quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Eleições corruptas e infantis

Ainda vivo o impacto das eleições municipais do ano passado. Há limites para tudo na vida. Nem sempre é preciso seguir as orientações budistas e chegar ao caminho do meio, mas o limite é sinal de maturidade, de autocontrole. Contudo, a política brasileira se infantilizou. Não há autocontrole algum. Uma criança em loja de brinquedos vai para casa chorando porque não conseguiu o último modelo que descobriu que existia naquele momento. Candidato municipal nem chora. Quer tudo e faz o impensável para conseguir.
Confesso que fiquei enojado. A falta de informação e o descaso com a política faz do brasileiro comum um incauto. Não imagina a degradação a que se chegou.
Começa com o fim do império da lei como orientador do processo civilizatório. A lei impedia uniformização de cabos eleitorais. As campanhas mais ricas disputaram modelitos coloridos, com direito a boné, calça combinando com camiseta multicolorida e bandeirolas. Não é preciso dizer que a lei impedia compra de votos. Aí está o efeito mais devastador desta política emporcalhada. Justamente nas regiões com maior pobreza e exclusão de traços de humanidade é que o político sem caráter atua de forma mais faceira, como diriam os gaúchos. Compra-se com festas, churrascos, com celulares (o objeto de desejo dos consumdores emergentes) e em espécie. Igrejas são disputadas. Deputados federais e lobistas alimentam as arcas de ouro que compram tudo e todos. A tesouraria centralizada já indica como funcionará a política local depois das eleições: candidato que sai da linha ou aparece muito, tem a verba de combustível cortada. É estrangulado diariamente, até ceder. Pior: existe hoje um submundo da eleição (se é que existe um mundo acima) que envolve toda espécie que não tem conhecimento do que é caráter. A começar pelo que se denomina pomposamente de "contra informação". Toda espécie de sabotagem que faz lembrar filmes policiais que revelam que a diferença entre bandidos e mocinhos é coisa do passado. Fazem de tudo. A começar pelas sabotagens mais infantis, como roubar material de campanha durante a madrugada e jogar tudo num galpão. Ou ainda criar uma legião de fakes na internet para atacar a honra, intimidar, destruir qualquer traço de convivência entre diferentes. São meliantes da comunicação que gostam de jogar pesado, como gigolôs que mantém um olhar superior por administrar um harém ilegal.
Os sinais de riqueza ilícita são evidentes. Carros novos importados chegam aos borbotões nas cidadezinhas e todos sabem seu destino. Viagens para Europa, festas nababescas, orgias. Tudo é comentado no facebook. Nada os inibe.
Não sei onde chegaremos, já que o limite é apenas uma palavra para esta degradação generalizada. De minha parte, estou enojado até agora. Superou qualquer nível de tolerância que eu artificialmente tentava impor. Virei um ET. Não reconheço esta lógica e temo cair na vala comum dos brasileiros normais. Eles preferem ignorar, acreditar que se trata de um mundo ao lado, que tem relação com a vida comum, mas que é melhor sublimar. Afinal, até Freud admitiu que sublimar é saudável (mesmo contestando esta tese no início de seus estudos). O problema é que, assim, deixamos livre o que há de pior na nossa espécie.

2 comentários:

MARCOS BICALHO disse...

O quê que mudou? A Internet? Apenas mais uma ferramenta. O resto, o eleitor ignorante, o político corrupto e os especialistas ( da elite ) acima do bem e do mal sempre existiram. A literatura é farta para consulta. Sempre foi assim.

Rudá Ricci disse...

Não, Marcos, infelizmente não era exatamente assim. Primeiro, isto ocorria nos grotões, agora é absolutamente generalizado. Segundo, não sei que literatura você se refere, mas o conceito de coronelismo (o original é de Victor Nunes Leal), dizia respeito ao período de decadência do poder dos senhores da terra. Agora, a situação é outra: o neocoronelismo faz parte da estrutura de gestão pública e não tem na economia local seu ponto de referência, mas nos convênios do poder local com o governo central. Não se trata de revisão dos aspectos finais desta estrutura de poder, mas de entender a própria estrutura e lógica deste novo Estado montado pelo lulismo.