quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Mais uma sobre as ruas (do Antonio Prata)

Já citei o Prata dias atrás. Crônicas modernas e inspiradoras.
Esta que vou reproduzir, parece até escrita ao feitio do debate sobre as manifestações de junho. Mas foi publicada em março de 2009:

Quando a realidade fica muito Saint-Exupéry, é importante que surjam uns Sex Pistols para equilibrar. Agora, cuspir no chão de uma escola municipal em São Paulo, diante da professora assustada que não consegue fazer com que os alunos, analfabetos aos dez anos, fiquem quietos, não tem nenhuma valentia. Quando a realidade da polis é o caos, o som e a fúria são a correção política.

Bom, para esta nota ficar um pouco mais internacional, reproduzo a poesia que acompanha este desenho que ilustra o post:


Poema da noite plácida...

A multidão em fúria
passeia plàcidamente nas ruas da cidade,
plácida mente,
enquanto os homens que orientam plàcidamente
a multidão em fúria
que plàcidamente passeia nas ruas da cidade,
procuram furiosamente
as soluções plácidas
que orientarão a multidão em fúria
que, plàcidamente, passeia nas ruas da cidade,
de mente plácida,
plácida mente,
e os sábios buscam furiosamente
as fórmulas plácidas
que, plàcidamente,
resolverão as dificuldades da multidão em fúria
que passeia nas ruas da cidade
de mente plácida,
plácida mente,
e todos, em suma,
plàcidamente,
procuram furiosamente,
de todas as formas plácidas,
atender às inquietações e aos anseios plácidos
da multidão em fúria
que, plàcidamente, passeia nas ruas da cidade,
e plàcidamente se assenta nos plácidos bancos das avenidas,
bebendo o ar plácido da noite,
e esperando, plàcidamente,
as soluções plácidas
para os seus anseios e inquietações furiosas.
___
António Gedeão, Linhas de Força, 1967, Edição do autor [comprado em Coimbra, em Setembro de 1969].

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