Depois de Yves Gandra sugerir que a sentença, sem provas, contra Zé Dirceu pelo STF seria temerária, agora foi a vez de Cláudio Lembo. Dois juristas, dois paulistas, dois conservadores no estilo quatrocentão paulistano. Talvez seja uma escola de pensamento.
Os mini-carrascos que se encontram nas redes sociais não gostam, obviamente. Mas a democracia se fortalece. Vejam o artigo de Lembo, abaixo:
O mensalão e a democracia
Os valores culturais formam as nacionalidades. Indicam seus modos de encarar o mundo e reconhecer seus iguais. Em cada sociedade eles se apresentam de maneira singular.
Algumas nacionalidades tendem ao espírito guerreiro. Outras às artes. Muitas atuam em duelos tribais. Umas poucas se dedicam à contemplação do universo. Os brasileiros recolhem muitos destes atributos e acrescentam um traço característico. Todo brasileiro é técnico de futebol. É o que se dizia até passado recente.
Agora, o Brasil profundo, aquele que foi forjado pelo bacharelismo, veio à tona. Com o julgamento do mensalão, todos se voltaram a ser rábulas, práticos da advocacia. A audiência da televisão pública, destinada aos assuntos da Justiça, superou a de todos os demais canais. As sessões do Supremo Tribunal Federal foram assistidas, em silêncio, por multidões. São os adeptos do novo espetáculo. O conflito de posições entre personalidades relevantes do cenário público: os ministros da mais alta Corte do Judiciário.
Há, neste fenômeno, aspectos a serem considerados e merecem reflexão. Certamente, o acontecimento demonstra que a cidadania deseja saber como atua seu Judiciário. Moroso e repleto de jogos de palavras. Outro aspecto se concentra no próprio objeto da causa e em seus personagens, os réus da ação. Quantos temas novos surgiram e como os réus foram expostos sem qualquer reserva. Alteraram-se visões jurisprudenciais remansosas e de longa maturação. Não houve preservação da imagem de nenhum denunciado. Como nos antigos juízos medievais, foram expostos à execração pública.
O silêncio a respeito foi unânime. O princípio da publicidade foi levado ao extremo. Esta transparência permitiu, inclusive, a captação de conflitos verbais entre magistrados.
A democracia se aperfeiçoa mediante o seu exercício continuo. O julgamento do mensalão foi o mais exposto da História política nacional. Foi bom e ao mesmo tempo preocupante. Aprendeu-se a importância do bem viver e os danos pessoais – além das penas privativas da liberdade – à imagem dos integrantes do rol de réus. A lição foi amarga.
Toda a cidadania se manifestou a respeito do julgamento. Os meios de comunicação nem sempre foram imparciais no acompanhamento do importante episódio. Alguns veículos aproveitaram a oportunidade para expor as suas idiossincrasias com agressividade. Aqui, mais uma lição deste julgamento. Seria oportuno um maior equilíbrio na informação. Isto faria bem à democracia e aos autores do noticiário. Equilíbrio e imparcialidade são essenciais para o desenvolvimento de uma boa prática política.
Um ponto ainda a ser considerado. O comportamento dos próprios ministros. Alguns se mostraram agressivamente contrários a determinadas figuras em julgamento. A televisão capta o pensamento íntimo das pessoas. Houve também ministros que bravamente aplicaram a lei de forma impessoal. Foram chamados de legalistas. Bom que assim seja. As concepções contemporâneas do Direito, por vezes, fragilizam a segurança jurídica. Portou-se com destemor o Ministro Enrique Ricardo Lewandowski. Soube suportar posições de confronto com altivez e respeito ao Direito. Terminada sua missão de revisor, surgem as primeiras manifestações favoráveis à sua atuação.
São muitas, pois, a lições recolhidas do julgamento do mensalão, em sua primeira etapa. Os brasileiros, rábulas por ativismo, aguardam ansiosos os novos capítulos.
Não haverá a mesma emoção no futuro. A democracia é exercício. Aprendeu-se muito com as sessões do Supremo Tribunal Federal nestes últimos seis meses, inclusive controlar as animosidades.
Um comentário:
Outro dia li que esses senhores não haviam se manifestado devido a possibilidade de não terem espaço na "grande mídia". Sei não, e os jornalistas Paulo Moreira Leite e Jânio de Freitas que estão falando desses erros a muito tempo? Apesar de respeitar o Cláudio Lembo, esses senhores estão sendo, isso sim, oportunistas. Por exemplo, essa história da teoria do domínio do fato, já pensou se isso for usado, caso saia mesmo e com o mesmo estardalhaço, no julgamento do chamado mensalão dos tucanos, denominado oportunamente, de mensalão mineiro? Usaram os ministros, como sempre o fazem os donos do poder, e agora os descartam sem a menor desfaçatez. Professor Rudá, me desculpe mas o professor - inclusive conversou comigo sobre a perseguição que teve pelo grupo do Dirceu - não foi dos que falaram por ai, ou por aqui, sobre os erros crassos do julgamento. Mas, cada um com as suas idiossincrasias. Continuo respeitando o seu ponto de vista, apesar do cabotinismo!... hehehe
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