segunda-feira, 2 de maio de 2011

Matéria da Folha de hoje sobre Bullying

Diretor de escola municipal não vê bullying
Apenas 2,7% dos dirigentes disseram que há casos em suas escolas; para sindicato, existe subnotificação
31,4% dos educadores afirmaram que houve ameaças em suas escolas; 23,6% citam a agressão verbal

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

Os dirigentes das escolas municipais de São Paulo têm dificuldades para identificar em suas unidades a presença do bullying (intimidação sistemática praticada por alunos contra colegas frágeis). A constatação é do sindicato da categoria, com base em conversas com filiados e levantamento recém-concluído com os servidores.
Na pesquisa, somente 2,7% dos dirigentes disseram que há bullying em suas escolas. Foram ouvidos cerca de 10% dos diretores, supervisores e coordenadores.
"Há claramente uma subnotificação de casos", afirmou o presidente do Sinesp (sindicato da categoria), João Alberto Rodrigues de Souza. "As pessoas não perceberam as diversas formas de intimidação. Não é só quando colocam um menino na lata de lixo. Teremos de ampliar a discussão com a rede."
De acordo com ele, boa parte dos colégios ainda vê intimidações entre os alunos como inerente à vida escolar.
O sociólogo Rudá Ricci, responsável pelo estudo, aponta a hora do intervalo como principal exemplo do despreparo das escolas. "É quando mais ocorre o bullying, mas a escola vê como momento de descanso da equipe, e os alunos ficam entregues à própria sorte."
Outra dificuldade, diz, é a condição de trabalho dos dirigentes; 31,4% afirmaram que houve ameaças e 23,6%, agressão verbal.
"Nesse quadro, o dirigente fica mais atento à sua defesa e pode deixar a situação dos alunos em segundo plano."
A preocupação com o bullying extrapola a rede municipal. Na terça-feira, haverá simpósio sobre o tema promovido pelo Sieeesp, sindicato das es colas privadas de SP, no colégio São Luís.
"Os estudos mostram que o bullying tem um caráter "democrático", afeta crianças no mundo todo, em escolas de rico, de pobre", afirma o psiquiatra infantil Gustavo Teixeira, que estuda o tema. "Isso acaba com o discurso de algumas escolas de que "aqui isso não existe'", disse.
VIOLÊNCIA
Diferentemente do sindicato dos gestores, a Secretaria Municipal de Educação afirma que é baixa a ocorrência de violência e agressões entre alunos da sua rede.
"O percentual de 2,7% de gestores que relatam casos de bullying em suas escolas é condizente com o levantamento feito pela secretaria", disse em nota a gestão Gilberto Kassab.
A pasta citou dados de pesquisa com pais ano passado, à época da aplicação do exame chamado Prova São Paulo. As famílias deram notas superiores a 7,6 (em 10) às equipes escolares.
"Não há indícios de que as escolas vivam clima de agressões e ameaças, o que não significa que não haja, eventualmente, esse tipo de ocorrência", disse. Segundo a pasta, o tema da violência é trabalhado por docentes de todas as disciplinas.
Colaborou FABIANA REWALD




Pais criam ONG para tentar combater o problema

ADRIANO WILKSON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois que o filho passou quatro anos sofrendo agressões físicas e verbais na escola, a gestora de recursos humanos Cristiane de Almeida criou, em 2009, uma ONG para combater o problema.
A "Educar Contra o Bullying" faz palestras para alunos, professores, pais e gestores para orientá-los a reconhecer o bullying.
O filho de Cristiane, hoje com 13 anos, estudava na escola municipal Rivadávia Marques Junior, na zona leste. Alguns colegas batiam nele e xingavam. Cristiane diz que pediu pro vidências à escola, mas não teve sucesso.
"Eles alegaram que meu filho estudava numa escola da periferia e que, numa escola de periferia, aquilo era normal, que era coisa de criança", diz ela, que precisou tirar o filho da Rivadávia.
Hoje ele faz tratamento psicológico contra o trauma. "Muitas vezes a criança não conta nem pros professores, nem pros pais, tem vergonha. Se conta, também acontece de não ligarem"
Outro pai de aluno da Rivadávia, Fábio Leite, reclama que o filho é agridem fisicamente e com palavras pelos colegas. Ele afirma que foi orientado a tirar o garoto de 12 anos da escola.
A Secretaria de Municipal de Educação disse que, após incidentes com a escola, um supervisor foi designado para acompanhar a Rivadávia "de forma mais próxima para garantir tratamento adequado aos alunos".

ANÁLISE

Gravidade das agressões ainda é pouco compreendida

LÚCIA CAVALCANTI DE
ALBUQUERQUE WILLIAMS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ainda sensibilizados com o massacre em Realengo, percebe-se uma dificuldade em aprofundar a discussão sobre o bullying, ora minimizando-o, ora exagerando fatos com sensacionalismo. Especialistas afirmaram que o bullying em si não explicaria o ato brutal no Rio. Sobre isso cabe perguntar: desde quando o comportamento humano pode ser explicado por um só fator? Todos os nossos atos (violentos ou não) resultam da associação de múltiplos fatores, tanto ambientais quanto biológicos.
As escolas geralmente encontram dificuldade para identificar o problema e acabam confundindo bullying com brincadeiras, ignorando a gravidade para todos.
Há, também, muita pressão na escola. Admitir níveis elevados de bullying poderia afugentar pais e alunos.
Reconhecer que o problema existe seria o primeiro passo para combatê-lo.
Cabe lembrar que o tipo mais frequente de bullying não envolve violência física e sim psicológica.
Há, ainda, pouca compreensão sobre a gravidade dessas violações de direito e o quanto sua prática repetitiva pode ser prejudicial à saúde, sendo inclusive fatal.
Espero que a situação seja revertida, promovendo um gigantesco esforço nacional para conhecer e enfrentar o problema de forma eficiente.

LÚCIA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE WILLIAMS é professora titular do departamento de psicologia da UFSCar

2 comentários:

MOISES disse...

Olá, Rudá Ricci
Sua matéria ficou excelente, concordo realmente os alunos sofrem na hora do intervalo, onde são empurrados, ridicularizados, humilhados enfim não compreendo com nosso Prefeito não consegue enxergar tanta violência nas escolas, talvez seja pelo fato de não estar tão presente nas escolas e ter uma equipe onde infelizmente alguns profissionais não estão capacitados para realizar suas gestões.
Att,
Cristiane Ferreira
Educar Contra o Bullying

Maria José Speglich disse...

Há Bullying e muito em todas as escolas, mas todo mundo gosta de por panos quentes.
Aliás como faz pouco tempoque se discute isso, ainda tem gente que não se tocou que Bullying existe inclusive na família.