quarta-feira, 2 de março de 2011

Minha entrevista ao Brasil de Fato



P: O movimento de políticos conservadores para a base do governo tem algum significado ideológico na sua opinião?
R: Parece reflexo de dois movimentos que se cruzam: o movimento do lulismo que diminuiu em muito o espaço da oposição (o avanço sobre o DEM, estimulando a transferência para o PMDB e PTB foi extremamente agressivo) e a consequente desestruturação do nosso sistema partidário. Os partidos brasileiros são, hoje, estruturas autóctones, sem lastro representantivo de base. Sua representação se faz por cima, pela legitimidade que conseguem ao desenvolver práticas cartoriais junto aos ministérios. Veja o caso dos prefeitos: sem convênios com ministérios e caixa econômica federal não governam. Prefeitos se tornaram meros gestores de programas federais.

P: Qual deve ser a contribuição desse novo partido oriundo da provável fusão de setores do DEM com o PSB para a política? É apenas um movimento fisiológico?
R: Parte do PSB e DEM já é fisiológico ou, na melhor das hipóteses, não possui uma gota de programa ou ideologia. Mas parte do PSB, como o governador Eduardo Campos e a deputada Luiza Erundina, têm ideologia e história a preservar. Daí pode vir a tensão e a novidade. Aliás, Erundina já ameaçou sua saída do PSB se Kassab e Afif Domingos ingressarem no seu atual partido.

P: O senhor crê que esse movimento visa criar uma terceira via a ser forjada já nas eleições de 2012? Esse partido pode empurrar o restante do DEM e o PSDB mais à direita?
R: O DEM estará praticamente destruído. A questão que fica em suspenso é o futuro do PSDB. E aqui a resposta está na resolução da luta entre Serra e Aécio Neves. O governador Alckmin já se aliou à Aécio. E a dificuldade de Aécio para influenciar o nordeste parece que está sendo resolvida com a aliança com ACM Neto. O PSDB entrará em curso de crise - como o DEM nos anos de lulismo - se Aécio sair do PSDB, o que parece distante neste momento. Mas é uma possibilidade. Enfim, a oposição - e o sistema partidário nacional - vive um dos seus piores momentos em toda história republicana.

P: Na sua opinião, qual é a influência do fenômeno do lulismo nesse aggiornamento do pós-Lula?
R: A influência é imensa. O lulismo avançou sobre o DEM desde o primeiro mandato de Lula, como já expliquei. Alimentou a divisão do PSDB, fazendo acordos de bastidor com Aécio Neves. E tentou criar uma coalizão de governo, de tipo parlamentar, desde o início, criando uma certa ordem unida. O mensalão já era uma tentativa desta natureza. Mas foi no segundo mandato que obstruiu qualquer espaço de oposição. Hoje, ou se é lulista ou só se tem espaço com factóides, sem qualquer ação relevante. Aliás, o lulismo também vive de factóides. Mas tem algo a mais: tem um programa político estruturado a partir do estatal-desenvolvimentismo. A dúvida é se Dilma Rousseff saberá administrar este legado. Com os cortes recentes do orçamento federal e a sua ausência do palco e cenário público, parte do lulismo parece manco.

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