A Ilustríssima de hoje faz de uma conversa de comadres um tema jornalístico sem brilho. Uma entrevista de duas páginas com Caetano Veloso que, há tempos, se repete. Cria frases de efeito e tenta dar uma tinta barroca, daquelas que ao invés de andar dois centímetros em linha reta, faz uma volta de 20 km. Sinto cheiro de ressentimento em tudo o que Caetano tenta dizer sobre política.
A Folha alimenta uma discussão passadista, de Caetano com Roberto Schawrz, sem nenhuma importância para o país. Afinal, interessa aos mortais saber se a edição grega do livro de Caetano foi bem feita? Ou se a prisão de Caetano fez o rapaz amarelar? Se ele é mais de esquerda que outros?
Para piorar, a cereja do bolo: mais uma página para uma "crítica" (sic) de Marcos Augusto Gonçalves, entrando pela janela e tentando achar a saída. Segue a linha de Caetano, tenta escrever difícil (quando a máxima do jornalismo é se fazer entender) e cria um trocadilho infame ("burritsia" de esquerda).
Perdi meu tempo. E ainda fiquei irritado de cair nesta armadilha. A ilustríssima não tem o que dizer.
3 comentários:
Rudá,
Não julguei tão inútil assim. Ora, é uma matéria, num caderno cultural, no qual dois interlocutores têm o que dizer. E para dizerem o têm, não será preciso análise profunda ou vigorosa. Afinal, é disso que é feito jornal e jornalismo diário. São opiniões e mesmo que se as considere requentadas, são, no mínimo, mal colocadas em geral. Conquanto possa parecer dúctil e irrelevante, CV discute, sim, a mitologia esquerdista e seu desapreço pela democracia e pela liberdade. Isso não é nem velho nem irrelevante para nós. Ao menos na versão elegante e universitária.
RUDÁ,
Não julguei tão inútil assim. No jornal e mesmo num caderno cultural não vejo porque as análises devam ser profundas e vigorosas. Afinal, a matéria-prima de um jornal é a crônica do dia-a-dia; ou não? Não vejo interdição, ainda, para a boa discussão, a exposição de opiniões, sobretudo para interlocutores que têm o que dizer. Conquanto pudesse soar dúctil e irrelevante, CV mexe sim com a mitologia esquerdista. Sobretudo pelo estoque de desprezo pela democracia e liberdade. E isso está longe de ser ultrapassado e requentado. Ao menos, ou principalmente, na versão “elegante” e universitária.
Vou utilizar o texto que enviei para um amigo que fez consideração similar à sua:
Ok, o cara leu Adorno. Mas esta não é minha discordância. O Roberto faz uma análise crítica do livro de Caetano. Até aí, tudo bem, porque é a profissão dele. Mas cá entre nós, duas páginas para Caetano responder a crítica? Isto é marola jornalística. Pauta fria, no jargão
editorial. Sabe o que me parece? Algo parecido com a história do Milton Nascimento, quando era programador de uma rádio do interior mineiro. Ele inventava
cartas de ouvintes pedindo para tocar Beatles e colocava os discos que adorava e não tinha como comprar. A Folha se apequena.
Entrando no mérito da entrevista. O que dizer das perguntas iniciais: por que Schwarz só publica o ensaio 15 anos depois? Ué, eles querem que
Caetano seja crítico do crítico? Que tenha o dom da telepatia? Outra
pergunta genial: como o livro foi recebido no exterior? Isto é pergunta de tiete, não?
E as respostas? Caetano diz que sempre foi de esquerda. E eu com isto? Aí cai naquele rame-rame de que foi além da esquerda, tentando atualizar a crítica ao patrulhamento. Nada de novo. De repente, uma frase de efeito:
"toda cartilha ideológica é um obstáculo à inteligência". A inteligência não possui obstáculo algum. Isto é frase dos anos 50 ou 60. Jogou para a sua própria
platéia. A entrevista é um grande oba oba. Talvez a Ilustríssima seja o primo rico da revista Contigo ou outra qualquer de fofoca. Aliás, o nome do caderno está mais para título de novela que pensamento crítico.
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