segunda-feira, 16 de abril de 2012

Escolas não sabem ensinar filhos da Classe C

A entrada em escala da nova Classe C em escolas de ensino básico e faculdades particulares está revelando a falta de conexão da formação de professores com a realidade social do país. Algo que tantas defesas de tese já apontavam há anos, mas que agora ganha contornos dramáticos. O foco das escolas é a classe média tradicional, que tem acesso e hábito de leitura e cuja cultura é promovida nos currículos escolares. Bourdieu já havia constatado este processo de seleção social nas escolas via currículo que extirpava os hábitos culturais das classes menos abastadas, gerando estranhamento dos alunos em relação à linguagem, personagens e formas de socialização de conhecimentos. 
Agora, vejam no que dá o conservadorismo do MEC e Secretarias Estaduais de Educação:


Alunos "mais pobres" têm o pior desempenho em prova que avalia ensino fundamental público

Rafael Targino
Do UOL, em São Paulo

O grupo de alunos com pior situação econômica teve os piores desempenhos em matemática e português na Prova Brasil de 2009, mostra um cruzamento de dados feito pela Fundação Lemann e fornecido ao UOL Educação. A prova é aplicada a alunos do 5º e 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas e acontece a cada dois anos. Os dados de 2009 são os mais recentes disponíveis. 
Segundo Francisco Soares, especialista em avaliações em educação e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a proficiência do aluno reflete, ao mesmo tempo, todas as características dele, inclusive as socioeconômicas. Os alunos que têm melhores condições econômicas, diz, têm mais condições de se saírem melhor na escola.
“A proficiência do aluno reflete de forma muito próxima sua característica sociodemográfica. Isto [a diferença nos resultados] é uma prova de que a escola no Brasil não consegue cumprir sua função. Aprendem principalmente os alunos que já trazem de casa as condições adequadas para o aprendizado.”

Desempenho

Em matemática, no 5º ano, enquanto oito em cada dez (80,83%) alunos do grupo “mais pobre” não atingiram o nível mínimo de aprendizado para a série em que estão, pouco mais de cinco em dez (55,36%) do grupo “mais rico” conseguiram o mesmo desempenho.

Prova Brasil 2009 - Classes econômicas

Isso significa dizer que esses estudantes não conseguem, por exemplo, ler informações e números apresentados em tabelas ou identificar que uma operação de divisão resolve um dado problema. Somente 17,69% dos estudantes “mais pobres” e 31,74% dos “mais ricos” atingiram a categoria de aprendizado “adequada”.

PROFICIÊNCIA EM PORTUGUÊS (ESCALA SAEB)

 5º ano9º ano
Abaixo do básico125-150125-200
Básico150-200200-275
Adequado200-250275-325
Avançado250-325325-350

PROFICIÊNCIA EM MATEMÁTICA (ESCALA SAEB)

 5º ano9º ano
Abaixo do básico125-175125-225
Básico175-225225-300
Adequado225-275300-350
Avançado275-375350-425
Já no 9º ano, na mesma disciplina, a distância entre os dois grupos que não atingiram o nível adequado é menor: 94,37% dos “mais pobres” contra 83,01% dos “mais ricos”. Esses estudantes não consegue fazer operações de adição, subtração, divisão ou multiplicação que envolvam centavos em unidades monetárias e/ou resolver problemas com porcentagens.
“É um problema geral [do 9º ano]. Nem os ‘mais ricos’ estão conseguindo aprender. Mas é bom lembrar que estamos falando de escolas públicas”, afirma o economista Ernesto Faria, autor do levantamento.

Resultados

No geral, independentemente da classe econômica, o resultado é melhor nos anos iniciais do ensino fundamental do que nos finais. Ainda que bastante ruins e acima dos 50%, o total de estudantes do 5º ano que não atingiu a categoria “adequado” é menor do que os do 9º ano, em que o menor índice está em torno de 70%.
Para Faria, a própria dificuldade adicional da segunda fase do ensino fundamental, em que são abordados conteúdos mais específicos em matemática, por exemplo, ajuda a piorar os resultados. “A partir do segundo ciclo, soma-se um grau de complexidade muito grande. Em língua portuguesa, o vocabulário que vem de casa, ter contato desde criança com diversas pessoas, ajuda. Em matemática, nem tanto”, diz.

2 comentários:

SENÔ BEZERRA disse...

A décadas Lauro de Oliveira Lima afirmou a inconsistência do ensino no Brasil.Esses dados atuais apenas demonstram mais claramente que Lauro estava certíssimo. A classe profissional dos educadores é míope e isso não tem nada a ver com baixos salários.É uma questão de visão, de formação, da capacidade de ampliar, de sentir o pulsar da vida lá fora.Formamos profissionais medíocres e os colocamos em antros que chamam de sala de aula, sem nenhuma infra estrutura e os remuneramos com essa porcaria que o governo chama de salário.Que qualidade queremos?

Martinelli disse...

Atualmentes os hábitos culturais do profesores são também da classe C. Temos então professores e alunos da classe C trabalhando com um currículo da classe média. O problema é o curriculo da classe média?