A tese de Duilio de Avila Bêrni, divulgada ontem na Folha, que o Brasil não estaria em processo de desindustrialização é uma mistura de teses antigas com uma inovação inusitada. O inusitado é afirmar que não perdemos ritmo de crescimento da indústria tupiniquim, mas crescemos muito no passado, de maneira artificial, e agora estamos em ritmo normal. Seria como dizer que o "coelho" de uma corrida de longa distância ganhou uma corrida porque saiu na frente durante metade da maratona, mesmo tendo chegado em último.
A tese antiga é incorporar os elementos industriais do complexo agroindustrial nas contas sobre PIB e PEA. Esta discussão já foi proposta por diversas vezes, começando pelo interessante estudo de Pinazza, Araújo e Wedekin. Bêrni sugere que a pauta de exportação, apoiada em commodities, gera crescimento intersetorial, já que os produtos primários são intensivos em tecnologia e conhecimento. É fato, mas então seria o caso de abolir o conceito de setor primário, não?
José Eli da Veiga foi nesta direção quando reavaliou o tamanho do mundo rural brasileiro. Enfim, não dá para juntar alho com bugalho. Se adotamos este conceito de agronegócio (articulando a produção dedicada á jusante e à montante da produção até então considerada primária) é fundamental redefinirmos toda base de dados. Pinazza, quando publicou seu famoso livro, projetou que o agronegócio representava 42% do PIB.
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