domingo, 22 de novembro de 2009
Erundina, Já!
Quando fui membro da Assessoria Técnica de Diretrizes Regionais (ATDR), uma espécie de subsecretaria colegiada da Secretaria de Administrações Regionais de São Paulo, na gestão Erundina, pude acompanhar de perto a figura absolutamente ímpar da política nacional. Erundina chegava a me fazer compará-la com Rosa Luxemburgo, na sua solidão e retidão. Vou contar dois casos rápidos que presenciei. Coisa de rotina. Toda vez que acompanhava a prefeita no carro oficial, Erundina conversava com um olho no interlocutor e outro na rua. A cada instante, pegava o rádio e ligava para a Prefeitura, exigindo providências em relação a um ponto de incêndio inicial, um buraco na rua ou até um morador de rua dormindo embaixo de uma ponte. Eu nunca mais vi algo parecido. Num outro episódio, quando inaugurava uma biblioteca infantil, Erundina avistou dois meninos pobres, lendo livros ao redor de uma pequena mesa. Ela não se conteve. Deixou toda comitiva, foi até os meninos, abraçou-os e perguntou se estavam gostando da biblioteca e o que achavam que poderia melhorar. Ao retornar, desviava os olhos dos assessores. Era emoção pura, genuína.
Com toda sinceridade, acho que foi o governo mais fiel ao petismo que presenciei. Haveria outros tantos para ilustrar. Mas este foi o mais marcante. Ousava sem culpa. Por exemplo: em São Miguel Paulista, numa intervenção articulada entre várias secretarias, Erundina decidiu se reunir com moradores (estamos falando de quase 400 mil pessoas) e criar uma rede de controle sobre as obras. Eu vi pessoalmente, em várias esquinas, senhoras de meia idade com pranchas na mão, discutindo o cronograma com chefes de uma força-tarefa da prefeitura. Elas falavam em nome da prefeita. Eu mesmo cheguei a mediar (segurando o riso) um conflito entre um operário e uma moradora (que exigia que o horário de almoço do pobre coitado fosse 1 hora mais tarde).
Recentemente, encontrei Erundina e ela estava chateada porque o PT havia devolvido toda documentação arquivada referente ao governo dela em São Paulo. Como se fosse uma herança maldita. Algo que não se faz nem com inimigos. Porque é memória compartilhada.
Pois bem, agora esta figura da pequena estirpe das lideranças sérias da política tupiniquim necessita de todos que a admiram. Erundina foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal por malversação de recursos públicos. O "crime" foi ter impresso cartazes explicando à população que os ônibus municipais de São Paulo não circulariam nos dias 14 e 15 de março de 1989 em apoio a uma greve geral convocada pela Central Única dos Trabalhadores e Central Geral dos Trabalhadores. A greve havia sido convocada em protesto contra o “Plano Verão”.
Os amigos de Erundina estão arrecadando dinheiro para ajudá-la a pagar esta multa. Porque ela não enriqueceu com a política. Quem desejar ajudar, o site da campanha é www.amigosdaerundina.com.br .
Não há nada de partidário neste ato. Trata-se de solidariedade à uma liderança de esquerda do país. Das que mais enchem de orgulho.
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