segunda-feira, 1 de junho de 2009

Os falsários


Fui assistir Os Falsários. Era para ser um forte contraponto ao filme que havia assistido no sábado (o brasileiro A Mulher Invisível, com o brilhante Selton Mello). Um drama pesado, quase épico. Mas não foi. Trata de uma passagem da vida do falsificador Salomon Sorowitsch, judeu, preso num campo de concentração, que é forçado a gerenciar a maior falsificação de libras e, depois, dólares, do mundo. A intenção formal é inundar o mercado de dinheiro falso e desequilibrar a economia dos países inimigos (Inglaterra e EUA). A informal é gerar alguns trocados para chefes nazistas. Esta co-produção germano-austríaca, contudo, tem algo de estranho porque toda a história deveria gerar angústia. Mas não gera. O diretor e roteirista Stefan Ruzowitzky narra a história, adaptada do livro de Adolf Burger. Novamente, a intenção explicita é explorar os conflitos morais, mas acaba focando o pragmatismo (do comandante alemão e do falsário Salomon). O pragmatismo como centro evita cair no dramalhão batido dos filmes sobre a grande guerra, mas cria um clima quase prosaico, se afastando em muito de uma situação épica que parecia ser a moldura do filme desde o início. Forma e conteúdo parecem se cruzar nas telas. Li várias críticas do filme e uma que chamou a atenção destacava a "câmera nervosa sem motivo, com zooms típicos de filmagem de campo de batalha" (site cinematório). O "sem motivo" da crítica faz coro ao que senti. Normalmente, teria motivo, já que se trata de um filme de guerra. Mas esta forma não bate com a emoção gélida que o filme cria.
Alfredo Bosi nos ensina que uma obra de arte possui três discursos que se entrelaçam: o conteúdo racional, a forma e a emoção. Embora entrelaçados, cada discurso possui identidade própria.
Os Falsários cria uma estanheza neste sentido porque cada um desses três elementos (ou discursos) parece apontar para uma direção muitas vezes muito diferente. O tema é tipicamente moderno, mas a estética e o foco no pragmatismo de homens ambiciosos, sem ideologia, se aproxima do pós-modernismo (que, aliás, não produz uma leitura ética da vida). Bem estranho.

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