Triste fim de Ipatinga

Ipatinga, cidade símbolo do Vale do Aço, vive seus piores momentos políticos. Até o momento, desde o ano passado, vive com um prefeito interino. O vitorios, Chico Ferramenta, do PT, foi impugnado. O segundo colocado, o então prefeito Sebastião Quintão, também foi impugnado. O presidente da Câmara Municipal, do PPS, assumiu o governo em acordo com Chico Ferramenta. E aí começou um dos momentos mais tristes da traição política daquela região.
Ferramenta indicou nomes de sua confiança para o governo interino, sem ouvir o partido. Em seguida, com a decisão da justiça de marcar novas eleições para 18 de outubro deste ano, entrou com recurso. Finalmente, com recurso derrubado, apoiou a candidatura do PV, deixando o PT absolutamente na mão.
Ferramenta é apoiador de Fernando Pimentel, com quem organizou uma chapa para dirigir o PT estadual na próxima PED.
Na semana passada, um antigo companheiro de organização sindical escreveu uma carta aberta ao Chico Ferramenta. Relata o fim de uma trajetória política. Reproduzo abaixo:

"Carta Aberta ao ex-companheiro Chico Ferramenta
Ipatinga, 1º de Outubro de 2009

Caro amigo
Em primeiro lugar, vamos relembrar o seu passado glorioso, quando você era apenas o Francisco Delfino, peão da USIMINAS, que teve, junto com vários companheiros, a coragem de peitá-la. Para muitos de nós, naquele momento, você representava o Dom Quixote de La Mancha, que enfrentava o Grande Moinho de Vento, o Monstro, que massacrava (não sei se devo empregar o verbo no passado) os seus trabalhadores e a comunidade. Mas você não estava sozinho, muitos de nós fomos o seu fiel escudeiro, o Sancho Pança; muitos de nós fomos o seu valoroso cavalo, o Rocinante, carregamos você no lombo; muitos de nós fomos o jumento que carregava o seu fiel escudeiro; e muitas das nossas companheiras foram a sua doce Princesa Dulcinéia, cheias de paixão por um cavaleiro tão corajoso. Mas, por tudo isso, muitos de nós fomos perseguidos, censurados, calados, humilhados, mandados embora do emprego etc. pelo Grande Monstro e por aqueles que, talvez por medo ou por falta de sonhos, não ficaram do nosso lado. Até eu, que era e continuo sendo apenas um medíocre (não no sentido etimológico da palavra, mas no sentido popular do meu lugar, uma pequena porção da Zona da Mata mineira, entre Manhuaçu e Carangola, onde medíocre significa coisas ou pessoas que não têm valor algum) professor de Geografia, História e, naqueles tempos, de Educação Moral e Cívica e OSPB, fui perseguido por algumas Diretoras e até por colegas professores que ainda estavam infectados pelo perigoso e contagioso vírus surdo, mudo e cego da Ditadura Militar. Infelizmente não vencemos o Grande Monstro, que tem, como um gigantesco polvo, muitos tentáculos. Mas você, com a sua injusta demissão, virou o Chico Ferramenta. Com isso, você se tornou uma lenda viva, respeitada, admirada e amada por muitos. Em segundo lugar, espero que você saiba que toda Estrela nasce para brilhar, mas infelizmente todas elas morrem. Segundo a Astrofísica, as estrelas de primeira grandeza, aquelas em nível nacional e até mundial, como o meu companheiro Lula, quando morrerem irão virar um Buraco Negro, que engolem tudo, inclusive a luz. Já as pequenas estrelas, as de quinta grandeza, que é o seu caso, uma estrela mixuruca do interior de Minas Gerais, quando morrem viram uma Anã Branca. Em terceiro lugar, acredito que a marca, apesar de não registrada por nós, Ferramenta pertence a toda comunidade petista, não só de Ipatinga, mas à toda Região Metropolitana do Vale do Aço, e não apenas à sua família.
Francisco Delfino, com essa traição ao nosso passado de lutas e de sonhos, você me faz acreditar cada vez mais no Grande Poeta Manuel Bandeira, que escreveu esses lindos versos:
“A vida
Não vale a pena e a dor de ser vivida
Os corpos se entendem mas as almas não
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino”.

Deste seu ex-companheiro um afetuoso abraço. PT. Saudações
Gildázio Garcia Vitor"