terça-feira, 13 de março de 2012

Desindustrialização: a tese da revista Época

A revista Época publica matéria-editorial cujo título é "O Mito da Desindustrialização". O blog de Zé Dirceu rapidamente repercutiu a matéria. Trata-se de uma evidente desmontagem do principal argumento de ataque de José Serra (aliás, a matéria da Época o cita). Como já citei neste blog, o conceito de desindustrialização está vinculado ao de perda de empregos no setor. E isto ocorre. Há estudos da Fundação SEADE que indicam a perda de empregos em profusão no ABC paulista. E não se trata apenas de impacto de novas tecnologias. É verdade que um estudo da Alliance Capital revelou que os empregos minguaram de 1995 a 2002 em todo o mundo (perda de 22 milhões de postos de trabalho na indústria). Mas o mesmo estudo indicou que o Brasil foi o campeão de perda de empregos industriais dentre 20 países pesquisados. A questão é se estamos correndo atrás de superávit comercial via exportações de produtos primários, impulsionando o processo de desindustrialização. O que na literatura especializada ficou convencionado como "doença holandesa", ou aumento de receita decorrente da exportação de recursos naturais, tornando o setor manufatureiro menos competitivo. No caso, na década de 1960 houve aumento do preço do gás que, por seu turno, gerou aumento da receita de exportações dos Países Baixos, derrubando as exportações de outros produtos por falta de competividade.
A matéria da Época, contudo, dá um passo na discussão. Vejamos as principais passagens:



O PAÍS ESTÁ OU NÃO SE DESINDUSTRIALIZANDO?Leia os gráficos que fazem parte desta reportagem. Odadooficiais mostram que, em dez anos,o volume das exportações de produtos manufaturados aumentou de US$ 33 bilhões para US$ 92,3 bilhões. Mostram também que, no mesmo período, a participação total da indústria na composição do PIB manteve-se constante, em torno de 27% – ao contrário do que afirma Skaf. Pode até ter havido alguns setores que encolheram mesmo, mas outros cresceram e ocuparam oespaço. É do jogo. No conjunto, ficou elas por elas.

POR QUE, ENTÃO, SE FALA TANTO EM DESINDUSTRIALIZAÇÃO?O peso dos produtos industriais nas exportações brasileiras efetivamente caiu entre 2002 e 2011 – de 54,7% para 36,1%, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Comoisso aconteceu, se a participação da indústria na composição do PIB continua constante? A resposta: a fatia da indústria nas exportações caiu não por causa do encolhimento da indústria, mas em razão da expansão de outros setores. Os preços de manufaturados ainda subiram bem menos que no agronegócio, graças à concorrência chinesa (leia o quadro ao lado), beneficiadapelo até agora baixo custo de sua mão de obra. No setor de serviços, preservado, em boa medidada competição externa, houve um aumento maior de preços que no industrial.

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