sábado, 26 de janeiro de 2013

O que o filme “Lincoln”, de Spielberg, não diz sobre Lincoln

Recebo um interessante artigo de Vincenç Navarro, sociólogo que foi professor da Universidade de Barcelona e que lutou contra o franquismo. O artigo leva o título de "O berço vermelho do Partido Republicano" e complementa o filme de Sipelberg (embora o artigo tente se contrapor ao filme). Complementa porque explica os sinais trocados que o filme revela entre democratas e republicanos e as divergências internas entre republicanos. Vale a pena.Para quem desejar ler o artigo completo, acesse AQUI

As ignoradas e/ou escondidas simpatias de Lincoln

Já quando era membro da Câmara Legislativa de seu estado de Illinois, Lincoln simpatizou claramente com as demandas socialistas do movimento operário, não só dos EUA, mas também mundial.
Na realidade, Lincoln considerava como um Direito Humano o direito do mundo do trabalho de controlar o produto de seu trabalho, postura claramente revolucionária naquela época (e que continua sendo hoje) e que nem o filme nem a cultura dominante nos EUA lembram ou conhecem, sendo convenientemente esquecida pelos aparatos ideológicos do establishment estadunidense controlados pela Corporate Class. Na realidade, Lincoln considerou que a escravidão era o domínio máximo do capital sobre o mundo do trabalho e sua oposição às estruturas de poder dos estados sulinos se devia precisamente a que percebia estas estruturas como sustentadoras de um regime econômico baseado na exploração absoluta do mundo do trabalho. Daí que visse a abolição da escravidão como a liberação não só da população negra, mas de todo o mundo do trabalho, beneficiando também a classe trabalhadora branca, cujo racismo ele via ser contra seus próprios interesses.
Lincoln também indicou que “o mundo do trabalho antecede o capital. O capital é o fruto do trabalho, e não teria existido sem o mundo do trabalho, que o criou. O mundo do trabalho é superior ao mundo do capital e merece a maior consideração (…). Na situação atual o capital tem todo o poder e há que reverter este desequilíbrio”.
(...) Será surpresa para um grande número de leitores saber que os escritos de Karl Marx influenciaram Abraham Lincoln, tal como documenta detalhadamente John Nichols em seu excelente artículo “Reading Karl Marx with Abraham Lincoln: Utopian socialists, Germam communists and other republicans” publicado em Political Affairs (27/11/12), e do qual extraio as citações, assim como a maioria dos dados publicados neste artigo. (...) Karl Marx escrevia regularmente no The New York Tribune, o rotativo intelectual mais influente nos Estados Unidos daquele período. Seu diretor, Horace Greeley, se considerava um socialista e um grande admirador de Karl Marx, a quem convidou para ser colunista do jornal. Nas colunas de seu jornal, Horace incluiu grande número de ativistas alemães que haviam fugido das perseguições ocorridas na Alemanha daquele tempo, uma Alemanha altamente agitada, com um nascente movimento operário que questionava a ordem econômica existente. (...) Greeley e Lincoln eram amigos. Na realidade, Greeley e seu jornal apoiaram desde o princípio a carreira política de Lincoln, sendo Greeley quem lhe aconselhou a que disputasse a presidência do país. E toda a evidência aponta que Lincoln era um fervoroso leitor do The New York Tribune. Em sua campanha eleitoral para a presidência dos EUA Lincoln convidou vários “republicanos vermelhos” a integrarem-se à sua equipe.
Na realidade, já antes, como congressista, representante de Springfield, no estado de Illinois, Lincoln frequentemente apoiou os movimentos revolucionários que estavam acontecendo na Europa, e muito em especial na Hungria, assinando documentos em apoio a tais movimentos. (...) Foi nomeado membro honorário de vários sindicatos. Em sua resposta aos sindicatos de Nova York afirmou “vocês entenderam melhor que ninguém que a luta para terminar com a escravidão é a luta para libertar o mundo do trabalho, para libertar todos os trabalhadores. A libertação dos escravos no Sul é parte da mesma luta pela libertação dos trabalhadores no Norte”.

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