, com o PT de um lado e o PSDB do outro. Ele não depende da vitória do candidato a governador dele aqui para isso e duvido que se empenhe muito para eleger (Antonio) Anastasia (vice governador). Mas ele depende da derrota de Serra para tal. Com Serra na Presidência, Aécio não tem como propor uma nova aliança.
Valor: Por que então ele não procurou fazer isso saindo do PSDB ao perceber que não tinha como concorrer com Serra?
Ricci: Porque ele tinha que recompor suas bases no interior de Minas. Diferente do que a vitória dele em Belo Horizonte pode indicar, Aécio fragilizou-se no Estado como um todo. Precisava refazer sua liderança, abalada em 2008. Além disso, o PSDB é parte essencial do projeto de Aécio. O problema dele são os tucanos paulistas.
Valor: Ou seja, na visão do senhor, se o Serra tornar-se presidente, nascerá aqui em Minas um foco de oposição..
Ricci: Na verdade, Aécio hoje talvez seja um obstáculo para Serra chegar à Presidência. Como Ciro Gomes é um obstáculo para a Dilma nesse mesmo sentido.
Valor: E porque a vitória de Anastasia não seria importante para o projeto conciliador de Aécio?
Ricci: Evidentemente que a vitória de Anastasia fortaleceria Aécio, mas ele joga com mais de um cenário. Ele sabe que seu projeto não estará comprometido caso o PT ganhe em Minas, se o candidato petista for Fernando Pimentel, e o ex-prefeito ganhou as eleições internas do PT uma semana antes de Aécio retirar a candidatura. Ele sabe que o projeto também sobrevive com Hélio Costa, e o ministro das Comunicações ganhou as eleições internas do PMDB dois dias antes da retirada. Observe que trata-se de uma sequência. Houve um método. Mesmo se o próximo governador de São Paulo for (Geraldo) Alckmin, o projeto da conciliação nacional sobrevive. Ele só não sobrevive com Serra na Presidência.
Valor: Um dos propósitos de Aécio é tornar-se uma figura nacional, como era o avô Tancredo Neves pouco antes de eleger-se presidente no Colégio Eleitoral em 1985. O senhor acha que Aécio conseguiu?
Ricci: Tancredo cresceu politicamente e tornou-se o que se tornou em seus dois últimos anos de vida. Mas antes disso ele era uma figura sem tanto impacto nacional, sem tanta presença no imaginário como a que Ulysses Guimarães tinha dentro do PMDB. Ulysses era paulista, controlava o partido e parecia vocacionado para chegar à Presidência. Tancredo era uma figura do conchavo político, estava em Minas Gerais, fora do palco. Há semelhanças entre a estaturas dos personagens do passado e dos de hoje. (C.F.)
Prefeito e Decorador
Os mesmos ongueiros paulistanos com quem conversei hoje (ver nota abaixo) soltaram uma ótima frase: "Kassab pode não ser um bom prefeito, mas é ótimo decorador. Neste final de ano até o Trianon está bonito".
Imagine se os apoiadores de Marta Suplicy ouvem isto!!!
Imagine se os apoiadores de Marta Suplicy ouvem isto!!!
Ciro e São Paulo
Conversei, hoje, com diretores de entidades paulistanas, com longa militância social e política, que me garantiram que já está selado o acordo do PT com Ciro Gomes para que ele saia candidato a governador em SP.
Ouvi, mas não me convenci. Com a pesquisa DATAFOLHA, Ciro teria que mover mundos e fundos (de toda espécie) para decolar.
Ouvi, mas não me convenci. Com a pesquisa DATAFOLHA, Ciro teria que mover mundos e fundos (de toda espécie) para decolar.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Novo Jornal afirma que Andréa Neves poderá coordenar campanha de Dilma em MG
Não consegui confirmar a notícia publicada no Novo Jornal (ver aqui)onde se afirma que Andréa Neves, irmã do governador mineiro, poderá coordenar campanha de Dilma Rousseff em Minas. Destaco passagem desta notícia:
Há aproximadamente uma semana em um almoço em Brasília, onde participou o diretor do Novojornal e um dos mais próximos assessores de Lula, após o diretor comprometer que só divulgaria o fato após ele ocorrer, o assessor confidenciou:
“O Serra abusou. Aécio deverá desistir de ser candidato à presidência e sua irmã comandará a campanha de Dilma em Minas”. Evidente que tal confidência causou espanto, porém os fatos ocorridos nos últimos dias estão provando o contrário. Nos bastidores por quase uma década, Andréa Neves entrará em cena. Sabidamente ela é o braço direito de seu irmão. Embora “oficialmente” comande apenas a área assistencial do Governo de Minas através do Servas. Sua entrada modificará os rumos da sucessão estadual e federal em Minas Gerais. Poucos sabem que Andréa tem sua origem política no PT carioca, onde foi uma das fundadoras do partido antes da eleição de seu avô Tancredo para o governo de Minas Gerais. Segundo este mesmo assessor esta movimentação viabilizaria a eleição do Ministro Patrus Ananias e Aécio para o senado. Além da candidatura de Fernando Pimentel para governo de Minas, tendo como vice Anastasia. Hélio Costa seria o vice de Dilma.
Não me parece algo muito claro. Mas vale o registro.
Frase do Ano
Estilos políticos e popularidade, na visão de José de Souza Martins
Excertos do artigo "Com água pelo pescoço", de José de Souza Martins:
"O prefeito Gilberto Kassab quase se afogou na enchente de questionamentos que sofreu
em virtude da resposta distante à pergunta sobre o caos próximo causado pelas enchentes. E, depois, pela demora em visitar o Jardim Romano, na zona leste, ruas e casas invadidas pela água suja do transbordamento do Tietê. Ao uso da palavra caos pelos repórteres, negou-o, fazendo um relatório técnico completamente fora de hora sobre o acerto e a eficácia de medidas para contenção das águas em determinados rios da cidade. O relatório podia ser correto, mas o momento pedia outra resposta em face da aflição que alcançava milhares de trabalhadores com dificuldades para chegar ao trabalho ou voltar para casa, as ruas cheias de água, o trânsito impedido ou dificultado, pessoas em perigo. A coisa se complicou dias depois quando perguntado por que não estivera no Jardim Romano, cujas casas estavam inundadas. Respondeu dizendo que já fizera três vôos de helicóptero sobre o bairro para avaliar a extensão do problema. Na verdade, o que queriam saber é porque ainda não visitara as casas dos moradores. Provavelmente, tanto as medidas técnicas para conter as enchentes quanto o sobrevôo no bairro são mais apropriados para tomar decisões, mesmo as de emergência, do que falar em caos e do que entrar nas residências inundadas. Mas não é isso que conta em situações como essas. Economista e engenheiro, Kassab reagiu de acordo com os parâmetros dessas profissões e com a mentalidade de sua classe social. Ao fazê-lo, expôs o abismo que não raro separa o poder e o povo. Isso não é uma questão de partido político. Marta Suplicy, quando era ministra do Turismo, em 2007, pagou alto preço por usar expressão imprópria, ao se referir às vítimas dos congestionamentos e atrasos nos aeroportos do país, com a sugestão grosseira do 'relaxa e goza'."
(...)
"No dia seguinte à manifestação desastrosa de Kassab, Lula, em São Luís do Maranhão, falando de improviso na assinatura de contratos do programa "Minha casa, minha vida", disse que queria "tirar o povo da merda". Foi ovacionado, apesar da violação dos critérios de contenção e decoro do que deve ser a fala do presidente da República, o caso, porém, tratado como mais um divertido deslize do governante. A diferença de reações entre o que aconteceu com Kassab e o que aconteceu com Lula, independente dos problemas substantivos que cada caso encerra, está nas ocultas determinações que regem a conduta dos atores, como num teatro."
(...)
"Por que o que é lícito para Lula não é lícito para Kassab? Porque aqui, no entendimento popular, os políticos são originários da elite e governam em nome de uma concepção de mando do tempo em que as relações sociais e políticas eram muito mais desiguais do que são hoje, em que governar era, para o homem comum, equivocadamente sinônimo de mandar e ser governado era sinônimo de obedecer. Algo herdado da cultura da escravidão, distante, portanto, da concepção democrática de que tanto governantes quanto governados devem obedecer a lei e não a pessoas."
(...)
sábado, 19 de dezembro de 2009
Diferença entre Serra e Dilma continua caindo
Datafolha divulgada hoje mantém a liderança do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), na corrida à sucessão presidencial de 2010. Entretanto, a pesquisa mostra queda na diferença entre o tucano e a candidata do PT, Dilma Rousseff. A pesquisa aponta Serra com 37% das intenções de voto e Dilma com 23%, uma diferença de 14 pontos. Na mostra anterior do Datafolha, realizada em agosto, a diferença a favor de Serra oscilava entre 19 a 25 pontos.
Inferno astral da oposição dos brabos!!
Dica de vinhos
COP 15: nem de longe RIO92
O que interessa em relação ao COP 15?
1) Que Barack Obama mostrou a sua imensa limitação política. Tanto pessoal, não chega a ser nada mais que um democrata norte-americano; como política, não tem como fugir da trava do congresso absolutamente conservador e corporativo. A política norte-americana é marcada pelos grupos de interesse. Obama não rompeu com esta lógica. Em um mês, fez este papelão na conferência da ONU e disse que a paz depende da guerra. Um fiasco;
2) Que Bolívia, Venezuela e Cuba fazem mera figuração internacional. Não conseguem elaborar uma pauta séria ou negociar para valer. O discurso de Evo Morales foi inadequado e irrelevante. Fez cinco perguntas que mais parece discurso de adolescente procurando mostrar sagacidade sobre o óbvio;
3) Que a imprensa brasileira é muito frágil quando a agenda é inovadora. Merval fez o mesmo que a Bolívia na sua coluna de hoje no O Globo. Um texto desnecessário, parecendo reclamação de derrotado.
Um passarinho me contou (2)
Parece que está sendo negociada a venda do jornal Hoje em Dia para o jornal O Tempo. A crise dos jornais impressos mineiros já vem de longa data.
Um passarinho me contou
A possibilidade de chapa PMDB-PT para o governo do Distrito Federal parece muito bem encaminhada.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
A imprensa acordou para Minas
Hoje foi entrevista a dar com pau. Finalmente, o fato venceu as notas oficiais como pauta jornalística. Mas ainda há resistência de alguns. Rodrigo de Castro, da direção dos tucanos mineiros, deu entrevista afirmando que se Serra desistir de ser candidato à Presidente, o PSDB será obrigado a pedir que Aécio repense a desistência. E a imprensa nem questionou. Engoliu. Mas pensemos politicamente:
1) Se Aécio sai candidato e perde as eleições, fica sem o Estado de MG, sem mandato e com Serra reeleito governador de SP. A vantagem política que tem agora se inverteria;
2) Se Serra sai candidato e perde, Aécio eleito Senador passa a ser o Príncipe das oposições, com a vantagem de poder ser o vetor de uma possível aproximação PT-PSDB. Em suma, terá mais possibilidades abertas que se candidato à Presidente (que só terá a vitória ou a derrota como possibilidades);
3) Como Senador, Aécio poderá contar com Dilma ou Ciro como Presidentes. Ciro seria o melhor cenário. O pior seria Serra como Presidente, porque poderia tentar a reeleição em 2014 e a "novidade Aécio" começaria a minguar;
4) Obviamente que o melhor cenário para Aécio seria ele vencer em 2010 para a Presidência da República. Mas o risco pessoal seria alto: ao perder, perderia quase todo seu capital político. Como candidato ao Senado, teria mandato garantido e poderia, inclusive, administrar as sua sucessão, cristianizando Anastasia, apoiando Anastasia, apoiando uma composição PT-PSDB-PMDB, apoiando a candidatura Fernando Pimentel, enfim, as possibilidades são muitas.
1) Se Aécio sai candidato e perde as eleições, fica sem o Estado de MG, sem mandato e com Serra reeleito governador de SP. A vantagem política que tem agora se inverteria;
2) Se Serra sai candidato e perde, Aécio eleito Senador passa a ser o Príncipe das oposições, com a vantagem de poder ser o vetor de uma possível aproximação PT-PSDB. Em suma, terá mais possibilidades abertas que se candidato à Presidente (que só terá a vitória ou a derrota como possibilidades);
3) Como Senador, Aécio poderá contar com Dilma ou Ciro como Presidentes. Ciro seria o melhor cenário. O pior seria Serra como Presidente, porque poderia tentar a reeleição em 2014 e a "novidade Aécio" começaria a minguar;
4) Obviamente que o melhor cenário para Aécio seria ele vencer em 2010 para a Presidência da República. Mas o risco pessoal seria alto: ao perder, perderia quase todo seu capital político. Como candidato ao Senado, teria mandato garantido e poderia, inclusive, administrar as sua sucessão, cristianizando Anastasia, apoiando Anastasia, apoiando uma composição PT-PSDB-PMDB, apoiando a candidatura Fernando Pimentel, enfim, as possibilidades são muitas.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Ainda Aécio
Dois outros fatores devem ser levados à balança de Aécio que, me parece, definiram o timing para anunciar oficialmente a desistência da candidatura à sucessão de Lula:
1) A aparente confirmação que Ciro Gomes (aliado de sempre) vai mesmo ser candidato à Presidente (péssima notícia para Dilma);
2) O anúncio da vitória da chapa de Fernando Pimentel (outro aliado de sempre) ao comando do PT mineiro.
O projeto de aproximação PT-PSDB vai se consolidando, portanto, por entre as montanhas de Minas. E deu um chapéu nos paulistas, a começar por Serra, que sai meio chamuscado em todo este processo. No mínimo, sai com a pecha de ser indeciso ou excessivamente maquiavélico.
Pior: não entra fácil em Minas Gerais. Com a aliança com Pimentel, Aécio reconstrói sua estrutura política (não apenas sua popularidade, que sempre esteve em alta, e que a grande imprensa adora adotar como principal indicador de poder político, logo este indicador dos mais efêmeros) que foi abalada nas eleições municipais passadas.
Enfim, anti-paulista e com ampla aliança com Pimentel, Aécio sai por cima. E ainda pode ser padrinho de Ciro, se desejar. Várias opções para o moço, portanto.
Já para Serra...
Vamos ver se agora a grande imprensa aprende a ver como é que se faz política escondida pelas montanhas!
Aécio formaliza candidatura ao Senado e escancara mais uma barriga da grande imprensa tupiniquim
Desde novembro do ano passado, qualquer analista político com algum contato confiável já sabia que Aécio Neves era candidato ao Senado. Mas a grande imprensa nacional inflou o balão de ensaio da candidatura à Presidência da República, possivelmente por falta de pauta. É estarrecedor, de qualquer maneira, como estamos rebaixando rapidamente a cobertura e análise política da imprensa brasileira. Opinião e desejo viraram base de notas para-jornalísticas e crônicas viraram reportagem.
LANÇAMENTO DE LIVRO DO CEDECA INTERLAGOS
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
O PT mineiro é uma ilusão de ótica
O PED do PT mineiro foi a expressão do ocaso de um partido. O candidato á reeleição usou de todos expedientes para criar um caos em todo processo eleitoral. Encerrou a contagem de votos antes dela ter efetivamente terminado, envolveu a grande imprensa numa aventura de informações extra-oficiais, uma farsa antes mesmo de ter sido tragédia.
Agora vem um segundo round sem nenhuma grande motivação: a convenção partidária que define o candidato petista ao governo mineiro. E, finalmente, o terceiro round, que já se anuncia como um grande acordo ao estilo "comida di buteco".
domingo, 13 de dezembro de 2009
A Costureira e o Cangaceiro
Começo a ler este livro de Frances de Pontes Peebles, filha de mãe pernambucana e pai norte-americano. Ela reside em Chicago, mas passa as férias em seu sítio, e Taquaritinga do Norte, Pernambuco, cenário deste seu romance.
Assisti uma entrevista da autora que me impeliu a ler o livro. Ela dizia sobre a diferença das palavras anglo-saxônicas, normalmente com duas ou três sílabas, que impõem objetividade, como nos textos de Hemingway. Em seguida, comparou com as palavras do português, polissilábicas, que criam sentidos pela sonoridade e geram maiores abstrações e complexidade de expressões.
O livro tem a mesma delicadeza desta explicação da autora. Relata a história da separação de duas irmãs, que se reencontram em situação das mais inusitadas, sendo uma delas líder do cangaço.
Aécio anuncia candidatura ao Senado
O Panorama Político do jornal O Globo anuncia, na edição de hoje, que o governador mineiro desistiu da candidatura à Presidência da República. A nota diz:
"O governador Aécio Neves (MG) informou ao presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), que vai concorrer ao Senado. Aécio tomou a decisão porque o partido não quer fazer prévias e porque não vai, como quer o governador José Serra (SP), epserar até março. Serra é a partir de agora o candidato único dos tucanos à Presidência da República. Para os aecistas, a candidatura Serra serve à lógica da eleição plebiscitária, como querem o presidente Lula e o PT."
Este blog vem anunciando este cenário desde novembro do ano passado. Mas a grande imprensa tupiniquim insistiu em outra possibilidade.
Que fique registrado.
sábado, 12 de dezembro de 2009
Resposta à Valter Pomar, da direção nacional do PT
No último dia 30 de novembro, a revista eletrônica IHU-Unisinos publicou minha entrevista a respeito da transformação dos movimentos sociais em organizações. No último dia 11, Valter Pomar, dirigente nacional do PT, publicou na mesma revista eletrônica, a réplica à minha entrevista. Acabo de redigir a minha tréplica e socializo no blog:
RESPOSTA À VALTER POMAR
Rudá Ricci
A entrevista que concedi à IHUon-Line gerou uma repercussão muito maior do que esperava, o que foi uma grata surpresa. Recebi mensagem, para citar um exemplo, de membros da Cáritas Brasileira, informando das discussões que geraram no último encontro nacional da entidade, em Recife. Também repercutiu positivamente entre pastorais sociais, em especial, a CPT. E, agora, recebo a réplica de Valter Pomar, que conheci nos encontros de formação organizados pelo pai dele, na região do Paraíso, em São Paulo, quando ainda era menino, mas demonstrava grande cultura marxista. Estamos conversando entre intelectuais, portanto, apesar de Pomar parecer carregar algum ressentimento em relação a esta condição. Mas debate intelectual se faz com idéias e não personalizando motivações pessoais.
Vamos ao debate:
1) O principal argumento que ele apresenta é a comparação que faço entre os anos 80 e os dias atuais. Não há nada de estranho neste expediente. No marxismo, encontramos até hoje comparações históricas que chegaram a gerar conceitos que não eram intenção original, como é o caso do conceito de bonapartismo;
2) O que procurava, sinteticamente, sugerir, é que nos anos 80 tivemos movimentos sociais emergindo em profusão e que minguaram ao longo dos anos 90. O conceito de movimento social é ACADÊMICO. Pomar não pode desconsiderar que foi criado no século XIX para nomear movimentos de contestação. Foi utilizado pelos estudos judiciários da França e Rússia. O melhor balanço teórico sobre o conceito que temos no Brasil é o de Maria da Glória Gohn. Basta acessá-lo para compreender o conceito em toda fauna intelectual que o produziu e o desenvolveu desde aquele século em que teve origem. O fato é que não temos movimentos sociais como define o conceito. E nome, como sabemos, se relaciona com um significado histórico. Podemos tentar chamar Paulo de Joaquim, mas dificilmente ele atenderá, porque não se reconhece neste nome. Pomar poderá desejar o que quiser como conteúdo para o conceito de movimento social, mas ninguém conseguirá compreender o conceito porque ele possui história. Como intelectual, Pomar deveria saber deste fenômeno: ao entrar no debate acadêmico, deve esquecer os expedientes de debate partidário. São campos distintos;
3) Não há beco sem saída. Mas, também, não há saída pronta ou requentada. A sociedade encontra suas saídas, a despeito das tentativas de direção de consciências de intelectuais e dirigentes políticos. Foi assim no surgimento dos movimentos sociais dos anos 80 e está sendo assim, neste momento. Não sou otimista inveterado. Sou sociólogo e analiso a dinâmica social. O jogo de palavras utilizado por Pomar revela certa inconsistência. Se digo que movimentos sociais se tornaram organizações (outro conceito histórico e caro à sociologia) não os confundo com partidos políticos. O problema dos partidos contemporâneos é muito mais grave que os dos movimentos sociais e organizações populares: eles não conseguem mais representar o cotidiano porque se tornaram empresariais. O PT é um exemplo cabal desta situação, se americanizando a ponto do marketing falar mais alto que os conteúdos programáticos. Mas este é outro tema de importância fundamental a ser explorado em outra reflexão;
4 Infelizmente, Pomar se aproxima do que denominamos de sofisma: ele parte de uma interpretação errada do que digo e constrói uma arquitetura de argumentos a partir de um erro inicial. Demonstrando que sua interpretação estava equivocada, parece-me que toda seu desenvolvimento se compromete;
5) Vejamos um exemplo: Pomar revela desconhecer a diferença básica entre movimento social e organização. Confunde o ato de se organizar com o conceito de organização (não se trata de verbo, de ação). Organização é um conceito que foi desenvolvido desde o início do século XX. Significa uma estrutura formal, com hierarquia fixa, com corpo administrativo, com funções estabelecidas entre seus membros (porta-voz, por exemplo), entre outras características. Sociologicamente significa uma dinâmica absolutamente distinta da de um movimento social. Uma ilustração para tornar mais didática esta diferença: um movimento social toma decisões em plenárias, através dos expedientes de democracia direta. Porque, não havendo hierarquia funcional rígida, todos são iguais, ou seja, apóiam-se no conceito de “cidadão total” rousseauniano. Uma organização, por ter hierarquia fixa, toma decisões em arenas e instâncias fechadas, formais, envolvendo poucos membros (os membros da direção);
6) Na prática, esta distinção definiu uma mudança política e ideológica das mais importantes no Brasil dos anos 80 para cá: as organizações, que um dia foram movimentos sociais, disputam verbas e receitas para sua estabilidade. Uma hierarquia funcional e um corpo administrativo exigem estabilidade de receitas e o custo é altíssimo. Algo que é muito inferior em movimentos sociais. Ocorre que o Estado está oferecendo esses recursos já que as fontes financiadoras externas, desde os anos 90, minguaram. Aqui percebemos o fundo das diferenças políticas com a réplica de Pomar: minha análise desvenda uma relação politicamente perigosa do governo federal com várias organizações populares, uma ruptura nítida com o ideário petista. Ao não compreender esta dinâmica perversa, Pomar joga água no moinho da tutela estatal sobre organizações populares. Talvez, não por interesse ou desejo expresso, mas por desconhecimento e falta de análise sobre o fenômeno;
7) O uso do conceito de dialética utilizado por Pomar parece uma espécie de “pó de pirlimpimpim”. Leandro Konder já nos alertou para o uso positivista e mecânico deste conceito entre parte das esquerdas brasileiras (que ele nomeia em seu livro). Não se trata de uma evolução (é este o sentido do uso de dialética na réplica de Pomar), mas de mudança de estrutura e paradigma. Mudança. Foi uma opção política e não uma evolução. Muito menos dialética interna. A década de 90, em especial a segunda metade, foi significativa na mudança de percurso do PT e afetou diretamente várias dessas organizações. Cito a CUT, por exemplo, que desmontou as estruturas de departamentos de categoriais, paralela à estrutura confederativa oficial, o abandono das organizações de base (OLT), o enquadramento das escolas sindicais. Eu participei de reunião, durante congresso da CONTAG, em que lideranças partidárias da esquerda definiram a chapa única em virtude das eleições de 1994 (estavam presentes Miguel Arraes, Roberto Freire, lideranças do DNTR e PT). Este é um dos fatos concretos que definem esta mudança de rumo. Opção política, não dialética, fundada numa profunda e vertiginosa partidarização dos movimentos sociais, oposto do que se pregava nos documentos originais de fundação do PT e dos discursos de lideranças de movimentos sociais dos anos 80;
8) Pomar parece desconhecer que os mecanismos clássicos de tomada de decisões dos movimentos sociais não existem ou são marginais nas organizações populares. Conheço de perto estas organizações e poderíamos debater esta mudança em outra oportunidade, com fartura de ilustrações. Que fique claro: não estou citando rituais de CONSULTA às bases, mas de processos de TOMADA DE DECISÃO;
9) Novamente, num exercício de sofisma, Pomar confunde o papel da ORGANIZAÇÃO Igreja Católica, com a expressão ORGANIZATIVA das populações atendidas pelo trabalho pastoral vinculado à Teologia da Libertação. Não existe correspondência alguma. Tanto que Leonardo Boff foi expulso da organização. E sempre foi um expoente da Teologia da Libertação. Por aí já se demonstra a diferença política. Como dirigente nacional do PT, Pomar tem a obrigação de saber desta distinção;
10) O déficit de elaboração teórica dos movimentos sociais dos anos 80 é bem nítido: centravam-se no ideário do comunitarismo cristão. Aliás, ideário reforçado pela leitura da Bíblia como orientador de modelo organizativo e de reivindicações (em especial, o Êxodo) que se apóia na sociabilidade rural, modelo adotado pelas CEBs. O comunitarismo cristão é uma fonte rica de construção da unidade e da identidade social pela diferença (“eu sou, como você, um marginal”), mas não auxilia na construção de uma interpretação sobre a sociedade complexa. Porque gera uma mera dicotomia entre marginais e poderosos. Pomar deve se lembrar de como até mesmo parlamentares de esquerda eram rechaçados em manifestações dos anos 80, como “membros das estruturas burguesas”. Muitas cartilhas daquela época adotavam parábolas e analogias simplistas sobre o funcionamento da sociedade, como uma interessante história de patos e galinhas, onde os poderosos ficavam na parte de cima do poleiro. Esta deficiência teórica e analítica impediu o salto de elaboração para construção de um projeto político nos anos 90. Os movimentos sociais, em sua quase totalidade, não conseguiram impor uma nova proposta de institucionalidade. O máximo que se atingiu foram os mecanismos de participação (e não efetivo controle social) institucional inscritos na Constituição de 1988;
11) Novamente, Pomar confunde conceitos ao procurar interpretar a “hegemonia” do neoliberalismo. Hegemonia é cimento social, capacidade de direção da totalidade ou maioria das classes e segmentos sociais. Eu lamento esta pauperização analítica de denominar tudo de neoliberalismo, uma pauta programática das mais pobres, que nem seus elaboradores a aceitam mais. Lamento porque folcloriza a análise, perde a noção de dinâmica política que altera elaborações e formulações dos sujeitos políticos. Pomar comete o mesmo erro em relação ao conceito de organização e dialética. Empobrece e reduz os conceitos. No caso do neoliberalismo, possivelmente por desconhecimento de Pomar a respeito do conteúdo do social-liberalismo e da Nova Política Pública anglo-saxônica (que no Brasil ganhou a denominação de Estado Gerencial). O que um mero intelectual pode sugerir ao dirigente partidário e intelectual? Só me resta o óbvio: estude;
12) Finalmente, solicito que Pomar nomeie a “certa intelectualidade” e a que não é “tão certa intelectualidade”. Afirmações genéricas não auxiliam a identificação do leitor. Ao contrário, pairam como uma espécie de alerta e colocam todos intelectuais sob suspeição. Neste caso, sobrariam.... os dirigentes partidários. Não se trata de um expediente dos mais novos. Expediente que já foi adotado por “parte da esquerda”, aquela de origem soviética e stalinista. Perceba que nomeio a esquerda, porque faço parte de uma esquerda que rejeitou o stalinismo desde sempre e que, por este motivo, fundou o PT. E é esta esquerda que procura, pelo campo das idéias, discutir o modo lulista de governar, que completa a modernização conservadora iniciada por Vargas. Em defesa da autonomia da organização social e da sua não partidarização, como correia de transmissão.
Nova enquete do blog
71% dos visitantes do blog acreditam que o apagão deste ano não tem nenhuma similaridade com o ocorrido no governo FHC, o que coloca a candidata lulista em situação confortável.
A nova enquete tratará da crise da direita no Brasil.
A nova enquete tratará da crise da direita no Brasil.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Novo livro da coletânea sobre história do campesinato brasileiro
O segundo volume (A diversidade das formas das lutas no campo) do tomo Lutas Camponesas Contemporâneas: condições, dilemas e conquistas da História Social do campesinato já está pronto. Eu contribuo com um capítulo dedicado à história recente do sindicalismo rural brasileiro.
Organizadores: Bernardo Mançano fernandes, Leonilde Servolo de Medeiros e
Maria Ignez Paulilo
Lutas Camponesas Contemporâneas: condições, dilemas e conquistas, vol 2: A
diversidade das formas das lutas no campo. São Pauloe Brasília: Editora da
Unesp e Nead, 2009, 369 p.
ISBN Editora Unesp: 978-85-7139-969-3
ISBN NEAD: 978-85-60548-54-5
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Salários médios no mundo
Carta Maior efetuou um balanço dos salários médios pagos no ocidente e os comparou aos da China. Parece estar aí uma das causas da mudança do ranking de potências e desenvolvimento mundial. Senão, vejamos:
1) Das 3 bilhões de pessoas ativas no mercado global de hoje, metade ganha menos de 3 dólares por dia;
2) A China tem custo/hora do trabalho de 60 cents. A média da Alemanha é de 30 dólares; dos EUA é de 21 dólares e do Brasil é 4,50 dólares;
3) Segundo a Comissão Européia, a parcela de riqueza destinada atualmente aos salários é a mais baixa desde 1960.
Apuração do PED do PT de MG é retomada
Recebo a seguinte mensagem enviada pelo Presidente Nacional do PT para o candidato pró-Patrus Ananias em MG:
"Caro Gleber,
Ouvi a CEN, após a sessão do DN, pela manhã de hoje e é consensual que a apuração deve escrutinar todos os votos postados dentro dos prazos regulamentares, sem o que não será reconhecida a legalidade de qualquer resultado.
O Secretário de Organização comunicará esta orientação oficialmente à Comissão Eleitoral Estadual.
Ricardo Berzoini"
"Caro Gleber,
Ouvi a CEN, após a sessão do DN, pela manhã de hoje e é consensual que a apuração deve escrutinar todos os votos postados dentro dos prazos regulamentares, sem o que não será reconhecida a legalidade de qualquer resultado.
O Secretário de Organização comunicará esta orientação oficialmente à Comissão Eleitoral Estadual.
Ricardo Berzoini"
Painel da Folha continua fazendo política
O Painel Político continua dando seus pitacos na disputa interna do PT mineiro. Seria inexperiência? Contradiz até mesmo a notícia publicada no mesmo jornal, página A10. Vejamos:
Painel:
"VAMOS VER
Derrotados por placar apertado, aliados de Patrus Ananias saíram a campo para combater a ideia de que o vencedor da eleição do PT em Minas necessariamente indicará o candidato a governador. "
Página A10:
"Embora só hoje o PT de Minas Gerais deva divulgar o resultado da disputal pelo comando do diretório estadual, o grupo do ex-prefeito Fernando Pimentel (pré-candidato ao governo de Minas) cantava vitória ontem, mesmo com as apurações indicando apenas 68,8% dos votos apurados."
Qual das duas notas é notícia? Se as duas forem, a Folha não tem mais linha editorial. Se uma delas não for, a Folha não tem mais linha editorial.
Painel:
"VAMOS VER
Derrotados por placar apertado, aliados de Patrus Ananias saíram a campo para combater a ideia de que o vencedor da eleição do PT em Minas necessariamente indicará o candidato a governador. "
Página A10:
"Embora só hoje o PT de Minas Gerais deva divulgar o resultado da disputal pelo comando do diretório estadual, o grupo do ex-prefeito Fernando Pimentel (pré-candidato ao governo de Minas) cantava vitória ontem, mesmo com as apurações indicando apenas 68,8% dos votos apurados."
Qual das duas notas é notícia? Se as duas forem, a Folha não tem mais linha editorial. Se uma delas não for, a Folha não tem mais linha editorial.
Eleições 2010: à passos largos para eleição plebiscitária
Tudo o que o lulismo deseja. Na última pesquisa CNI/IBOPE, Dilma e Serra oscilam para cima e se desgarram dos outros candidatos.
Se o candidato tucano for Serra, a situação ficaria, hoje, assim:
Serra: 38% (em setembro, figurava com 35%)
Dilma: 17% (em setembro, figurava com 15%)
Ciro: 13% (em setembro estava com 17%, invertendo a posição com Dilma)
Marina: 6% (em setembro estava com 8%)
Se o candidato tucano for Aécio:
Ciro: 26% (em setembro estava com 28%)
Dilma: 20% (m setembro estava com 18%)
Aécio: 14% (estava, em setembro, com 13%)
Marina: caiu de 11% para 9%
A tendência de queda de Marina e Ciro aparece nas duas simulações. Já a de subida de Dilma está cravada nos dois cenários, na mesma proporção. Aécio subiu muito pouco.
Se política fosse matemática, a projeção para outubro de 2010 seria:
Aécio: 19%
Serra: 23%
Dilma: 27% (no cenário com Serra) ou 30% (no cenário com Aécio)
Ciro: 16% (no cenário com Aécio) ou traço (no cenário com Serra)
Marina: 1% (cenário com Aécio) ou traço (no cenário com Serra)
Política, felizmente, não é matemática. O intervalo das festas de final de ano ao Carnaval limita a exposição dos candidatos, o que vem se revelando prejuízo maior para Dilma (cuja performance está diretamente vinculada à imagem colada à de Lula). Mas Serra vem caindo com consistência e Aécio ameaça jogar a toalha na segunda semana de janeiro.
Se o candidato tucano for Serra, a situação ficaria, hoje, assim:
Serra: 38% (em setembro, figurava com 35%)
Dilma: 17% (em setembro, figurava com 15%)
Ciro: 13% (em setembro estava com 17%, invertendo a posição com Dilma)
Marina: 6% (em setembro estava com 8%)
Se o candidato tucano for Aécio:
Ciro: 26% (em setembro estava com 28%)
Dilma: 20% (m setembro estava com 18%)
Aécio: 14% (estava, em setembro, com 13%)
Marina: caiu de 11% para 9%
A tendência de queda de Marina e Ciro aparece nas duas simulações. Já a de subida de Dilma está cravada nos dois cenários, na mesma proporção. Aécio subiu muito pouco.
Se política fosse matemática, a projeção para outubro de 2010 seria:
Aécio: 19%
Serra: 23%
Dilma: 27% (no cenário com Serra) ou 30% (no cenário com Aécio)
Ciro: 16% (no cenário com Aécio) ou traço (no cenário com Serra)
Marina: 1% (cenário com Aécio) ou traço (no cenário com Serra)
Política, felizmente, não é matemática. O intervalo das festas de final de ano ao Carnaval limita a exposição dos candidatos, o que vem se revelando prejuízo maior para Dilma (cuja performance está diretamente vinculada à imagem colada à de Lula). Mas Serra vem caindo com consistência e Aécio ameaça jogar a toalha na segunda semana de janeiro.
Patrícia Amorim assume presidência do Flamengo
A vereadora tucana Patrícia Amorim, ex-atleta olímpica e pentacampeã sul-americana de natação, assumiu a Presidência do Flamengo na madrugada de hoje. Patrícia elegeu-se pela 1ª vez vereadora em 2000, mas passou a maior parte do mandato licenciada na Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos dos Jogos Pan-Americanos. Em 2004, foi reeleita pelo PFL (atual DEM), e deixou o partido por divergências sobre a política de esportes. Filiou-se ao PSDB, pelo qual foi presidente da Comissão de Esportes e Lazer da Câmara entre 2007 e 2008.
Pena que já citou a contratação de Vicente Falconi, o papa da qualidade total, para auxiliá-la. Espero que Falconi tenha aprendido com a crise do neoliberalismo.
Mas não deixa de ser uma excelente notícia que uma mulher dirija o clube de futebol com maior torcida do país.
FIQUEMOS DE OLHO.
PT mineiro afunda na crise interna
O candidato à Presidência do PT-MG solicita a intervenção do Diretório Nacional:
"Caro Secretário de Organização e Coordenador da COE Nacional, Caros membros do DN,
Infelizmente não posso estar presente à esta reunião do Diretório Nacional devido a apuração do segundo turno em Minas. O segundo turno foi marcado em Minas por centenas de ocorrências policiais. Em várias cidades a apuração foi feita pela Polícia Militar. Segurança acompanhando fiscais. Um horror!
Solicito da COE e deste Diretório Nacional que imediatamente envie uma Comissão dirigente, com membros de outros estados, para o acompanhamento do processo de Minas.
Ontem um candidato já se declarou eleito e a apuração não terminou. Eu só reconheço o resultado oficializado pelo partido, pois restam mais de 15 mil votos a serem apurados. Coincidentemente hoje pela manhã a parte do candidato auto-proclamado eleito não quer dar continuidade à apuração, fazendo coro à pressão violenta para que eu me declare derrotado. Existem 124 Recursos pendentes do primeiro turno que vão definir a composição final do diretório Estadual. E eles proclamam que têm maioria. No primeiro turno, o outro candidato se autoproclamou eleito e os votos não confirmaram, e fomos ao segundo turno. Para tentar superar o impasse, foi feito um acordo na COE de que seria anunciada a realização do segundo turno com os votos obtidos até àquele momento e continuaria a apuração. Os recursos ficariam para serem julgados após o segundo turno. Já fui prejudicado, pois o resultado divulgado não correspondeu aos votos que realmente obtive, e ninguém pode afirmar sobre a composição do Diretório e Executiva.
Pois bem, agora existem também dezenas de recursos sobre o segundo turno e um candidato que se autoproclama eleito faltando mais de 15 mil votos a serem apurados.
E pararam a apuração agora de manhã e querem declará-lo eleito. Não aceito.
Não é possível aceitar chantagens e ameaças. Sou a favor de que se apurem todos os votos, depois julguem todos os Recursos. E que o resultado da eleição seja correspondente à vontade dos que votaram dentro da legalidade petista. Só.
Diante disso, a Direção Nacional do PT deve tratar a siutuação de Minas, sob pena de manchar o PT nacionalmente.
Que se determine a continuidade da apuração Já, seguida da análise dos Recursos e a proclamação do resultado. É o que peço a este Diretório.
Ats
Gleber Naime
Secretário Nacional de Comunicação
Candidato a presidente, no segundo turno"
"Caro Secretário de Organização e Coordenador da COE Nacional, Caros membros do DN,
Infelizmente não posso estar presente à esta reunião do Diretório Nacional devido a apuração do segundo turno em Minas. O segundo turno foi marcado em Minas por centenas de ocorrências policiais. Em várias cidades a apuração foi feita pela Polícia Militar. Segurança acompanhando fiscais. Um horror!
Solicito da COE e deste Diretório Nacional que imediatamente envie uma Comissão dirigente, com membros de outros estados, para o acompanhamento do processo de Minas.
Ontem um candidato já se declarou eleito e a apuração não terminou. Eu só reconheço o resultado oficializado pelo partido, pois restam mais de 15 mil votos a serem apurados. Coincidentemente hoje pela manhã a parte do candidato auto-proclamado eleito não quer dar continuidade à apuração, fazendo coro à pressão violenta para que eu me declare derrotado. Existem 124 Recursos pendentes do primeiro turno que vão definir a composição final do diretório Estadual. E eles proclamam que têm maioria. No primeiro turno, o outro candidato se autoproclamou eleito e os votos não confirmaram, e fomos ao segundo turno. Para tentar superar o impasse, foi feito um acordo na COE de que seria anunciada a realização do segundo turno com os votos obtidos até àquele momento e continuaria a apuração. Os recursos ficariam para serem julgados após o segundo turno. Já fui prejudicado, pois o resultado divulgado não correspondeu aos votos que realmente obtive, e ninguém pode afirmar sobre a composição do Diretório e Executiva.
Pois bem, agora existem também dezenas de recursos sobre o segundo turno e um candidato que se autoproclama eleito faltando mais de 15 mil votos a serem apurados.
E pararam a apuração agora de manhã e querem declará-lo eleito. Não aceito.
Não é possível aceitar chantagens e ameaças. Sou a favor de que se apurem todos os votos, depois julguem todos os Recursos. E que o resultado da eleição seja correspondente à vontade dos que votaram dentro da legalidade petista. Só.
Diante disso, a Direção Nacional do PT deve tratar a siutuação de Minas, sob pena de manchar o PT nacionalmente.
Que se determine a continuidade da apuração Já, seguida da análise dos Recursos e a proclamação do resultado. É o que peço a este Diretório.
Ats
Gleber Naime
Secretário Nacional de Comunicação
Candidato a presidente, no segundo turno"
A política mineira em tempos de crise
Tentarei dar um giro na política mineira:
1) Começando pela disputa, em segundo turno, das eleições internas do PT que definem a direção do partido que comandará o processo eleitoral de 2010. Reginaldo Lopes, atual presidente e pró-Fernando Pimentel, na última parcial de ontem computava 21.148 votos. Seu adversário, Gleber Naime, pró-Patrus Ananias, computava 19.351 votos. Tinham sido apuradas as urnas de 465 municípios, 74,4% dos municípios que participaram deste processo eleitoral;
2) A diferença, portanto, é muito pequena. A massa de votos de Reginaldo tem origem na região metropolitana de Belo Horizonte. O PT sai desta eleição absolutamente dividido. Para quem acompanhou o processo todo, sabe que as feridas estão mais que abertas. É guerra de morte. Quem perder, perde tudo: Patrus ou Pimentel;
3) Se Reginaldo vencer, a disputa pela legenda ao governo estadual será das mais violentas. A possibilidade de Pimentel aumenta, sem dúvida. E isto significa o retorno da tese da "grande coalizão" entre PT e PSDB. Com a candidatura de Pimentel, a possibilidade de um chapão PMDB, PSDB e PT será enorme. Cristianizando ou não;
4) Se Gleber-Patrus vencem, a ruptura com o lulismo, em MG, será bem razoável. E Pimentel tentará uma vaga ao Senado. Mas retornará a possibilidade de se transferir para o PSB;
5) A situação de Aécio está mais confortável que nunca e joga pesado contra Serra. Faz sentido para ele porque se não for o candidato à Presidência da República, jogará toda responsabilidade por um fracasso da oposição em 2010 no colo do governador paulista. Continua acreditando que as chances de sua candidatura ao Palácio do Planalto são quase nulas. Mas o PSDB vai caminhando para seu maior impasse, em toda sua história de impasses. Estamos em dezembro e Aécio oscilou no seu dead line: dezembro ou janeiro. Teríamos, então, entre 20 e 50 dias para a cúpula tucana sair do ninho. Se Serra não criar alternativas para Aécio, joga-o contra a opinião pública e não haverá dúvidas que o governador mineiro salvará a pele, mesmo colocando o PSDB na maior crise política que já mergulhou;
6) O cenário para o PSDB é ainda pior com a crise DEM (que pode, efetivamente, levá-lo à condição de nanico em 2010). Os tucanos perderam seu maior aliado. Esta é a aposta de Aécio (talvez, para o futuro), como "conciliador", que agrega, ao contrário de Serra. Vai semeando para o futuro. Porque se Dilma vence as eleições, abre caminho para o retorno de Lula, numa possível composição com Aécio. Mas se Serra se elege Presidente da República, Aécio ainda teria a chance de compor com o lulismo. As alternativas para o mineiro, portanto, aumentam;
7) Assim, Minas Gerais parece contar mais para o futuro que São Paulo. São Paulo parece, neste momento, envelhecido politicamente. Não conseguiu forjar uma nova geração de políticos. Embora mais novo, Serra é da geração política de FHC. Minas Gerais, ao contrário, vive disputas abertas no interior dos dois principais partidos nacionais justamente porque tem novas lideranças que disputam projetos distintos. O ponto comum é que aqui, como lá e acolá, todo sistema partidário flutua ao redor do PT e PSDB. Meio monótono, reforçando o personalismo na política brasileira, mas é o ponto onde a democracia tupiniquim chegou: dois partidos dominantes que estreitam as opções dos eleitores. Daí a necessidade da reforma política, que garanta candidaturas avulsas, que implante o voto distrital misto, que institucionalize o reccall, que acabe com as eleições a cada dois anos, que aumente o controle social sobre a gestão pública. Só assim nos afastamos do enredo norte-americano.
domingo, 6 de dezembro de 2009
Uruguai um dia após as eleições
El día después de las elecciones presidenciales
Pablo Romero
Los resultados electorales de la segunda vuelta han confirmado lo que las encuestas marcaban ya varios días antes: José “Pepe” Mujica es el nuevo presidente de Uruguay. El carismático ex guerrillero y líder histórico del Movimiento de Participación Popular (MPP), cuya vida amerita a estas alturas novelarse y llevarse a las pantallas del séptimo arte, asumirá en marzo próximo como presidente de todos los uruguayos, comandando el segundo período de gobierno de la izquierda uruguaya.
Y siendo una noche de festejo para la mayoría de la ciudadanía –y para todos teniendo en cuenta que nuevamente fue una jornada de festejo democrático y ejemplo de tolerancia y respeto -, el día después ya se empezó a palpitar y a cobrar relevancia en la escena política local.
En este sentido, el primer discurso de Mujica como presidente electo ya ha tenido una importancia central, al menos desde el punto de vista de las intenciones: su resonada expresión, a pocos minutos de conocer su victoria en las urnas, de que “no hay vencidos ni vencedores” –frase de espíritu artiguista y utilizada en nuestros pagos para sellar la paz en épocas de la Guerra Grande- y su apelación a la unidad política a favor de todos los uruguayos más allá de las divisas partidarias, es un auspicioso síntoma inicial respecto de avanzar en políticas de estado que vayan más allá de la partidocracia, enfermedad crónica de varias sociedades democráticas,
incluida la uruguaya . Es que no es un asunto menor, sobre todo para un país pequeño y aún dependiente como el nuestro, que se avance en este sentido en los próximos cinco años. A su vez, el derrotado en las urnas, el líder nacionalista Luis Alberto Lacalle, también sostuvo en su discurso un tono conciliador y de mirada más allá de los resultados puntuales y los meros intereses partidarios.
¿Se concretarán finalmente estas buenas intenciones iniciales? ¿Es posible lograr acuerdos luego de una campaña electoral que fue bastante ríspida por momentos y en donde primaron las descalificaciones personales más que las ideas? ¿Es posible dejar de lado las diferencias ideológicas tan marcadas en algunos puntos y concentrarse en aquellos ítems en los que se tiene o se puede tener una mirada en común? El día después, que es en definitiva el día más importante para todos, nos irá despejando estas dudas. De momento, estas buenas intenciones son solo las del minuto después. En tanto, hay mucho análisis por hacer sobre otro día histórico, en donde la izquierda uruguaya sale fortalecida, logrando llevar a la presidencia a una figura fuertemente cuestionada por la oposición y que, paradójicamente, podría ser quien dé un histórico paso en cuanto a lograr quebrar el viejo vicio político uruguayo
de gobernar sin el otro, sin el perdedor en esa dicotomía de izquierda versus derecha. El tiempo lo dirá. Y la voluntad política, claro.
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