O escândalo envolvendo o SARESP e a escola estadual Reverendo Augusto da Silva Dourado (reverendo que não tem nada a ver com isto, mas que está dando voltas em seu caixão) já havia ocorrido nos EUA, de onde os governos copiam esta avaliação sistêmica frágil e ainda adotam o equívoco de transformarem o resultado em bônus.
Diane Ravitch (na foto que ilustra esta nota) , ex-assessora do Ministro da Educação de Bush, Lamar Alexander, afirma em livro recente:
Em 2001, aplaudi com entusiasmo quando o Congresso votou um texto que defendia essas ideias: a Lei No Child Left Behind" (NCLB - nenhuma criança dexada para trás), assim como também celebrei, em 2002, quando o presidente George W. Bush sancionou-a. Mas hoje em dia, observando os efeitos concretos de tais políticas, acabei mudando de opinião. O ensino ordinário foi interrompido durante vários meses para dar lugar à preparação intensiva dedicada a esses exames. Muitos analistas disseram que os alunos acabariam aprendendo a fazer testes, mas não melhorando seu aprendizado. Muitos dados foram manipulados por órgãos estaduais. A verdadeira "vítima" dessa obstinação é a qualidade do ensino. Como a leitura e o cálculo se tornaram prioritários, os professores, conscientes de que essas duas matérias podem decidir o futuro de sua escola (e de seu emprego), acabam negligenciando as demais.
Agora leia a notícia sobre o escândalo com o SARESP e confira se não há algo semelhante:
De acordo com o boletim da escola, que teve nota 9,3, a média de seus alunos foi 10 em matemática e 9,13 em português. Em 2010, a nota dos alunos da Reverendo Augusto da Silva Dourado havia atingido 6,94 em matemática, e 5,55 em português. No ano anterior, eram menores ainda, 2,13 em matemática e 4,53 em português. Nas últimas três avaliações, todos os estudantes da escola fizeram o Saresp, segundo os boletins.
Romualdo Luiz Portela de Oliveira, professor doutor do Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação USP, avalia que é raro todos os estudantes de uma turma tirem a nota máxima em matemática, dada à heterogeneidade dos grupos. “Mas é possível”, pondera. Nenhuma outra unidade do Estado teve desempenho nota 10 em nenhuma das duas disciplinas.
A doutora e especialista em psicologia da educação Silvia Colello estranha o desempenho 100% em matemática, mas avalia que saltos no desempenho são possíveis, desde que a escola tenha passado por uma mudança estrutural. “Tecnicamente a possibilidade de crescimento existe, mas não acontece por milagre, depende de um investimento em toda a estrutura da escola, no projeto pedagógico e na relação com o professor”, destaca. A escola teve Idesp 3,21, em 2009, 6,07, em 2010, e saltou para 9,3, no ano seguinte.
Bônus
Como a bonificação dos professores e funcionários está ligada ao desempenho dos estudantes na rede estadual de São Paulo, a pressão por melhores resultados é grande. “Em função dessa supercobrança, abre-se a perspectiva para a fraude. Mas não dá para endossar uma denúncia sem apuração”, aponta Silvia.
O professor da Universidade Federal de Mina Gerais (UFMG) e um dos maiores especialistas em avaliações educacionais de larga escala do País, Francisco Soares, defende o destaque de escolas e projetos que conseguem garantir mais efetivamente os direitos dos alunos a uma educação de qualidade. “Mas isso não deve ser confundido com políticas de carreira e salarial”, salienta.
Soares foi um dos idealizadores de um programa de bônus da rede de ensino da Prefeitura de São Paulo, que leva em conta o nível socioeconômico dos alunos e também os resultados dos dois anos anteriores. “Ou seja, o aprendizado de alunos que trazem menos de casa é mais valorizado. O Idesp não tem estas duas características o que o fragiliza”, opina.
Para a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Noronha, o sistema de bonificação é falho por não considerar as diferentes condições de trabalho dos professores. “O bônus compra resultado. O professor sabe que vai sobrar para ele se a nota não for a esperada. E o contrário também acontece, alunos que não gostam do professor não respondem a prova”, avalia.
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