sábado, 14 de maio de 2011

Matéria da Folha de hoje sobre Classe C

Metade dos eleitores da classe C não tem memória da inflação
Segundo pesquisa, 35 milhões de pessoas aptas a votar em 2014 não viveram o período de forte escalada dos preços

Para especialistas, dado indica que exploração política do tema pode ter efeito relativo na eleição presidencial

CLAUDIA ROLLI
DE SÃO PAULO

Cinco em cada dez eleitores da nova classe média aptos a ir às urnas em 2014 não viveram o período de inflação elevada e, por isso, não têm memória da escalada de preços no dia a dia. São cerca de 35 milhões de pessoas, com renda familiar entre três e dez salários mínimos, que representarão 28% do eleitorado total nas próximas eleições presidenciais. Os dados fazem parte de uma projeção inédita feita pelo Instituto Data Popular, a partir de dados do IBGE. O estudo indica, segundo especialistas, que a intenção da oposição de explorar o crescimento atual da inflação pode ter efeito relativo. Também sugere que perderá força o tradicional discurso do PSDB de que o partido é o responsável pela estabilização da moeda, com a criação do Plano Real, e pela deflagração do processo de recuperação econômica.
Em 94, quando o controle da inflação dominava o discurso político, todo o eleitorado da classe C estava familiarizado com o tema. "A nova classe média vota olhando para frente e não pelo retrovisor. É grata pelas conquistas recentes, mas votará em quem pode ser a melhor alternativa para manter sua qualidade de vida", avalia Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. Para o cientista político Amaury de Souza, porém, o fato de o eleitor não ter a lembrança da inflação não o afasta obrigatoriamente do tema. "A perda de renda afeta mais diretamente a classe C, principalmente se ela vir escoar por entre os dedos o que acabou de conquistar."
Se houver aumento da inflação, o governo pode ser responsabilizado, e quem se beneficia é a oposição, afirma o sociólogo. Caso consiga combatê-la, o governo pode "capitalizar a seu favor". Para o cientista político Bolívar Lamounier, um dos debates mais importantes a ser feito é como oferecer condições para que essa nova classe média se sustente. "Somente pelo emprego, isso não vai ocorrer. Um dos caminhos é pelo empreendedorismo, mas ninguém está olhando para esse tema."
INFLAÇÃO X CRÉDITO
A inclusão social causada pela explosão do consumo traz para a presidente Dilma um problema para lidar com o eleitor emergente: tem de controlar a inflação sem conter de forma severa o crédito.
"O que está na mente [desse eleitorado] é o recado do ex-presidente Lula de que a crise era uma "marolinha" internacional e que o brasileiro deveria comprar. Dilma está em uma situação difícil ", diz o sociólogo Rudá Ricci.
A disputa pelos eleitores da classe C gerou recentemente um debate acirrado entre os ex-presidentes Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Eleitor é jovem e vê a educação como prioridade
O eleitor da classe C é jovem, escolarizado, está conectado à internet, valoriza a religião para manter contatos sociais e tem a educação como prioridade. O perfil foi traçado a partir de pesquisa nacional feita no primeiro trimestre deste ano com 5.000 pessoas, com idade entre 18 e 69 anos, pelo Instituto Data Popular. A educação é vista como forma de ascender na vida. "Os pais da "Geração C" depositaram nos filhos a esperança de uma vida melhor, e enxergam no "primeiro doutor da família" referência importante na hora de decidir o voto", diz Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto. Os dados do instituto mostram, ainda, que conquistar a classe C será cada vez mais importante para os candidatos. Segundo o Instituto Data Popular, em 2014 ela vai englobar 57% dos eleitores; em 2002, eram 41%.
Carlos Eduardo de Moura Campos, 28, mora com os pais, aposentados, em Osasco. Estuda administração e trabalha como auxiliar administrativo. É o terceiro filho a fazer curso superior. Campos diz que escolhe o candidato com base em dois critérios: não estar envolvido em casos de corrupção e ter propostas ligadas a educação e saúde.
A recepcionista Gracielly Stefania de Oliveira, 32, estudante de turismo, afirma que não gosta de se sentir "disputada" como eleitora. "Fica parecendo que, como já conquistaram os "ignorantes" e mais pobres, agora querem disputar os que têm um pouco mais de acesso a educação e renda."

2 comentários:

Osires disse...

Essa materia sobre a memoria de inflação é sua? li isso com aflição pela verdade expressa.

Osires disse...

Ah, esqueci de assinar, Osires, aflito. (rs)