domingo, 2 de novembro de 2008

A política tupiniquim


Relato de João Capiberibe (ex-governador e ex-senador do Amapá e vice-presidente nacional do PSB, na foto), sobre as eleições de 1982 e 2008:
"Em 1982, dois anos após nossa volta do exílio, vivendo em Macapá, apresentei-me como candidato à Câmara Federal pelo PMDB. Pela primeira vez na vida, ao mesmo tempo, experimentava a sensação de votar e ser votado. Era algo indescritível, pura emoção, poder sair às ruas, reunir, conversar com as pessoas (...). Em uma manhã ensolarada de outubro, já na semana da eleição, parei na 1° de Maio, no local, onde mais tarde, seria edificada uma feira municipal. Ali havia meia dúzia de bancas que vendiam de tudo um pouco. Parei para comprar camarão. Fiz o meu pedido, enquanto o feirante pesava, tratei de puxar conversa sobre as eleições. (...) Decidi então inquiri-lo. O que é que você acha do Capiberibe? Com um punhado de camarão na mão a meio caminho da balança o homem paralisou, em tom de confidência, me segredou:

- Ih rapaz! Fale baixo! Esse cara é perigoso. O pastor da minha igreja disse que ele é comunista, que é terrorista que se for eleito vai tomar nossos filhos e levar para um lugar, se não me engano, chamado Rússia, onde nunca mais vamos poder vê-los.

Foram-se os anos. Vivemos no tempo presente, em 2008, vinte e seis anos depois, precisamente a três dias do segundo turno da acirrada disputa pela prefeitura de Macapá. Toca o telefone, eu atendo, do outro lado da linha, uma prima minha.

- Oi Capi! Estou muito preocupada com o que estão falando do Camilo. É muito sério, acho que você precisa fazer alguma coisa. Claro que não é todo mundo, porém alguns desinformados terminam acreditando nas histórias que estão espalhando nas igrejas.
Que histórias são essas, perguntei-lhe.

- Espera um pouco, fala aqui com minha amiga que ela vai te contar. É seu Capi - retomou a amiga de minha prima - eu estou muito triste com que estão falando do Camilo. Na verdade é o próprio pastor da minha igreja que está falando essas coisas, já disse a ele que isso não é verdade mas ele não me ouve. Eles estão dizendo que os irmãos não devem votar no Camilo, porque ele é macumbeiro e pertence a uma seita que sacrifica criancinhas em seus rituais.

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