quinta-feira, 5 de maio de 2011
Rui Falcão por ele mesmo
Para Rui Falcão, Kassab não será aliado do PT
Pedro Venceslau pvenceslau@brasileconomico.com.br)
04/05/11 08:13
Eleito presidente nacional do PT no último sábado, o deputado estadual Rui Falcão é visto até hoje como um guardião dos interesses do partido
Rui Falcão nega que seu nome tenha sofrido resistência do Palácio do Planalto, fala sobre os planos do partido para 2012 e nega a existência do "mensalão".
Quando Luiz Erundina era prefeita de São Paulo no final da década de 80, cabia a Rui Falcão, então presidente municipal de seu partido, o PT, a tarefa de representar os interesses da legenda junto à administração.
Em vários momentos, as demandas partidárias se chocaram com os projetos da prefeita, que então era a estrela maior do petismo. "Naquele momento não estavam muito claras as relações entre partido e governo e havia uma insatisfação pela forma de composição dos cargos. Eu levava demandas e políticas do PT e havia tensões entre o partido e governo", diz Falcão.
Eleito presidente nacional do PT no último sábado, o deputado estadual Rui Falcão é visto até hoje como um guardião dos interesses do partido. "O Rui Falcão tem um estilo pessoal muito mais agressivo que o Dutra nas negociações envolvendo os interesses do PT. Ele não é flexível além dos muros do partido", diz o sociólogo Rudá Ricci, que militou com Falcão no PT durante a gestão de Luiza Erundina.
Com um currículo forjado na burocracia petista paulista, ele ocupa atualmente o cargo de secretário-geral da Assembleia Legislativa de São Paulo. No dia a dia, sua função se desdobra em tarefas burocráticas similares a de um prefeito do legislativo estadual.
O acúmulo de funções deixou no ar uma pergunta. Será que o novo presidente nacional do PT vai ter mobilidade para articular as alianças do partido em 27 estados no processo das eleições municipais de 2012? Diante do questionamento, os dirigentes se apressam em afirmar que não haverá problema. "Essa questão da mobilidade foi colocada em discussão e o Rui prometeu se organizar. Vai dar muito trabalho, mas as tarefas não são incompatíveis", diz o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), que integra a executiva nacional da legenda.
Nesta entrevista, ele nega que sue nome tenha sofrido resistência do Palácio do Planalto, fala sobre os planos do partido para 2012 e nega a existência do "mensalão"
Negociar os cargos de segundo escalão com o PMDB será sua missão mais complexa na presidência do PT?
O partido está bem contemplado no primeiro escalão. Temos ministérios chaves, sendo dois que não tínhamos antes; Comunicação e Saúde. E não podemos esquecer que temos também a presidenta. Com relação ao segundo escalão, foi criado um mecanismo junto a secretaria de relações institucionais da Casa Civil para fazer essa avaliação. As demandas dos partidos aliados já foram encaminhadas e a lista do PT foi encaminhada pela secretaria de organização do partido e estava com (José Eduardo) Dutra. Há um processo de exame e análise dos nomes. É preciso cotejar as várias demandas.
Por que esse processo ainda não terminou?
Em primeiro lugar porque existe um tempo de organização do governo. Em segundo, porque houve interregno determinado pela doença do presidente do partido. Ficamos parados nesse período. Agora o partido está em movimento novamente.
Surgiram rumores de que o senhor estaria processando o ministro Fernando Pimentel devido a chamada ‘guerra interna dos dossiês' da campanha presidencial de 2010. Como anda a relação entre vocês?
Antes de mais nada, é preciso deixar claro que nós não fizemos nem compramos nenhum dossiê. Dito isso, não há nenhuma incompatibilidade entre Pimentel e eu. Mandei uma carta para o jornal O Globo sobre está história absurda de que estou processando o Pimentel. Não estou e nem vou processá-lo. Não há motivo para isso. Ele também desmentiu. Temos uma relação antiga.
Fiquei sabendo pelos jornais que a campanha tinha uma empresa de comunicação e que membros dela tiveram um encontro com o Amaury para discutir sobre um dossiê. Essa empresa encerrou o contrato, não participou da campanha e Amaury seguiu o caminho dele. Depois, ele inventou essa história que eu teria tido acesso e furtado o computador dele. Estou processando Amaury Ribeiro Jr civil e criminalmente por calúnia e difamação.
É verdade que o Palácio do Planalto resistiu ao seu nome para presidir o PT?
Essa história de que eu e o José Dirceu derrotamos Dilma e Lula é absolutamente fantasiosa. O Dirceu sequer participou das articulações porque estava no exterior. Nós dois conhecemos muito bem o PT. Sem apoio de Lula e Dilma eu jamais me apresentaria como candidato. Dilma nunca foi contra minha indicação.
Mas ele insistiu pela permanência do José Eduardo Dutra...
A articulação foi muito rápida. Todos nós defendemos a permanência do Dutra. Foi só na segunda-feira que soubemos que ele não queria ficar de jeito nenhum na presidência do partido. Mas como ele tinha uma conversa marcada com a Dilma na quarta-feira, ainda alimentamos a esperança que a presidenta pudesse demovê-lo da ideia. Ela insistiu, mas não adiantou. Foi entre quarta e sexta que houve toda movimentação.
Existe muito mito em torno do papel do José Dirceu na vida do PT. Qual é o real peso dele?
Ele é membro da direção do partido e reconhecido como liderança no país todo. Dirceu se colocou a minha disposição para tudo que eu precisar e para viajar aos estados.
Acredita que a volta do Delúbio ao partido pode prejudicar os planos do PT?
Teremos que avaliar no decorrer dos meses. Eu votei a favor da volta dele. Foi uma decisão democrática e por larga maioria. Mas não foi uma anistia. Ele foi expulso pelos erros políticos que cometeu, só que o PT não tem pena perpétua. Ele teve, ao longo desse período, um comportamento compatível com alguém que pode ser aceito de volta. Não havia razão para negar. Delúbio não tem nenhuma condenação na justiça. Avaliação que isso pode beneficiá-lo no STF é dele. Eu imagino que vão julgar de acordo com autos, não por circunstâncias políticas.
A defesa que o PT faz hoje do financiamento público e fruto de lição que ficou do "mensalão"?
Nós já defendíamos antes. O mensalão, tal como se diz na mídia, não existiu. Não houve desvio de recursos públicos para campanhas eleitorais. Não houve uma contabilização rigorosa desses recursos segundo os marcos legais que existem hoje. Seria ridículo imaginar que parlamentares do PT receberiam recursos para votar em projetos do governo. Um dos acusados era presidente da Câmara
Dá para comparar esse episódio com a compra de votos para reeleição do FHC?
É evidente que não. A compra de votos para reeleição envolveu uma emenda constitucional da qual o governo foi beneficiário. Do ponto de vista político, foi um oportunismo atroz. Houve, na época, admissão de dois deputados que receberam dinheiro para votar na emenda. É totalmente diferente.
O PSD, de Gilberto Kassab, é aliado ou adversário do PT?
O surgimento do PSD tem que ser acompanhado. Em um primeiro momento, o partido se disse disposto a ser da base de sustentação do nosso governo no plano federal. Em outro, o fundador do partido afirmou que, se o José Serra for candidato, irá apoiá-lo. Se o PSD vier para a base da Dilma, isso é ótimo. Mas a sua inclinação eleitoral pode ser diferente. Outra possibilidade é haver uma junção futura do PSD com outras forças para se contrapor ao PT.
Com relação ao Kassab, ele é prefeito de São Paulo e a bancada do PT lhe faz oposição permanente e programática. A cidade está abandonada, o aumento da passagem foi acima da inflação e não corresponde a qualidade do transporte. Os corredores que ele prometeu construir não saíram do papel. Os hospitais a mesma coisa, as obras contra enchente não avançam, a saúde e a educação são lamentáveis. Diante de uma situação dessa, o PT precisa fazer oposição na Câmara Municipal.
O PMDB continuará sendo aliado preferencial do PT em 2012?
É uma aliado importante por várias razões; tradição, luta pela democracia, capilaridade nacional, tamanho de bancada e tempo significativo de rádio e TV. É natural que o PT procure manter e ampliar a parceria.
O senhor é deputado estadual e 1° secretário da Assembleia Legislativa. Como vai se deslocar pelo país fazendo as articulações que o partido exige?
Tenho uma assessoria excelente e participo das grandes decisões nas reuniões de segunda e terça com a mesa. Vou priorizar o trabalho de presidente do partido.
A estratégia do PT é investir pesado em São Paulo?
Esta estratégia já existia antes da minha eleição e é correta. Os diretórios estão se aplicando aqui para fortalecer o partido com vistas a 2012. O fato de termos dirigentes de São Paulo não significa que vamos perder o caráter nacional do PT. Um dos primeiros roteiros que vou fazer será na Região Norte e depois Nordeste, até para simbolizar isso. O PT tem duas sedes, Em Brasília e em São Paulo. Vou me dividir entre as duas. São Paulo tem um grande peso, mas temos que cuidar do Brasil.
Qual será o papel de Lula?
Ele é a maior liderança que temos. Poder consultá-lo permanentemente é um saldo muito grande para o PT. Lula vai cumprir o papel que achar mais adequado. Ele está empenhado na reforma política e vai ter papel de formulação tática e política nas alianças das eleições de 2012. Vai ajudar em tudo isso.
Quem será candidato em São Paulo, Marta ou Mercadante?
A tática é ter candidatura própria em São Paulo e o nome será definido até o final do ano no máximo. Não há disputa ferrenha.
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