Historiador, Daniel Aarão Reis Filho lembra que Lula e
Dilma incorporaram ideia de reformismo progressivo e pluriclassista e de caráter
nacional-estatista
Renato Dias
Especial para o Jornal Opção
O herdeiro Partido Comunista Brasileiro, fundado em março
de 1922, não seria nem o PCB (refundação), muito menos o PCdoB ou mesmo o PPS,
mas o PT. Do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e da atual
inquilina no Palácio do Planalto, Dilma Rousseff. É o que afirma com
exclusividade ao Jornal Opção o historiador Daniel Aarão Reis Filho,
professor-doutor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro
“A Revolução Faltou ao Encontro – Os comunistas no Brasil” (1990),
Editora Brasiliense.
Segundo ele, há uma tradição legada pelo PCB, da ideia de
um reformismo progressivo, pluriclassista, incluindo o que então se chamava de
"burguesia nacional". De alianças com alas não hegemônicas do
imperialismo. Um reformismo de caráter nacional-estatista com perspectiva de
distribuição de renda, diz ele. “Esta tradição se mantém, atualíssima, nos dois
governos Lula, e no de Dilma Roussef”, analisa Aarão Reis. “Assim, ouso dizer
que o PCB, sob outras indumentárias, pois mudaram muito as circunstâncias,
continua vivo.”
Autor de “1968: A paixão de uma utopia”, ele lembra porém
que existe outra herança do PCB, a militarista: “A que vem das origens,
reiterada na insurreição de 1935 e nas tentativas revolucionárias empreendidas
no contexto do Manifesto de agosto de 1950, de enfrentamento aberto com a
Ordem vigente, retomada pelas organizações revolucionárias dos anos 1960 (Da
ALN de Carlos Marighella e do PCBR de Mário Alves), hoje, se encontra em sono
profundo, praticamente esquecida, pois a revolução saiu da ordem do dia, pelo
menos por enquanto.”
Presidente do PPS em Goiânia, Darlan Braz discorda. “Se
formos olhar na raiz, o PPS é de fato o herdeiro do PCB, que foi criado em
1922. Já que em 1962, uma parte do PCB (partidão) que ainda defendia a tomada
do Estado pelo uso das armas, afasta-se do PCB e funda o PCdoB. Em 1992, com a
queda do Muro de Berlim, e vendo que o comunismo soviético mostrou-se
insuficiente e ineficaz para apresentar soluções ao Estado e à sociedade, os
dirigentes do então PCB promovem sua dissolução e criam o PPS, com radicalidade
democrática como programa”, frisa Candidata ao Palácio das Esmeraldas em 2010,
a professora Marta Jane diz que o verdadeiro herdeiro do velho PCB é o atual
PCB.
“Que manteve a sigla e a linha política
marxista-leninista.” Ani mada, ela afirma que o PCdoB é uma dissidência do PCB
que houve em 1962. “O PCdoB não manteve a linha marxista-leninista e se
vinculou à perspectiva maoísta, alinhada ao Partido Comunista Chinês. Hoje,
numa linha nacional desenvolvimentista, atua politicamente se aliando aos
representantes do capital”, ataca ela a legenda rival.
Cáustica, Marta Jane condena a troupe de Roberto Freire
(PPS-SP). “O PPS dispensa explicações, já que surgiu em 1992 com a iniciativa
dos liquidacionistas que não acreditavam mais numa alternativa socialista para
o Brasil”, provoca. Segundo a líder comunista, o PPS queria "fechar as
portas" do PCB e, no seu lugar, criar o PPS, partido que nasceu alinhado à
direita e foi se aperfeiçoando como parceiro menor dos partidos defensores da
ordem no quadro político reacionário do país. “Mas os comunistas resistiram e
mantiveram o PCB que hoje comemora 90 anos de luta”
Ponderado, o historiador Romualdo Pessoa, da Universidade
Federal de Goiás (UFG), diz que tanto o PCdoB quanto o que restou do velho PCB
podem se afirmar como continuadores daquele partido criado em 1922. “Não vejo
nenhum problema nisso, mas é claro que ao longo da história enquanto os
remanescentes do Partido Comunista Brasileiro foram se enfraquecendo, o PCdoB
conseguiu não somente sobreviver, mas crescer de forma consistente.” Ele revela
também que no Rio de Janeiro militantes do PCB se filiaram ao PCdoB, como o
sambista Martinho da Vila.
“Historicamente, então, considero que os dois partidos
são herdeiros do velho Partido Comunista do Brasil, o PCB”, registra Romualdo
Pessoa. “Mas o que surgiu depois foi um novo partido, o Partido Comunista
Brasileiro. Só que foi criado pelos que tinham o controle do partido, por seus
então dirigentes legais. Ao mudarem o nome, deixaram o tradicional Partido
Comunista do Brasil para que um dissidência forte e respeitada pudesse fazê-lo
ressurgir em 1962”. Ele desconsidera o PPS como herdeiro das tradições
operárias e camponesas socialistas.
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