As ignoradas e/ou escondidas simpatias de Lincoln
Já quando era membro da Câmara Legislativa de seu estado de
Illinois, Lincoln simpatizou claramente com as demandas socialistas do
movimento operário, não só dos EUA, mas também mundial.
Na realidade, Lincoln considerava como um Direito Humano o
direito do mundo do trabalho de controlar o produto de seu trabalho, postura
claramente revolucionária naquela época (e que continua sendo hoje) e que nem o
filme nem a cultura dominante nos EUA lembram ou conhecem, sendo convenientemente
esquecida pelos aparatos ideológicos do establishment estadunidense controlados
pela Corporate Class. Na realidade, Lincoln considerou que a escravidão era o
domínio máximo do capital sobre o mundo do trabalho e sua oposição às
estruturas de poder dos estados sulinos se devia precisamente a que percebia
estas estruturas como sustentadoras de um regime econômico baseado na
exploração absoluta do mundo do trabalho. Daí que visse a abolição da
escravidão como a liberação não só da população negra, mas de todo o mundo do
trabalho, beneficiando também a classe trabalhadora branca, cujo racismo ele
via ser contra seus próprios interesses.
Lincoln também indicou que “o mundo do trabalho antecede o
capital. O capital é o fruto do trabalho, e não teria existido sem o mundo do
trabalho, que o criou. O mundo do trabalho é superior ao mundo do capital e
merece a maior consideração (…). Na situação atual o capital tem todo o poder e
há que reverter este desequilíbrio”.
(...) Será surpresa para um grande número de leitores saber
que os escritos de Karl Marx influenciaram Abraham Lincoln, tal como documenta
detalhadamente John Nichols em seu excelente artículo “Reading Karl Marx with
Abraham Lincoln: Utopian socialists, Germam communists and other republicans”
publicado em Political Affairs (27/11/12), e do qual extraio as citações, assim
como a maioria dos dados publicados neste artigo. (...) Karl Marx escrevia
regularmente no The New York Tribune, o rotativo intelectual mais influente nos
Estados Unidos daquele período. Seu diretor, Horace Greeley, se considerava um
socialista e um grande admirador de Karl Marx, a quem convidou para ser
colunista do jornal. Nas colunas de seu jornal, Horace incluiu grande número de
ativistas alemães que haviam fugido das perseguições ocorridas na Alemanha
daquele tempo, uma Alemanha altamente agitada, com um nascente movimento
operário que questionava a ordem econômica existente. (...) Greeley e Lincoln
eram amigos. Na realidade, Greeley e seu jornal apoiaram desde o princípio a
carreira política de Lincoln, sendo Greeley quem lhe aconselhou a que
disputasse a presidência do país. E toda a evidência aponta que Lincoln era um
fervoroso leitor do The New York Tribune. Em sua campanha eleitoral para a
presidência dos EUA Lincoln convidou vários “republicanos vermelhos” a
integrarem-se à sua equipe.
Na realidade, já antes, como congressista, representante de
Springfield, no estado de Illinois, Lincoln frequentemente apoiou os movimentos
revolucionários que estavam acontecendo na Europa, e muito em especial na
Hungria, assinando documentos em apoio a tais movimentos. (...) Foi nomeado
membro honorário de vários sindicatos. Em sua resposta aos sindicatos de Nova
York afirmou “vocês entenderam melhor que ninguém que a luta para terminar com
a escravidão é a luta para libertar o mundo do trabalho, para libertar todos os
trabalhadores. A libertação dos escravos no Sul é parte da mesma luta pela
libertação dos trabalhadores no Norte”.
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