Frentes abertas
Sob as glórias de 76% de aprovação popular, a presidente Dilma Rousseff quer inaugurar uma nova forma de governar. À sua imagem e semelhança. Impondo conceito, regras, formas, métodos. Será bem-sucedida. É possível. Na política, tudo é possível. Por conta de seu estilo, algumas frentes foram abertas contra o Governo. Vejamos.
I - A onda política
A nomeação de novos líderes do Governo para o Senado e Câmara é prerrogativa da presidente. Incontestável. Mas a cultura política aconselha que as nomeações deveriam ser precedidas de um sistema de consultas. Se houve consulta, não se sabe. Deve, isso sim, ter havido muita conversa de bastidor entre Dilma, Lula e um pequeno grupo de assessores. Resultado : a demissão do senador Jucá e do deputado Vaccarezza de seus postos para dar lugar ao senador Eduardo Braga e ao deputado Arlindo Chinaglia pegou de surpresa o mundaréu político. O PT mostrou-se rachado. E o PMDB, ferido. Para complicar, o PR do Senado saiu da base do governo. Os políticos não estão satisfeitos com o estilo rompante da ministra Ideli. Que, como se deduz, não dá um passo sem consultar a presidente. Forma-se uma onda no Congresso que poderá inundar os vãos e desvãos do Palácio do Planalto.
II - A onda empresarial
Os empresários, principalmente os integrantes do universo industrial, se queixam do processo de desindustrialização a que vem sendo submetido o país. De cada quatro produtos adquiridos no mercado brasileiro, um é chinês. O PIB industrial despenca. O chão de fábrica se estreita. Os empregos estão migrando da indústria para os setores de serviços. A insatisfação se expande. O governo promete medidas pontuais. Mas não age. Fábricas são fechadas. Polos têxteis, como o de São Paulo, enfraquecem. A mais poderosa Federação das Indústrias do país, a FIESP, toma a frente da movimentação. Dia 4 de abril fará um grande movimento em São Paulo, juntamente contra as Centrais Sindicais. As Centrais querem mobilizar cerca de 100 mil pessoas. Essa é mais uma poderosa frente contra a inércia do governo em relação à indústria.
III - A onda militar
A terceira frente contra o governo Dilma emerge na área militar. Mais exatamente, no refúgio dos militares aposentados. Que, agora de pijama, expressam um discurso de insatisfação/indignação contra as pretensões da Comissão da Verdade. O Ministério Público pretende resgatar a história dos desaparecidos. E quer que a Comissão da Verdade abra o véu do passado. Os militares sustentam o argumento de que a lei da anistia passou uma borracha no passado. Os desaparecidos foram dados como mortos. Como poderiam, agora, ser considerados vivos ? Não é possível, segundo eles, restabelecer essa condição. Mas os nossos aposentados das Forças Armadas não têm forças, ou seja, armamentos. Ocorre que os verbos contundentes que expressam poderão criar fagulhas nos quartéis. Não se pode desprezar a insatisfação nesse meio.
IV - A onda sindical
A quarta frente contra o estilo Dilma de governar age no seio das Centrais Sindicais. Que se sentem desprestigiadas. Sem a intensa interlocução que possuíam na era Lula. Naqueles tempos, os líderes sindicais desfilavam quando queriam pelo Palácio do Planalto. Agora, só esporadicamente. Não dispõem mais das portas abertas do poder central. Lutam para fazer chegar à presidente seu clamor. Por isso, as Centrais Sindicais se juntam aos empresários industriais, insatisfeitos, para adensar o bolsão de contrariedade contra o governo. Farão movimentação por todo o país, a partir de uma grande passeata, em São Paulo, dia 4 de abril.
V - A onda cultural
Há, ainda, uma frente contra o Governo, mais exatamente contra uma ministra do governo Dilma, Ana de Hollanda. A classe artística pede sua substituição. As manifestações pedindo a mudança da ministra se expandiram, recentemente, a partir da informação de que o Ministério da Cultura advogou em favor do ECAD (escritório de arrecadação e distribuição de direitos) em um processo no qual a instituição autoral é acusada de cartelização e gestão fraudulenta. O processo está em julgamento no Conselho de Administrativo de Defesa Econômica.
VI - A onda internacional
Há certo acirramento de ânimo entre o Brasil e alguns países. Na última viagem da presidente Dilma à Europa, ela fez sérias críticas à política monetária expansionista dos países europeus, que produz efeitos nocivos por desvalorizar de forma artificial as moedas. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, em tom crítico, respondeu com o argumento de que o Brasil exerce políticas protecionistas muito duras. A posição do Brasil em relação à ditadura síria e ao Irã também é motivo de críticas.
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