sábado, 28 de dezembro de 2013

Tendências 2014 (meu artigo para a revista Viver Brasil)

A TENDÊNCIA É MAIS DO MESMO

Postado em 27/12/2013 às 22:24


Quem vai decidir as eleições de 2014 é o consumo. Enquanto o brasileiro estiver conseguindo manter seu nível de consumo, ou até melhorando, mesmo havendo sinais evidentes de piora no quadro econômico, ele não deverá buscar mudanças. Esta tendência fica ainda mais consolidada pela ausência de um discurso convincente de oposição. O sociólogo Rudá Ricci (foto) é cético quanto mudanças. A não ser pelo imponderável. Neste artigo ele deixa claro o seu pensamento. *Rudá Ricci *Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, Diretor Geral do Instituto Cultiva. Autor de “Lulismo” (Fundação Astrojildo Pereira/Editora Contraponto), entre outros. O que marca a conjuntura atual é a procura do imponderável. Explico: após a explosão das manifestações de junho, entramos num céu de brigadeiro, com um ou outro leve solavanco provocado pela economia em seu constante sobe e desce. Dilma Rousseff (em parte acompanhada pelos governadores), que teve seus índices de popularidade em forte declínio após os protestos juninos, recupera aceleradamente sua liderança nas intenções de voto dos cidadãos que estarão nas urnas em 2014. O que ocorre, afinal? Por que o cenário brasileiro parece com os passos sincronizados de um bolero praticados num terreno frágil e movediço? O que define a posição da maioria dos eleitores, desde 2006, é o consumo ascendente. Seu voto é pragmático e utilitário. Não há qualquer sinal de fidelização com partidos ou ideologias. A questão é simples: o voto vai para quem garante o nível de consumo familiar, se possível, nos patamares de 2010. Mas, aí, a economia patinou. Não estamos falando das classes médias tradicionais, mas dos que foram incluídos pelo consumo, beneficiados pelos programas de transferência de renda, pelo crédito popular e pelo aumento real do salário mínimo dos últimos dez anos. Eles não querem retornar à condição de quem viveu sob a penúria e discriminação social. Este segmento social, determinante nas eleições dos últimos sete anos, desconfiou que as políticas federais de cunho social se desmanchavam no ar em 2013. A inflação, tendo o tomate na vanguarda, dava sinais de desequilíbrio. O boato do fim do Bolsa Família foi um sinal e gerou o saque de 920 mil contas do programa em três dias. O Brasil já não era tão cor de rosa. As manifestações de junho desmancharam de vez a aparente bonança. Mas, em junho, quem saiu às ruas foram jovens universitários de classe média tradicional. Sua indignação foi acolhida, em grande parte, pelos eleitores mais pobres, aqueles que definem as eleições. Os índices de popularidade de todos governantes despencaram. Dilma à frente. Na verdade, várias pesquisas sobre grau de confiança nas instituições brasileiras já indicavam esta descrença há anos. O Direito da FGV já havia divulgado o impressionante dado que apenas 5% dos brasileiros confiavam nos partidos políticos. O sistema de representação formal do Brasil, enfim, está oco. Mas, se a maioria não crê no sistema de representação, por qual motivo os índices de aprovação da Presidente Dilma foram sendo recuperados a partir de agosto deste ano? O primeiro motivo foi a falta de resultados dos protestos de junho. Milhões saíram às ruas e conquistaram migalhas. Tudo voltou ao Quartel de Abrantes em poucas semanas. O protagonismo político retornou aos políticos profissionais. De um lado, a ausência de respostas gerou violência alimentada pela frustração e raiva que brotou do descaso. De outro, retornou o cinismo do eleitor que pode ser expresso na frase “já que todos são iguais, que fique o que me garante mais estabilidade no consumo”. O segundo fator foi a ausência de oposições convincentes. A despeito do perfil palatável de Marina Silva, sua figura desapareceu durante as manifestações de junho. Ao ingressar no PSB, partido-membro das bases tradicionais do sistema partidário tupiniquim, entrou no jogo e perdeu a aura de outsider. Mas continua com um pé no diferente. O resto do sistema de representação formal ficou como estava. Todos muito parecidos, principalmente na conduta. Aí, as políticas sociais do governo federal e o seu poder de investimentos falaram mais alto. O terceiro fator foi o controle da economia. Não estamos bem neste terreno. Os preços dos serviços e bens públicos estão defasados. Mas tudo indica que esta prestação de contas ocorrerá em 2015. Até lá, o governo federal vai cozinhando o galo em fogo baixo. E não adianta o alerta dos grandes veículos de comunicação sobre as nuvens negras que se avizinham. O eleitor que define eleições é imediatista, justamente porque não confia em nenhum partido. O eleitor de baixa renda não se pauta pelos grandes veículos de comunicação e, desde 2006, se distancia do que denominávamos de “formadores de opinião”. Há claros sinais de divórcio a partir da alforria pelo consumo. As opiniões se formam entre pares de consumo e estrato de renda. E, assim, la nave va. Caminhamos com grande previsibilidade para as eleições de 2014. É verdade que as manifestações de rua durante a Copa do Mundo são uma incógnita. E é por este motivo que comecei este texto afirmando que o que marca a conjuntura é o imponderável. Ficamos a espreita. Sem o imponderável, a conjuntura parece caminhar para mais do mesmo. Até a próxima explosão.