sábado, 7 de abril de 2012

1961: o golpe derrotado

Resolvi ler o livro de Flávio Tavares que leva o título desta nota. Queria fazer um contraponto à biografia do Jango (que estou lendo) escrita por Jorge Ferreira. No começo, pensei que havia trocado seis por meia dúzia. Ambos autores adotam um tom grandiloquente, épico. Contudo, o de Ferreira é pró-Jango, mas o de Flávio Tavares, que esteve na boca do leão nos dias em que João Goulart esteve ameaçado de não assumir a Presidência da República, é brizolista. O livro vai num crescendo e constrói, pouco a pouco, um perfil de um jovem líder de muita coragem e que arrisca tudo pelas suas convicções, até mesmo engolir uma evidente traição de seu parente e amigo João Goulart, que faz um acordo de bastidor com Tancredo Neves, jogando por terra toda mobilização social em defesa da Constituição.
João Goulart vai aparecendo aos poucos, capítulo a capítulo, e emerge como alguém inseguro e excessivamente complacente. Tavares, enfim, destrói as intenções explícitas de Ferreira, este último alertando o tempo todo que Goulart não era frágil ou sem rumo, mas um líder de construção efetiva do trabalhismo, para além do personalismo getulista.
Enfim, como é bom ter acesso a visões plurais e conflitantes. Lembra a obra Rashomon, de Akira Kurosawa. A vida fica mais real, embora menos verossímil. 

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