quinta-feira, 20 de maio de 2010

Protagonismo da Diplomacia Brasileira


O acordo em Terrã está sendo discutido no Brasil pelas lentes partidárias e eleitorais. O que demonstra o quanto mergulhamos numa discussão rebaixada, desqualificada, sobre políticas públicas e papel do país na nova ordem mundial. O ingresso do país nesta seara deve-se à ocupação de espaço deixado pelos EUA. E, obviamente, a pressão dos EUA para desqualificar a ação da diplomacia brasileira (não governo Lula, mas Estado brasileiro) é mais que evidente. Obama, em baixa popularidade nos EUA, está sob fogo cruzado com o acordo Irã-Turquia. E a grande imprensa, ao invés de explicitar como se faz negociação diplomática, rebaixa ainda mais o nível da "informação", como se este jogo fosse algo feito na esquina, entre ingênuos e mentirosos. É óbvio que a China e Rússia apoiaram a negociação mediada pelo Brasil. E é óbvio que negociarão este trunfo, no Conselho de Segurança da ONU, com os EUA. É assim que se faz negociações de alto nível. Como é possível termos jornalistas tão lineares em nosso país? Alguém imagina que China estará alinhada como os EUA? Basta perceber que já exigiram a retirada de alguns itens - e levaram - da resolução elaborada pelos EUA a respeito do Irã. Mas muita água vai rolar, ainda. E é óbvio que se trata de um jogo de forças, muito sutil, e de contrapesos, onde o Brasil não pode receber tantos louros a ponto de se tornar um país mais significativo que os próprios membros permanentes do Conselho de Segurança.
Sinceramente: é tão difícil que somente quem estuda relações internacionais entende? Para que partidarizar algo que é jogo de Estado e diz respeito ao futuro do país?

Um comentário:

Rodrigo Machado disse...

é triste a imprensa brasileira. Este acordo do Brasil, Turquia e Irã é algo histórico. Bem, a participação na Turquia é a garantia da presença da OTAN no processo. O Irã não queria dar o braço a torcer para os EUA.
Mas, além disto, confirma a ascenção dos turcos. Recentemente li um analista que prevê a Turquia projetará seu poder sobre o mundo islâmico nos próximos anos, alcançando novamente a liderança dele.
No momento a rússia apoiará o acordo, mas ele aponta para sua menor influência regional. O que é perigoso, pois alberga uma grande e descontente população islâmica.
O Brasil, participando desta articulação, demonstra que possui uma política externa inteligente e nada ingênua. Ao contrário do que pensa a imprensa brasileira, que persiste com seus preconceitos paroquiais.
Por estas e por outras que mudei a minha opinião, e hoje vejo que a diferença entre Serra e Dilma não é irrelevante.