quinta-feira, 31 de março de 2011

Esvaziamento do MST: matéria de Roldão Arruda


Eu alertava....

MST vive crise e vê cair número de acampados
Às vésperas do início de sua jornada nacional de lutas, o chamado 'abril vermelho', o Movimento dos Sem Terra (MST), a maior organização do País dedicada à defesa da reforma agrária, enfrenta um dos desafios mais dramáticos de sua história: a contenção do rápido esvaziamento de seus acampamentos. No primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, existiam 285 acampamentos de sem-terra no País, de acordo com levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em 2009 a quantidade despencou para 36. Em 2010 o número foi ainda menor, segundo dados preliminares do novo relatório da CPT que será divulgado nos próximos dias; e em 2011 as dificuldades de mobilização só aumentam. Dias atrás, o militante Luciano de Lima, um dos coordenadores do movimento no interior de São Paulo, teve dificuldade para reunir 27 pessoas na invasão de uma área da Ferroban, em Paraguaçu Paulista.
O total de pessoas acampadas no País passou de 400 mil para menos de 100 mil entre 2003 e 2010, segundo estimativas da direção nacional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Para o secretário da coordenação nacional da CPT, Antonio Canuto, o esvaziamento é acentuado. Líderes do MST admitem o problema. A causa principal, na opinião deles, seria o crescimento do número de postos de trabalho no País, especialmente na construção civil. Em entrevista ao Estado (leia nesta página), Gilmar Mauro, que faz parte da coordenação nacional e é reconhecido como um dos principais ideólogos do movimento, observa que a construção civil absorve grande volume de trabalhadores egressos do campo, com pouca especialização profissional, que eram os primeiros a se mobilizar pela reforma, desejosos de retornar ao local de origem.
Para Antonio Canuto é preciso considerar também a falta de empenho do governo na execução da reforma. 'Ninguém se dispõe a passar anos debaixo da lona de um acampamento se não houver uma perspectiva mínima de atendimento de suas reivindicações', diz. 'No início do mandato de Lula as pessoas acreditavam que ele faria a reforma e por isso foram para os acampamentos. Com o tempo percebeu-se que o empenho do governo não era tão forte como se havia prometido. Agora a situação é pior: a reforma não está no horizonte do novo governo.'
O professor Bernardo Mançano Fernandes, do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma (Nera), ligado à Unesp, diz que é preciso considerar também a influência do Bolsa Família. Na sua avaliação, o programa deu mais opções de sobrevivência às famílias mais pobres, que relutam na hora de se deslocar para o acampamento, onde enfrentam muitas dificuldades.
Tanto o representante da CPT quanto o professor acreditam que se trata de uma situação conjuntural. Para eles, a demanda pela redistribuição de terras ainda é forte e os movimentos de sem terra podem voltar a ganhar força. Mas também há quem acredite que essa tendência é irreversível e está ligada às enormes transformações que estão ocorrendo na área rural, com investimentos maciços em projetos agroindustriais, principalmente relacionados à produção de etanol. A área de terras disponíveis para a reforma tende a ficar cada vez menor.

4 comentários:

Ana Carolina disse...

Bom dia, aqui no RS as causas talvez não apenas essas. Tivemos um governo horroso que criminalizou os Movimentos Sociais. Tivemos casos, como do Elton Brum, de morte pelas mãos da Brigada Militar. Sobre esses dados que vc apresenta, não tenho como contestar, haja vista a credibilidade que dou a seu trabalho, porém, aqui, a militância foi fichada caso a caso. No caso do CPERS, por exemplo, nossa principal dirigente foi presa em uma manifestação contra a ex-governadora, cujo o nome prefiro não mencionar para que caia no esquecimento. Acredito que todos os Movimentos estão com dificuldade de militância, não apenas o MST. No Movimento Ecológico, os jovens, que eram a grande entrada, estão cada vez mais cooptados pela internet. Enfim, continuamos...

Rudá Ricci disse...

Não tenho dúvidas disto, Ana Carolina. Mas o MST sempre foi perseguido e em situações ainda mais graves. Temos que avaliar, com isenção, as mudanças profundas que ocorrem na sociedade brasileira e na política de Estado e seu rebatimento sobre as organizações populares. Caminhamos para a realidade européia, Ana. Pode acreditar.

AF Sturt Silva disse...

Uai,um governo de esquerda que cria uma classe média (C)despolitizada só podia causar conseguências deste tipo nos movimentos socias,aqui no caso o MST.

As coisas piora quando o movimento defende um governo que não faz o que eles defendem, a reforma agrária.

De vez enqando a esperança não é ultima que morre.

Mas o que significa realidade européia ,que sentido?

Rudá Ricci disse...

O modelo europeu é o que criou uma simbiose entre governos e centrais sindicais. É o que Phillippe Schmiter - um dos estudiosos mais citados em todas análises sobre o mundo sindical - denomina de neocorporativismo. Na Itália, tal simbiose gerou uma reação imensa da base sindical. As centrais sindicais foram apedrejadas em vários comícios. Os operários diziam que os dirigentes eram vendidos, que só defendiam a pauta governamental e que não apareciam mais nas fábricas. As comissões de fábrica rechaçaram as centrais e nasceu uma série de organismos ditos independentes. Alguns desses organismos eram de direita e regionalistas. Mas nem todos.
Há evidente distanciamento das centrais sindicais, todas partidarizadas, da base sindical. A CUT rasgou sua plataforma e ideário de origem. Hoje é uma organização muito vinculada ao governo federal e, como ocorreu na Europa, define e comanda o ministro do trabalho. O mundo soviético (e o próprio último artigo escrito por Lênin, "Vale quanto Pesa") demonstram o erro de se confundir sociedade com Estado, governo e partido. Esta bobagem de partido que representa toda uma classe e o partido que é Estado é fascista e não esquerda.