Ontem foi o casamento de meu filho, Thiago. É algo previsível para os pais, mas quando ocorre, mesmo com todos os planos construídos meses antes, somos pegos de surpresa. A surpresa não é a roupa, o penteado, a ordem de entrada, nem a cerimônia. O formal é o mais esperado. Tudo começa a ganhar aquele viço do inesperado quando meu filho vê sua noiva entrando e abaixa o rosto, tentando conter a emoção. Acho que ver um filho chorar, de felicidade ou tristeza, mexe com o fundo da alma de qualquer pai. O que os filhos possivelmente não compreendem é que pai procura sentir, por antecipação, o que os filhos vivem. Obviamente que não conseguimos, porque estamos querendo controlar as situações, mas acabamos exercitando mecanicamente este movimento de encarnação e controle. Não é preciso dizer que é uma luta interna, com resultado esperado.
Quando meu filho já não continha mais as lágrimas, eu desabei.
Esta história de "perder um filho quando casa" nem frase feita é. Pai nunca perde filho.
O que ocorre é um misto de imagens. Um ciclo novo. Novas expectativas. Justaposição do filhão casado e do filhinho que eu levava para a creche, a cabeça toda molhada de suor, dormindo enquanto eu subia o morro da Aclimação. Thiago tinha o cabelo quase branco e o que mais lembro desta fase era o sorriso aberto, acompanhado das convinhas que se formavam nas bochechas.
Os sentimentos que consigo verbalizar são os de gratidão e fé. Gratidão por ter podido viver toda esta história, desde que ele nasceu e batia com força na sonda que os médicos colocaram para limpar seus pulmões. Batia forte para declarar a personalidade do bichinho. A gratidão é sempre acompanhada da fé. Porque não tem sentido ser grato à vida se não tivermos fé nas pessoas que estão conosco. Esta é a dupla que gera a gratuidade. Viver e agir sem pensar em qualquer retorno.
Desabei quando Thiago nasceu e vi batendo na sonda, raivoso. Ali eu percebi que não tinha, efetivamente, qualquer controle sobre o que ele faria. Continuei tentando me antecipar. Acho que consegui raríssimas vezes. Ali no altar,o círculo se fechou: tentando me antecipar quixotescamente e meu filho continuava dando mostras que era em vão. E aí está a gratuidade de ser pai. E fortalece a gratidão.
Vai ser gauche na vida, filhão.
2 comentários:
Isso é ser pai, certo! E um pouco italianaço também. Parabéns p o casal e os pais.
As delícias de ser pai... A gratidão e a fé fortalecidas e os sonhos renovados. Adorei Rudá!
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