terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Memorial das Ligas Camponesas

O Brasil passa por uma mudança acelerada e brusca, se urbanizando e transformando o mundo rural em zona de transição, que alguns autores denominam de rururbano. A queda do poder de mobilização do MST (no ano passado tivemos o segundo menor número de ocupações da sua história), em função do bolsa família, faz com que a história de lutas camponesas (termo muito utilizado dos anos 1920 a 1960, quando o PCB era a força hegemônica no meio rural) caia no esquecimento. Basta ver os títulos do mercado editorial e estudos sobre o mundo do trabalho e se percebe rapidamente que este não é um tema em alta.
Por este motivo que o site recém criado que se dedica à memória das Ligas Camponesas tem que ser festejado.
As ligas adotaram este nome quando da criação das ligas democráticas, pelo PCB. Dirigentes rurais ou lideranças comunistas que atuavam no meio rural avaliaram que a palavra democracia era muito pomposa e de baixo entendimento e daí surgiu o nome. Nos anos 1950 o nome foi retomado, agora sob a liderança do trabalhismo, em especial, do advogado Francisco Julião. Na segunda versão, forjou-se uma cultura sólida fundada na solidariedade campesina, comunitária por princípio, absorvendo o auxílio mútuo, a caixinha para comprar querosene (para a lamparina) e madeira para caixões. Depois, veio a luta pela legalização de posse e luta contra o latifúndio. Julião foi se aproximando, gradativamente, da linha castrista e desde sempre as Ligas Camponesas conflitaram com a linha etapista do PCB. Mais tarde, a Ação Popular emergiu como outra organização que conflitou com a linha do "partidão".
Ouvi muitos "causos" de lideranças antigas das Ligas. Uma delas, deliciosa, sobre os mutirões para reconstrução de casas ou plantações que haviam sido destruídas por capangas de grandes latifundiários. Algumas lideranças do passado me contaram que passavam, de madrugada, de casa em casa, convocando camponeses para engrossar o mutirão. Se algum se recusasse por medo, era tirado a força e recebia um sino no pescoço, daqueles que colocavam no gado para não se desgarrar. O camponês contrariado trabalhava com o sino no pescoço e só podia retirar se acabasse se convertendo ou compreendendo a importância do mutirão. Quando perguntava se não se tratava de uma agressão, a resposta era sempre a mesma: se tratava de uma escola de formação de camponeses.
Para quem desejar visitar o site, acesse AQUI

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