sábado, 14 de maio de 2011
A igreja do diabo
Na minha última viagem à Curitiba, entrei num sebo e comprei uma antologia de contos de Machado de Assis. Topo com o primeiro conto que leva o título desta nota. Não sei se você conhece. Trata do dia em que o diabo resolveu criar uma igreja. Não contente, resolve informar Deus desta decisão. Enfastiado, Deus pergunta o motivo desta ideia depois de tantos séculos. A resposta foi que as virtudes são como os mantos das rainhas que por baixo do veludo sobram franjas de algodão. E sugere que vai puxar as franjas. Criada a igreja, o diabo prega que o maior amor é o amor próprio, daí ser correto o egoísmo. E por aí vai. Até que percebe que os seus adeptos começam a cometer bondades. Um pé aqui e outro lá. E a bondade vai se alastrando por todos adeptos de sua igreja nova. O diabo não se conteve. Voltou ao céu, trêmulo de raiva e relatou o fenômeno a Deus. Após ouvir tudo, Deus teria lhe dito:
- Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana.
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