domingo, 11 de março de 2012

Lula, o líder político da cultura pop


Eu havia comentado por aqui que ainda retornaria para aprofundar o livro de Tales Ab´Sáber, sobre o lulismo. A parte mais interessante do livro é a que começa próximo da página 40 (em diante). A partir daí, Tales abandona a tentativa de ser sociólogo ou analista político e se aproxima de uma leitura mais afeta à psicologia. E aí, ganhamos uma leitura instigante. Selecionei algumas passagens (não reproduzi todas literalmente e, em alguns momentos, articulei passagens distintas do livro, para dar uma linha de continuidade à argumentação do autor). 
A tese central é a que Lula conseguiu emergir como um político da cultura pop, fincada no consumo fácil e imediato. É popular, enfim, não um líder com projeto popular para o país. O que o faz quase seguidor do interesse geral e não formador político. Tales detalha um pouco mais a personalidade carismática de Lula, como uma contradição em si, com um pé na mudança e outro no patrimonialismo.
Vamos à seleção de excertos que reproduzo:

Lula foi a liderança esperançosa de todos nós, com alguns traços messiânicos, embora muito esmaecidos, da tradição imaginária dos revolucionários de esquerda
(...) seu primeiro imaginário carismático foi o bom selvagem civilizado e civilizador,  antiburguês, que protava conhecimento prático
 
(...) Porém, Lula sempre se colocou no espaço público de modo relativamente soft, agregador, mediador, cordial
 
(...) Lula foi, durante muito tempo. o herói das classes médias críticas que tinham resistência ao processo de negociação franco e cínico de uma outra fração de sua própria classe
 
Seu sistema de poder pessoal, articulado com o teatro de sua linguagem e corpo, foi bem mais longe do que esta face do seu carisma
Lula também foi um igual na apropriação patrimonialista brasileira, líder e garantia plena de liberdade e impunidade pragmática, o que permitiu a entrada de seu grupo no clube do clientelismo brasileiro, os antigos proletários sindicalistas, agora novos gerentes da máquina pública
As três frentes de seu modo de governar são: a) o líder popular benevolente; b) o recém chegado patriarca dos patriarcas; c) o generoso e relativamente pouco exigente chefe de equipe burocrática modernizadora
A duplicidade contraditória dessas três faces é uma operação de manipulação e redução de uma parte do público político, dos cidadãos, à verdadeira regressão de um ego não totalmente integrado
Com a emergência do lulismo, o Brasil deixou de ser sub, ou emergente, tornando-se mercado central vital. Noutras palavras, as práticas sociais do todo de nossa vida local se integraram no espírito próprio do mercado global
A cultura do governo Lula foi a da universalização do consumo, da emergência do sujeito pós-moderno, do consumo como cultura. O que não for consumo que silencie
Lula é o político imantado pelo deslocamento do fetichismo da mercadoria sobre si próprio, o seu carisma pop. Lula, em alguma medida conseguiu ser Paul McCartney...

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