quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O bumerangue das ruas, segundo Gaudêncio Torquato

No seu último Porandubas, Gaudêncio faz uma rápida incursão sobre as manifestações de junho. Reproduzo, abaixo, as duas notas a que me refiro.
Sugere que os grupos radicais (como black bloc) teriam intimidado a participação massiva e a continuidade das manifestações. Não acredito. Para quem esteve acompanhando cada passo daqueles dias de junho, ficou nítido que havia um deadline muito nítido desde sempre: o fim da Copa das Confederações. Existia um elemento midiático em tudo, um apelo, certo senso de oportunidade. E, também, houve o esgotamento natural de tanta adrenalina em tão poucos dias. Finalmente, a ausência de comando que, se de um lado é uma novidade positiva que atrai os desorganizados e não iniciados na política, de outro, cria uma zona de instabilidade permanente.
Mas Gaudêncio tem experiência e uma acuidade invejável. Daí não fechar as portas para o imponderável em 2014. Vamos às duas notas:

Folhas soltas ao vento
A imagem é esta : depois do terremoto, que abalou o edifício, destruindo paredes, despedaçando os andares, fazendo jorrar cimento e pedra por todos os lados, a paisagem deixa ver milhares de folhas saindo de gavetas escancaradas, dançando ao vento poluído de poeira e pousando lentamente sobre os entulhos das ruas. É o cenário nacional depois do tsunami de junho, que inundou as ruas das grandes e médias cidades com milhares de pessoas. Onde estão as massas ? Observando uns poucos que ainda ousam fazer ecoar seu grito. E por que não se motivam a voltar às ruas se os pleitos e demandas de junho continuam no ar ? Porque temem ser rechaçados por grupos radicais, cujos braços se voltam para a quebra de lojas e destruição de ambientes públicos. Os black blocs são a água que apaga as chamas da fogueira social. Portanto, propiciam o bumerangue. O Brasil se encolhe em silêncios. Infelizmente.
Paisagens do amanhã

Não é de todo improvável que as coisas voltem a acontecer na onda de manifestações calorosas e massivas. É possível que o animus animandi da população resgate a participação cívica, cuja inspiração maior era (e é) a de melhorar os padrões éticos, morais e elevados da política e exigir melhoria da qualidade dos serviços públicos, a partir dos sistemas de mobilidade urbana. Nas proximidades eleitorais, as chances de mobilizações pontuais ou mesmo abrangentes são maiores, em função da motivação para puxões de orelha e recados que o povo quer dar aos seus representantes. A conferir.

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