Adam Nagourney publicou, hoje, no The New York Times que o discurso de Obama para esta segunda posse foi mais contundente do que se poderia imaginar. Reafirmou o compromisso com a luta contra a desigualdade e os programas sociais. Também reforçou a preocupação com a mudança climática (que deu o tom de liderança, de protagonismo em relação à agenda mundial) e mencionou diretamente o movimento social pelos direitos dos homossexuais. Toda posse tem seu simbolismo e esta também teve o seu toque com o poeta hispânico homossexual Richard Blanco recitando um poema sobre igualdade.
Em 2009 foram 1,8 milhão de pessoas à sua primeira posse. Desta vez, foram 800 mil.
Discurso e número de presentes na posse dizem tudo.
A campanha midiática de 2008 fugiu do controle da coordenação de campanha. Obama foi tomado por todas minorias. Latinos faziam músicas para sua campanha e postavam no youtube. Nada se vinculava à campanha oficial. Acabou que o personagem foi catapultado a algo maior que o legado dos Kennedy. E Obama nunca foi isto tudo. Seus colegas de faculdade sempre disseram que se tratava de um conciliador charmoso. Todo conciliador é comedido porque procura dar espaços para os extremos, transformando-os. Ora, de tão atento ao discurso dos outros, é comum que seu discurso se confunda com a mediação. Uma personalidade mediana, enfim.
Enfrentou a crise de 2008, parecia retomar o New Deal, mas fraquejou. Dois momentos o recolocaram no eixo democrata: a intervenção na economia, para salvar os dedos do sistema bancário, e o programa nacional de saúde. Paul Krugman lembrou, em artigo publicado hoje em todo mundo, que o vice-presidente Joe Biden havia dito que o Affordable Care Act (a lei de reforma da saúde) tinha sido um "big deal" (um trocadilho, obviamente, embora signifique uma importante conquista).
No final do primeiro mandato, Obama recebeu um outro elemento de seu discurso democrata: a luta contra a indústria de armas, a partir do massacre (mais um na terra de Obama) na escola Sandy Hook, em Connecticut. Mais um simbolismo. Porque o que está em jogo naquele país não é exatamente a saúde ou o combate à venda de armas para civis. O que está em jogo é o papel do Estado. Como o mundo ficou mais conservador neste novo século, Obama enfrenta o ultraconservadorismo do Tea Party. A tese da "curvatura da vara" de Lênin, neste caso, leva a marca do moderado líder negro: não chega a radicalizar para o outro lado, mas faz algum esforço para trazer a cultura política para o centro. Ocorre que o ultraconservadorismo pautou por tanto tempo os EUA que até a moderação é acusada de esquerdismo.
Obama, de qualquer maneira, agora é mais ele mesmo que em 2009. Tem a chance de ser um liberal moderado que lidera um país ferido em seu orgulho por já não ser a economia pujante que o marcou desde os anos 1930. Orgulho ferido sempre é um péssimo conselheiro político. Por este motivo, mesmo sendo agora o verdadeiro Obama, tudo o que fizer será sempre acusado por grande parte dos EUA como radical, socialista, estatizante e anti-americano.
Mas não será nem sombra de Kennedy, nem Clinton, muito menos Martin Luther King Jr.
Será Obama. Pela primeira vez.
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