sábado, 5 de março de 2011

Bourdieu


Estou aproveitando o feriado de Carnaval para reler O Senso Prático, de Pierre Bourdieu, um autor genial, muito empregado no Brasil para justificar conclusões que ele não compartilharia. Mas entendo o motivo de Zander Navarro o considerar o maior sociólogo contemporâneo (já trocamos rápidos emails a respeito em que defendo Touraine como top deste ranking imaginário, embora pudéssemos listar muitos outros até que o teclado se afundaria). Neste livro, Bourdieu critica, logo de cara, a oposição artificial entre subjetivismo e objetivismo nas ciências sociais. De um lado, destaca a contribuição da fenomenologia (a reflexão sobre a experiência não refletiva, aquele que produz familiaridade) e a rejeição, pelo objetivismo, de toda esta experiência pré-científica do mundo, parte do "jogo social". O mais interessante é que dialoga numa passagem com Platão, que questionava que este conhecimento prático do mundo sofreria com a pressão temporal, que limitaria a possibilidade de entrega à reflexão mais profunda ou a atenção a problemas mais interessantes, ou mesmo a volta atrás. O que alguns autores brasileiros desconsideram é que este mesmo Bourdieu destacava a ambiguidade dos símbolos e rituais, que impossibilita um sistema único, uniforme, com poucos e parcos princípios que conformariam uma comunidade, uma homologia.
Enfim, utilizar este autor complexo para definir uma classificação social mais rígida ou impressionista não é muito aconselhável. Bordieu, lembro, afirma que muitas vezes, um comportamento pode ser pura ostentação. Cito uma passagem
é preciso construir o espaço social como estrutura de posições diferenciadas, definidas, em cada caso, pelo lugar que ocupam na distribuição de um tipo específico de capital. (Nessa lógica, as classes sociais são apenas classes lógicas, determinadas, em teoria e. se se pode dizer assim, no papel, pela delimitação de um conjunto – relativamente – homogêneo de agentes que ocupam posição idêntica no espaço social; elas não podem se tornar classes mobilizadas e atuantes, no sentido da tradição marxista, a não ser por meio de um trabalho propriamente político de construção, de fabricação – no sentido de E.P. Thompson fala em The making of the English working class - cujo êxito pode ser favorecido, mas não determinado, pela pertinência à mesma classe sócio-lógica.) (BOURDIEU, Razões Práticas: sobre a teoria da ação, 1996: p. 29).

2 comentários:

Prof.História disse...

Ricci, bom dia. Tnho dúvidas quanto ao novo conceito que trabalha a "mudança de representação". pode me indicar algum livro?
Abraços
Silvana dos Santos
Guarapari-ES

Rudá Ricci disse...

Silvana,
Dê uma olhada neste paper: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v14n2/v14n2a03.pdf . E, também, neste: http://piwik.seer.fclar.unesp.br/estudos/article/viewFile/119/116. O conceito de representação é bem específico nas ciências sociais e mais rígido que o de imaginário. Se tiver alguma questão que o texto que indico não auxiliar, não se acanhe em enviar nova mensagem. Lembre-se que, em Bourdieu, o conceito de habitus é uma chave interpretativa.