Pimentel e Aécio, juntos, rumo a 2014
Foto: Montagem/247
MINISTRO DO DESENVOLVIMENTO QUER SER O CANDIDATO DO CONSENSO AO GOVERNO MINEIRO; ATUAL SENADOR, QUE TENTARÁ O PLANALTO, QUER MANTER-SE FORTE, INCLUSIVE ENTRE PETISTAS. JUNTOS, OS DOIS COLOCARÃO EM PRÁTICA UMA VELHA MÁXIMA SEGUIDA À RISCA POR TANCREDO NEVES: GANHAMOS ATÉ PERDENDO
Heberth Xavier_247 - Os dois são jovens num mundo dominado por sessentões, mas experientes o bastante no ofício da política. Ambos muito pragmáticos no que fazem, seguem à risca o que ensinava o avô de um deles, Tancredo Neves: em política, o melhor é ganhar até quando se perde.
Engana-se quem imagina que Aécio Neves e Fernando Pimentel estão afastados. Pelo contrário, continuam fiéis ao objetivo de cada um. O atual ministro do Desenvolvimento de Dilma Rousseff quer ser o novo consenso mineiro e eleger-se governador do estado em 2014. Aécio, duas vezes eleito para o cargo e consagrado nas urnas em 2010 quando tentou o Senado, quer tentar finalmente o vôo mais alto e chegar à presidência.
Quem resume a situação é o cientista político Rudá Ricci, com a experiência de consultoria em várias cidades em todo o país e coordenador de várias campanhas - foi o coordenador da campanha de Lula, em 1989: “Anastasia (Antonio Anastasia, o atual governador mineiro) não pode ser reeleito, Aécio não vai querer, então o nome de Pimentel surge quase naturalmente”, avalia Ricci. “Ele tem vencido os embates internos no PT, seu nome circula bem entre tucanos e no PSB.”
Cabe lembrar que, pouco antes do fim do segundo mandato de Lula na presidência, Pimentel chegou a conversar com vários membros do PSB. Com espaço menor no PT mineiro, ventilava a hipótese de mudar de partido. Ali começou a fortalecer-se em outros campos. Em 2008, já havia aberto novas frentes depois de liderar a insólita aliança com um tucano - Aécio - que levou Márcio Lacerda à prefeitura da capital mineira. Hoje, ministro do Desenvolvimento, recebe prefeitos de todo o interior mineiro, de todos os partidos, mas principalmente petistas. Fortaleceu-se no partido. Praticamente destruiu o futuro político do ex-ministro e ex-prefeito Patrus Ananias. Fez de um nome antes secundário, o ex-PPS Miguel Corrêa Júnior, um nome forte, hoje cotado para vice de Lacerda na eleição de outubro, além de deputado federal muito bem votado em 2010.
Enquanto se fortalecia no PT, Pimentel manteve-se em contato com Aécio. Na crise que quase o levou ao PSB - depois superada com a intervenção de Lula, que procurou pessoalmente o governador pernambucano, Eduardo Campos, para impedir a mudança -, o atual senador mineiro chegou a oferecer a Pimentel a Agência de Desenvolvimento Metropolitano de BH. Hoje, os dois mantém contato via interlocutores poderosos - do lado de Aécio, o ex-federal, hoje deputado estadual, Carlos Mosconi. Por Pimentel falam, sobretudo, o presidente do PT estadual, o deputado federal Reginaldo Lopes e, em menor instância, o próprio Miguel Corrêa.
Há hoje pelo menos 60 cidades mineiras em que uma aliança entre petistas e tucanos na eleição de outubro não é descartada - pelo contrário, é até estimulada. Recentemente, uma reunião de várias lideranças dos dois partidos selou o apoio mútuo dos dois rivais nacionais, na pequena Machado, cidade de 40 mil habitantes no sul mineiro. Apenas nessa região, há pelo menos três importantes cidades que devem seguir caminho parecido: Itajubá, Pouso Alegre e Poços de Caldas.
“Ele está virando quase um dono do PT mineiro”, diz um dirigente petista - aliás, adversário de Pimentel no partido. Geraldo Arcoverde, secretário geral em BH - e um dos contrários à aproximação com os tucanos - não vê tanta facilidade assim para o ministro do Desenvolvimento. “Ninguém no PT vai aceitar estar junto com Aécio no palanque estadual e adversário dele no nacional”, explica.
Ele tem razão, e por razões óbvias. Mas o que está sendo tramado é a repetição do que houve em 2008, quando Aécio apoiou informalmente Lacerda. O que ele ganharia com isso?
Uma liderança importante do PSDB na Assembleia Legislativa disse ao 247 que Aécio trabalha hoje com três alternativas: a primeira é voltar ao governo mineiro em 2014, mas ele descarta (até onde é possível Aécio descartar totalmente alguma coisa); a segunda é apoiar, para governador, o nome do presidente do PSB mineiro, Walfrido dos Mares Guia (mas, com isso, racharia o partido dos socialistas); por fim, apoiaria Pimentel, com Lacerda como vice e Anastasia no Senado. Esta é, claro, a preferência de Aécio.
Ele sabe que não receberá o voto dos petistas em 2014. Mas, como ensinou seu avô - e, ao contrário do que faz seu rival tucano José Serra -, o senador de Minas pensa sempre pragmaticamente. Se a derrota está vindo, é melhor ter sempre alternativas que a atenuem. Nas próximas presidenciais, Aécio sabe que dificilmente alguém vencerá Dilma ou Lula. “Se o Lula arregaçar as mangas, ele sabe que é impossível”, diz Ricci. “Mas, perdendo ou ganhando, ele vencerá, pois continuará muito forte.”
Tancredo Neves deve aprovar a tática do seu neto e do “amigo” Pimentel. Ou não?
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