A matéria da folha, contudo, fala de um novo funk, denominado "ostentação". Mais u ma demonstração da nova cultura popular, originária da melhoria da renda e consumo das classes menos abastadas no país.
Vale a pena conferir:
Funk paulista vira fenômeno no YouTube
YURI DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No fim dos anos 1990, o funk carioca iniciou a travessia da rodovia Dutra, que liga o Rio a São Paulo, e aportou na capital paulista.
Mais de uma década depois, o ritmo não apenas se estabeleceu na periferia como renovou o gênero para além da conhecida temática ultrassexualizada.
Em São Paulo, o funk passou a escancarar os desejos de consumo em letras e batidas que dominam celulares e sons de carro. É o chamado "funk ostentação".
Também se tornou mais profissional, ajudando a tirar músicos como Josley Caio do anonimato e levá-lo para uma média de cinco shows por dia nos finais de semana.
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Da esq. para a dir., os Mcs Dede, Gui e Bio G3, representantes do funk em São Paulo |
Caio, ou MC Dede, é dono de um dos maiores hits do ano, "Rolê de Hayabusa" (que faz referência a uma moto japonesa que custa pelo menos R$ 60 mil) e um dos músicos mais conhecidos da nova geração do funk paulista.
"Ele não tem uma Hayabusa porque não quer. Tem duas casas, carro do ano...", conta o agente Robson Pastel.
O escritório de Pastel agencia 25 MCs e, somente em 2012, faturou cerca de R$ 12 milhões. O funk paulistano também transformou o YouTube na principal plataforma de divulgação, abrindo mão de gravadoras, selos e discos físicos.
O clipe oficial de "Rolê de Hayabusa", cheio de mulheres e louvando o poder de sedução de uma moto caríssima, passou de 2 milhões de visualizações no site. Somando outras versões, chega a 14 milhões. Quantos mais "views", mais shows.
Editoria de Arte/Folhapress |
O funk vai ao paraíso Os principais expoentes do "funk ostentação" e os seus maiores sucessos |
CINDERELA
Para juntar carros e motos importadas, mulheres, óculos espelhados e bebidas em clipes, os artistas chegam a pagar R$ 20 mil para produtoras especializadas em atender à demanda.
Entre os 25 MCs do escritório de Robson Pastel, estão MC Nego Blue (que fará shows em Nova York no começo deste ano), MC Kelvinho e o mascote MC Gui.
Este, com apenas 14 anos, já tem a agenda de janeiro lotada de shows."Eu agora tiro uns R$ 3 mil por apresentação", conta, balangando enormes medalhões dourados, presentes do pai.
A inspiração é óbvia: os clipes e a vida de rappers americanos esbanjadores como Kanye West.
"Não tinha contrato, não tinha camarim, não tinha atenção, não tinha nada. Esses MCs agora são tratados que nem o Belo (cantor romântico)", compara Pastel.
A ostentação pede adiantado: só se viaja com parte do dinheiro na conta, e, subir no palco, apenas com o resto do cachê embolsado.
"Está profissional demais", diz o Nego Blue, ex-sambista que adotou o funk.
Agora, como no mundo sertanejo, quem dá as cartas são os escritórios, espécie de "holdings". "Já não dá mais para trabalhar se você é independente", conclui.
O funk de São Paulo acompanha uma amenização crítica nas letras que emanam dos centros periféricos. Sai o tom de denúncia social, entram as novas aspirações de uma classe que não para de ascender financeiramente.
No Rio, berço do gênero, a temática paulista não colou.
"Eu costumo chamar isso de 'funk cinderela'. O MC aparece de carro zero e, quando apaga a luz da câmera, ele faz sinal pra pegar o ônibus", alfineta MC D'Eddy, medalhão do funk carioca.
Do lado de cá da Dutra, Pastel se defende: "A verdade é que o consumismo nos leva a ostentar. Os fãs se miram nesse estilo de vida".
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