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Estou lendo o livro que Touraine lançou na França em 2007 (Pense autrement, Librairie Arthème Fayard), lançado agora pela Vozes. Ele aprofunda algumas preocupações que delineou no "Poderemos Viver Juntos?".
Vou reproduzir algumas passagens:
"Precisamos abandonar um evolucionismo desgastado. Estávamos convencidos de estar passando da comunidae para a sociedade, ou seja, da definição do indivíduo por aquilo que ele é para outra definição fundada naquilo que ele faz. No entanto, separamo-nos em direções opostas, e o espírito comunitário, sob suas mais variadas expressões, desde as mais positivas até as mais execráveis, ressurge em toda parte. Os aparatos sociais e culturais já não conseguem mais enquadrar todos os aspectos da experiência vivida."
"(...) a letigimidade e a definição do bem e do mal não procedem mais das instituições, sejam elas leigas ou religiosas. Por toda a parte e sob as mais variadas formas, o que mais se deseja é o reconhecimento do indivíduo e do grupo como portadores de direito de serem reconhecidos e respeitados, independentemente das leis e normas filtradas pelas instituições. Esta exigência geralmente assume um aspecto comunitarista (...)"
"Esta transformação de uma consciência de si que se torna mais forte do que a consciência das regras, das normas, bem como das exigências dos sistemas dentro dos quais vivemos e agimos (...)"
Faz coro ao que recentemente postei neste blog, sob uma possível crise do papel das instituições como cimento das relações entre indivíduos. Touraine, em minha opinião, retoma os estudos clássicos da sociologia francesa, de Comte e Durkheim. Eles se perguntavam o mesmo sobre o futuro das instituições modernas (sobre o fim da religião e da família como instituições reprodutoras de valores morais unificadores).
Este é o tema do século XXI, com suas estruturas em rede, com relações fluidas e erráticas, com mil possibilidades virtuais e poucas reais, com mobilidade social acelerada, enfim, com o risco e aceleração do ciclo de vida (e morte) das relações sociais sendo a marca de nosso tempo.
As pesquisas que venho postando neste blog revelam uma juventude que já não se vincula à hierarquias e sentido de autoridade. São mônadas, mas que não chegam a ser autistas sociais, justamente porque se relacionam a partir de comunidades que se desmancham no ar na mesma velocidade que surgiram.
O problema é que Touraine cai sempre na mesma solução: o ressurgimento do sujeito. Me pergunto se este conceito não é datado, que mantém funcionalidade societária (justamente a sociedade que Touraine avalia que se esvai).
Um comentário:
O problema é que se as instituições modernas entraram em crise profunda de representatividade, a escola passa a ter outro perfil (mais comumitário) e função (de socialização). Mas os educadores nem querem pensar nesta hipótese, com algumas exceções. Viajo pelo país discutindo esta necessária mudança, e percebo certo ressentimento e irritação dos educadores em relação às suas novas tarefas. Algo como: "já ganho pouco, não fui formado para isto, e ainda tenho esta responsabilidade?"
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