sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Artigo de Caio Blinder sobre Obama


Obama não anunciou sua equipe econômica, mas para compensar, Caio Blinder escreveu o artigo abaixo:
CAIO BLINDER
NOVA YORK- Eu não fiz reportagem na minha rua sem saída em um subúrbio de Nova York para saber como meus vizinhos votaram nas eleições de terça-feira passada. Mas esta na cara que a minha rua, a Hillview Terrace, em Glen Rock, é um retrato desta América que abraçou Barack Obama. Lá está a família Blinder, um melting pot brasileiro, filipino, judaico, católico e eurasiano. Em casa temos também uma afroamericana, a Luna, nossa cachorrinha cockapoo, mistura de cocker spaniel com poodle, que no ardor da campanha eleitoral passou a ser chamada de Obamita. Na vizinhança, temos ainda católicos poloneses, judeus ingleses, uma família que também mistura americanos e filipinos, outra bem americana dos velhos tempos que veio recentemente do estado da Virgínia e cubanos anticastristas. Este é o país Obama: urbanizado, suburbanizado, diversificado, com alguns mais crentes do que os outros e todos vivendo dias de ansiedade econômica. Poucas coisas irritavam mais na campanha eleitoral do que escutar a sinistra Sarah Palin, a candidata a vice dos republicanos, dizer que falava em nome da "América verdadeira", dos valores das pequenas cidades e áreas rurais, ou seja, um país mais homogêneo, branco, suspeito de estrangeiros, imigrantes e de uma atmosfera cosmopolita. Achei ótimo que no seu principal artigo no day after da eleição, o "New York Times" tenha escrito o nome inteiro do quadragésimo-quarto presidente dos EUA: Barack Hussein Obama. Nada a esconder, nenhum motivo de vergonha. Desta vez não funcionou a velha tática republicana de fazer a campanha dos três Gs, God, gays e guns, ou seja, em nome de Deus, contra os gays e a favor do porte de armas. Em 2008, da era Obama, contou muito mais o G de grana, de um país de aflições econômicas e mais distanciado das guerras culturais que dão vantagem para os republicanos. E basta da papagaiada sobre quem é mais patriótico. Havia uma nostalgia rancorosa na campanha republicana por uma velha América. Existe uma recusa conservadora para aceitar um novo mapa demográfico, étnico, racial e cultural. A vitória de Obama mostra a cara desta nova e "real" América. É uma feição menos homogênea e menos branca, embora brancos ainda sejam a maioria (o que mudará em meados do século). Outro ponto importante: o primado da identidade racial começa a ser substituído pela celebração do pluralismo e de uma sinergia multirracial. É a turma de minha filha eurasiana, a Ana, de 15 anos, com amigos da Coréia do Sul, Egito, Caribe ou meramente de Nova York/ Nova Jersey. Negros têm todos os motivos do mundo e da história para estarem em um estado de êxtase, com a vitória de Obama. Escravidão e segregação racial são manchas americanas, mas a eleição também representa um pouco mais da concretização do sonho de Martin Luther King de que pessoas sejam julgadas pelo contéudo do seu caráter e não pela cor de sua pele. Eu não sou cidadão americano. Mas vivo neste país, desta vez há quase 20 anos. Minha casa é aqui, na rua sem saída em Glen Rock. Há momentos em que me sinto envergonhado desta terra. Esta semana estou muito orgulhoso pelo exemplo de vitalidade e reinvenção.

Um comentário:

STBAR disse...

Quanta bobagem...