sábado, 7 de novembro de 2009

França não segue mais gurus!


A frase é de François Dosse, o historiador-autor da "História do Estruturalismo" (EdUSC). Está publicada na edição de hoje de O Globo, do Prosa & Verso, dedicada á Lévi-Strauss (leitura leve e interessante).
Acredito que esta conclusão poderia ser dita em qualquer lugar do planeta. Mesmo porque, a França se acha o centro do mundo inteligente. Dosse dá mais um passo e diz que o modelo de intelectual francês é o sartreano, engajado.
Será que estou com olhar para textos que falam da superação do estilo engajado de intelectual ou é uma constatação universal? O fato é que acabava de ler um argumento próximo no início do livro de Bobbio (ver notas abaixo).
O intelectual guru era mais que o intelectual orgânico gramsciano. O orgânico fazia parte (lá vai o óbvio!) de um organismo, parte integrante. O guru é um ser superior, que pouco se interessa se será pai de uma comunidade ou organismo (embora desconfiasse de sua paternidade). O guru pensa e repensa o mundo.
Francisco Weffort, por muito tempo, foi um guru brasileiro. Foi por pouco tempo, mas foi. Diziam que era ghost writer de Lula. Vou confidenciar, aqui, uma cena hilária que ilustra o que afirmei acima, que vivenciei quando era do CEDEC (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea, que disputava com o CEBRAP). No período de transição e principalmente a partir da constituinte, os debates acadêmicos sobre o novo país que se desenhava (ao menos institucionalmente) eram intensos. Weffort procurava entender o país e oscilava entre uma visão pessimista com uma visão otimista sobre o nosso futuro. O CEDEC, ao contrário do CEBRAP, focava sua interpretação a partir dos novos direitos e dos novos sujeitos que se insinuavam na vida política do país (o CEBRAP sempre foi mais institucionalista e pensava o país a partir das regras e instituições e pouco a partir dos novos direitos). Numa das reuniões mais emblemáticas do período, José Álvaro Moisés (eterno seguidor de Weffor) reclamou abolutamente frustrado: "quando a gente aceita o argumento do Weffort e segue sua linha, ele logo em seguida muda tudo... assim fica difícil". Weffort ficou mudo e meio perplexo. Eder Sader segurou o riso, no que foi acompanhado pela maioria dos presentes. Acho que Weffort não percebeu a sina dos gurus. Mas seu reinado terminou com o ingresso no governo FHC. Não sofreu por muito tempo.

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