domingo, 1 de março de 2009
A Folha e o Equilibrista
Fiquei bastante intrigado com o destempero da Folha de SPaulo em relação ao editoral sobre a "ditabranda" e a resposta aos professores Fábio Konder Comparato e Maria Victória Benevides (ver nota abaixo).
Fiquei matutando sobre a hipótese da perda de leitores e da capacidade de formação de opinião sobre a classe média (em função da emergência da nova classe média brasileira, pouco leitora de jornais e muito desconfiada das opiniões dos formadores de opinião clássicos). Fui pesquisar o perfil do leitor da Folha. Faz sentido em função da Folha adotar uma forte linha editorial de tipo "mercadológica", ou seja, procurando estar afinada com o ideário de seu leitor-síntese. Comparei os dados de 2000 e 2007.
Em 2000, temos:
a) O leitor-síntese teria formação superior, seria casado, estaria empregado no setor formal da economia, teria renda individual na faixa que vai até 15 salários mínimos e familiar na que ultrapassa os 30 mínimos. Faria parte ou da classe A ou da B. Seria católico, possuiria TV por assinatura e utilizaria a Internet;
b) Este leitor envelheceu. Em 1988, representavam 28% dessa amostra os leitores que tinham mais de 50 anos. Em 2000, pelo menos quinquagenários perfaziam 41% do total dos leitores principais no Estado de São Paulo. O crescimento dessa fatia, em 12 anos, foi de 46%. Esse movimento deu-se sobretudo pela queda na participação dos mais jovens (até 29 anos). Eles eram 29% em 1988 e hoje são 14%, o que significa uma diminuição que ultrapassa 50%;
c) Na pesquisa de 97, havia praticamente um equilíbrio, no universo dos leitores do jornal de todo o país, entre os que eram a favor (45%) e os contrários à adoção da pena de morte (51%). Em 2000, a maioria que discordava desse tipo de punição é ampla: 61%, contra 36% que a defendem. Cresceu, no período, de 26% para 33% a proporção dos que apoiavam a descriminação do uso da maconha, embora a opinião francamente majoritária (de 63% dos leitores, contra 69% em 97) ainda fosse refratária a essa mudança. Mantiveram-se também alto, com oscilações desprezíveis de 97 para 2000, o patamar dos que apóiam a reforma agrária (85%) e a descriminação do aborto (59%).
Em 2007 tivemos:
a) 90% pertenciam às classes A e B; 92% assistem a telejornais; 69% lêem revistas e 57% buscam notícias na Internet.
b) Sobre questões consideradas polêmicas, os leitores se posicionam a favor do casamento gay, da legalização do aborto, da reforma agrária e contra a pena de morte. São, por outro lado, contrários à descriminalização da maconha e a favor da redução da maioridade penal;
c) A profissão com a maior participação individual entre os leitores do jornal é a de professor: 12% lecionam. Na seqüência, vêm advogados (7%) e engenheiros (4%);
d) A comparação com o levantamento realizado em 1997 mostra um declínio na proporção de católicos: embora continuem sendo a maioria do leitorado, houve uma diminuição de dez pontos percentuais (de 65% para 55%) e um aumento dos que se declaram sem religião (de 10% para 18%);
e) Outras mudanças notadas neste ano aconteceram no campo político. Cresceu a desilusão com os partidos -a maioria, 57%, declara não ter simpatia por nenhum deles (em 2000, eram 45%)-, houve um aumento dos tucanos (são 18% dos leitores) e uma perda de 21 pontos percentuais dos petistas (caíram de 34% para 13%).
O IVC (Instituto Verificador de Circulação) indica que a circulação média da Folha, hoje, é superior a 300 mil exemplares, a maior do Brasil. Contudo, a circulação média da Folha era de 530 mil exemplares em 1997 e 441 mil em 2000.
Temos algumas pistas sobre a linha editorial?
Os leitores que se declaram tucanos superaram os que se declaram petistas; compõem a elite do país; maioria desiludida com partidos políticos; são mais velhos e oscilam em relação a temas polêmicos. Finalmente: as tiragens de jornais impressos caem de ano a ano, embora a Folha mantenha a liderança nacional.
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