segunda-feira, 8 de março de 2010

Sufoco no Deserto, artigo sobre política cultural no RS

No Zero Hora:
Sufoco no Deserto
Gunter Axt
(...) Não é de agora que a Secretaria de Estado da Cultura vem servindo de moeda de troca no jogo político e abrigo para políticos de entremez. Quando se trata de Cultura, partidos da base aliada fazem da política um fim em si mesmo e escarnecem do interesse coletivo. Isso num Estado com arraigada tradição cultural como o Rio Grande do Sul. O outrora produtivo Instituto Estadual do Livro colapsou: está há três anos sem publicar um título. A TVE vem sendo tratada como filho enjeitado. As obras do Multipalco do Theatro São Pedro se arrastam a passos de cágado. A Ospa é um pálido espectro perto da Osesp – agoniza em modorrenta rotina de província e continua sem ver o início das obras de sua tão sonhada sede. Nossos museus, arquivos e casas de cultura vivem à míngua. Há anos não se ouve nenhuma palavra concreta sobre a construção de uma nova Biblioteca Pública, de porte. Nenhum projeto para um novo museu de arte moderna ou contemporânea. Nenhuma estratégia sólida capaz de atrair recursos de fora. Nada de consistente que ajude a levar a cultura aqui produzida para o mundo. Não se prevê nenhum prédio de arquitetura icônica. O corpo funcional está mal-remunerado e é em número insuficiente para as necessidades mais elementares. A LIC-RS vive em permanente impasse. Não há elaboração intelectual. Não há bons projetos. Nem mesmo aqueles que poderiam ser conduzidos com simples parcerias, com aporte insignificante de recursos, como melhorar o conteúdo dos sites, firmar convênios com a Secretaria da Educação para ampliar a frequência nos museus, na Cinemateca Paulo Amorim. Sufocamos num deserto, na platitude.
(...) Sempre digo não existir governo democrático 100% bom ou ruim. O governo Yeda, que pode se mostrar operante e criativo em outros setores, aprofundou uma crise já existente na Cultura. A atual administração, anódina, carente da formulação de políticas específicas, nos empurrou para a pior crise de gestão cultural de nossa história. Só não é ainda mais grave porque algumas iniciativas privadas e administrações municipais vêm ocupando em parte o vazio. Mas todos estaríamos em melhor situação se pudéssemos contar com o governo do Estado.

2 comentários:

Fernando Nogueira disse...

Apenas para ilustrar como a atual secretária da cultura, Monica Leal, que tem a segurança como área de atuação, encara a cultura. pode parecer uma galhofa, mas não é: declarou certa vez que a feira anual de exposição agropecuária (Expointer) era um dos maiores eventos culturais do RS. Para ela, cultura se reduz ao tradicionalismo e as típicas cavalgadas no litoral.

Fernando Nogueira disse...

Apenas para ilustrar como a atual secretária da cultura, Monica Leal, que tem a segurança como área de atuação, encara a cultura. pode parecer uma galhofa, mas não é: declarou certa vez que a feira anual de exposição agropecuária (Expointer) era um dos maiores eventos culturais do RS. Para ela, cultura se reduz ao tradicionalismo e as típicas cavalgadas no litoral.